05/02/2009 12h32
COLOCANDO OS PONTOS NOS IS NO CASO JORGE DE LIMA
Há 36 anos , quando publicamos Jorge,80 anos e organizamos o Ano Jorge de Lima, (que teve a colaboração de Luiz Carlos Mattos e Malu de Alencar) nosso objetivo era um só: trazer à tona a obra daquele que foi considerado por Mário de Andrade como um dos casos mais apaixonantes da poesia brasileira. Sem apoios oficiais ou oficiosos, tivemos a sorte de sensibilizar grande parte da mídia e contar com a boa vontade --e até mesmo a colaboração de poetas, críticos e escritores do porte de Drummond, Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia, Raduan Nassar, Álvaro Alves de Faria, Stella Leonardos,entre outros. O INL também aliou-se ao movimento e algumas editoras sentiram-se motivadas em reeditar seus livros. Para se ter uma idéia das dimensões do Ano Jorge de Lima, das suas repercussões e dos seus resultados, basta registrar que Jorge de Lima foi o tema do samba-enredo da Mangueira no desfile de carnaval de 1975. Anos depois, outra escola de samba carioca, a Mocidade Independente, também resolveu homenagear o poeta Jorge de Lima e levou para o sambódromo O Grande Circo Místico. Mais ou menos na mesma época, Chico Buarque e Edu Lobo debruçaram-se sobre esse poema de Jorge de Lima e conceberam o espetáculo de dança mais famoso apresentado no Brasil--além da trilha sonora tão clássica e tão celebrada, comercializada em disco pela Som Livre em 1983. Não bastassem as grandes canções do álbum, seus intérpretes também não poderiam ser mais adequados, indo de Milton Nascimento a Tim Maia, passando por Gilberto Gil, Gal Costa, Zizi Possi, Simone, Jane Duboc --além é claro de Chico e Edu.
A Prefeitura de São Paulo, por sua vez, informou que o nome do poeta passava a figurar na lista para denominação de uma biblioteca. A editora José Aguilar lançou, também em 75, e em convenio com o MEC/INL, as Poesias Completas de Jorge de Lima-- e a preços populares. Outro fato importante : o interesse que a obra do poeta despertou em um grupo de professores norte-americanos. John M.Tolman, da Universidade do Novo México, em Albuquerque, veio ao Brasil em 77 com o objetivo de coletar informações para um ensaio publicado na coleção Twaine World Authors. Dá para se perceber que não haveria espaço suficiente para transcrever ou citar todos os desdobramentos de mais essa iniciativa da Catequese Poética. Ainda assim, é preciso lembrar que o centenário de Jorge de Lima, ocorrido em 1993, não teve a mesma repercussão, nem o mesmo sortilégio. Pouco se fez em favor de sua poesia ou de sua memória. E o pior de tudo: nós, da Catequese, que fomos responsáveis por seu ressurgimento, sequer fomos lembrados ou citados. Mas estamos com a consciência tranquila. Achamos já ter cumprido com o nosso dever. Diante do poeta. Diante da literatura. Diante dos editores e defronte de seus possíveis e impossíveis leitores. E embora ninguém se lembre disso--e talvez ninguém tenha nada a ver com isso-- gastamos dinheiro do nosso bolso, escrevemos dezenas de cartas (naquela época não havia e-mail), mendigamos junto à mídia, fizemos dezenas de releases e telefonemas, viajamos algumas vezes, ficamos angustiados, chateados e felizes outras tantas. Mas tudo isso valeu a pena. A causa era nobre e o poeta-- um dos melhores da nossa língua. Esperamos que com isso Jorge de Lima também possa abrir, para você, as portas da poesia que estão situadas tanto no tempo quanto na eternidade. Publicado por Rubens Jardim em 05/02/2009 às 12h32
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