Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
21/12/2008 17h51
DRUMMOND DE ANDRADE: O POETA É UM CORAJOSO DESORGANIZADOR?


Torturado pelo passado, assombrado com o futuro e testemunha lúcida de si mesmo, Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira(1902) e morreu no Rio de Janeiro em agosto de 1987 --poucos dias depois da morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta.
Seu primeiro livro, Alguma Poesia(1930) teve edição de 500 exemplares custeados pelo autor. Em seguida, Sentimento do Mundo(1940) com tiragem de 150 exemplares. Na sequência publica Poesias(1942), Rosa do Povo(1945), Claro Enigma(1951), Fazendeiro do Ar&Poesia até agora(1954), Lição de Coisas(1962), Obra Completa(1964), Boitempo(1968), As Impurezas do Branco(1973), Discurso de Primavera e algumas Sombras(1977, A Paixão Medida(1980), Corpo(1984), Amor se Aprende Amando(1985), O Amor Natural(1992) e Farewel(1996).


"A família é pois uma arrumação de móveis, soma de linhas, volumes, superfícies.
E são portas, chaves, pratos, camas, embrulhos esquecidos, também um corredor, e o espaço entre o armário e a parede onde se deposita certa porção de silêncio, traças e poeira  que de longe em longe se remove...e insiste."

“Quando nasci, um anjo torto, desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.”

“Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução.”

“Eu também já fui brasileiro moreno como vocês. Ponteei viola, guiei forde e aprendi na mesa dos bares que o nacionalismo é uma virtude. Mas há uma hora em que os bares se fecham e todas as virtudes se negam”.

“Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar. Um homem vai devagar.Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar...as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus.”

“Meu verso é minha consolação.Meu verso é a minha cachaça.”

“No elevador penso na roça,na roça penso no elevador.”

“Perdi o bonde e a esperança.”

“Carlos, sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será.”

“Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo.”

“Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público.Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!”

“Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco.”

“Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança.”

“Não serei um poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.”

“Não, meu coração não é maior que o mundo. É muito menor.Nele não cabem nem as minhas dores.”

“Como fugir ao mínimo objeto ou recusar-se ao grande?”

“Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia. A poesia (não tires poesia das coisas) elide sujeito e objeto.”

“As coisas. Que tristes são as coisas consideradas sem ênfase.”

“As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei.”

“O último dia do ano não é o último dia do tempo. Outros dias virão e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida. O último dia do tempo não é o último dia de tudo. Fica sempre uma franja de vida onde se sentam dois homens. Um homem e seu contrário, uma mulher e seu pé, um corpo e sua memória, um olho e seu brilho, uma voz e seu eco, e quem sabe até se Deus...”

“Vamos, não chores...A infância está perdida. A mocidade está perdida. Mas a vida não se perdeu. O primeiro amor passou. O segundo amor passou. O terceiro amor passou. Mas o coração continua.”

“Amor é privilégio de maduros estendidos na mais estreita cama.Amor é o que se aprende no limite. Amor começa tarde.”

“A mão escreveu tanto, e não sabe contar! A boca também não sabe. Os olhos sabem--e calam-se.”

“Sou tão pequeno (sou apenas um homem) e verdadeiramente só conheço minha terra natal, dois ou três bois, o caminho da roça, alguns versos que li há tempos.”

Abaixo, uma relação de links do Youtube onde Drummond é o astro:
http://www.youtube.com/watch?v=CaexXJ6UFnw (ele mesmo dizendo o poema
E agora José?)
http://www.youtube.com/watch?v=PgQalo1T5ZU (ele mesmo falando o poema Mundo)
http://www.youtube.com/watch?v=LBk_emiTUpA (programa especial da Globo em homenagem aos 20 anos de sua morte)


Publicado por Rubens Jardim em 21/12/2008 às 17h51

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