Cuba está aberta para quem quiser realmente conhecê-la. Mas creio que pode ser entendida somente por pessoas que não admitem nenhum tipo de injustiça social.

Li um artigo publicado no correio da cidadania e fiquei vivamente impressionado.
Também partilho com o sonho de que os ideais revolucionários permaneçam e que Cuba continue distribuindo, igualmente, o que os seus trabalhadores produzem. Estive em Cuba agora – no episódio em que Fidel Castro deixou de lado a sua candidatura
à presidência do Conselho de Estado. E por incrível que pareça, a sociedade deu mostras cabais de que está preparada para manter o socialismo e prosseguir aprimorando os processos da revolução cubana.
E isto porque Cuba não é só Fidel, embora ele seja o seu líder máximo e o fundador
de uma nação independente e soberana. Cuba é um país com pouco mais de 11 milhões de habitantes, todos eles cidadãos socialistas --e profundamente revolucionários. Ana, minha mulher, diz mais: são 11 milhôes de  fidéis revolucionários que respondem à questão sobre seu futuro --não aceitando a ingerência de qualquer país.

Confesso que isso me alegrou profundamente. Até porque essa viagem – ao contrário de todas as outras que já fiz por outras terras – foi um divisor de águas. Em Cuba se aprende, concretamente, o significado da palavra solidariedade. Lá eu me senti, pela primeira vez, enredado nos laços que podem unir as pessoas em companheirismo e fraternidade.

Na Feira do Livro, em Havana, tive a oportunidade de conhecer um trabalho de Marília Guimarães, brasileira que esteve exilada de 70 a 80 e que escreveu Nuestros Anos em Cuba. Diz ela que nesta Ilha do Caribe, dividir é a palavra de ordem. Dividir conhecimento, dividir carinho, dividir sorrisos, dividir trabalho, dividir produção, dividir descobrimentos.

Nós sentimos a mesma coisa. O povo cubano desperta sentimentos muito vivos de solidariedade e companheirismo. E reaviva a consciência -- bombardeada cotidianamente pelos meios de comunicação. Um outro tipo de organização social é possível. O igualitarismo não é só uma utopia. A justiça social e os direitos do homem existem. E todos temos que lutar para conquistá-los e ampliá-los.

Postei esta foto, também, para uma amostragem daquilo que o bloqueio americano e a nossa subserviência mental impede-nos de ver.(existem outras fotos de Cuba sob a rubrica Fotos, Viagens). Havana não é só aquele imenso patrimônio arquitetônico (tombado pela UNESCO) e que continua bem deteriorado—embora existam intervenções de restauro em muitos prédios. Havana tem, também, em algumas regiões, esse jeitão dos bairros mais nobres e sofisticados de São Paulo—tipo Jardins. Mas esse tipo de imagem nunca é publicada ou divulgada.

Assim como raramente ficamos sabendo coisas desse tipo: Cuba ocupa a 59ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas(o Brasil ocupa a 69ª); um cubano vive em média 77,6 anos(um norte-americano vive 77,5 anos); 98% dos cubanos tem acesso a saneamento básico(no Brasil só 61%), Cuba é o país que possui o maior número de médicos per capita, 591 por 100 mil habitantes(EUA tem 256, Canadá 214, Japão 198);a taxa de mortalidade infantil em Cuba é duas vezes menor que a de Washington;e um ingresso de cinema custa perto de 5 centavos de real.
 
Além disso, é preciso levar em conta aquilo que o jornalista Sergio Kalili escreveu: “o charme da Revolução cubana não está na vitrine, na beleza das praias, dos hotéis, do restaurado centro histórico de Havana. Para conhecer Cuba é preciso entrar na loja, é preciso entrar nas casas, nas salas de aula, nos postos de saúde, nos hospitais...É preciso olhar para os músculos, a estatura, os rostos e dentes dos cubanos --e não para o que estão vestindo.”

E, para finalizar, a mensagem crítica de um outdoor em que aparecia um automóvel com o capô levantado e um milho sendo colocado no motor com os dizeres: ISTO E O PRIMEIRO MUNDO. OS ALIMENTOS SÃO PARA OS CARROS.