Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
11/02/2009 21h10
A POESIA E O MARKETING, ENTRELAÇADOS EM RONALD ZOMIGNAN CARVALHO
Antes de ser um homem de marketing, muito respeitado pelos seus pares, Ronald Zomignan Carvalho foi-- e é poeta. Publicou Ao Compasso de Marcha (1965) e Olhar Girassol (1992). E me surpreendeu, muito, quando publicou em 1998 o livro Marketing por Ronald Zomignan Carvalho. E essa surpresa foi causada pelo modo absolutamente diferenciado –e poético – que o Ronald atribui a essa atividade. Segundo suas próprias palavras, dois pontos fundamentais definem a profissão de marketing: entender o outro e respeitar o outro. Assim você vende. Assim você encanta o cliente. Assim você é feliz e faz seu cliente feliz. Isto é marketing. Marketing é ser feliz. E em outro momento ele arremata: Sem ética não existe Marketing. Aliás, sem ética não existe nada.
Não é muito difícil perceber, nessas palavras, o impacto que a poesia teve em sua linguagem --e em seu invejável desempenho profissional. Aliás, é bom destacar aqui um fato: Ronald Zomignan Carvalho foi nosso companheiro no movimento Catequese Poética, iniciado por Lindolf Bell em 1964. Naquela época, participou de diversas reuniões do grupo --e foi presença marcante em uma incontável quantidade de recitais. Lembro-me que um de seus poemas encantava nosso grupo e, quando era lido em nossas apresentações públicas, provocava reações muito positivas. Chamava-se Lar e começava assim: essa rua é minha rua/essa casa e minha casa./ esse é o povo que eu amo/e que traí tanto tempo...
Pois bem: esse velho amigo e companheiro preparou-me nova surpresa. Enviou poema, escrito há uns dois anos atrás, lembrando desses tempos em que nos encontrávamos nos bares da Praça Dom José Gaspar e escrevíamos, escrevíamos. Éramos todos novíssimos. Vamos conferir:
 
Novíssimos
 
Eu preciso encontrar,
Meu velho amigo Rubens Jardim,
O caminho do rio,
Por entre as árvores,
Meandros e becos dos bairros
E das vontades estranhas,
Poetas, burocratas, nós todos
De mãos dadas. Calados. Sonhadores.
 
Precisamos também buscar as lembranças
De Mario, Oswald, Bell, Piva, Carlos Felipe,
Enfim, os malucos todos,
Os reservados, os preteridos, os boquirrotos,
Os esquecidos e os populares.
Por onde correm estes rios?
Quando, de novo, nos encontraremos
Nas escadarias da Biblioteca Municipal,
Ou nos bares da Praça Dom José Gaspar?
 
Eu me sinto mal, Rubens, o coração aperta,
Taquicárdico, e me sinto bem, escrevendo,
Como se fosse o único, inviolável, mentiroso,
Os rios correndo, os cavalões comendo,
Todos os poemas, todas as citações,
Todas as vontades e segredos,
Nossas mulheres, nossas vozes amassadas,
Nossos paletós, sandálias, jeans e camisetas.
Ah! E as galerias, as galerias, que saudades!
 
( O Bell usava umas malhas hering, que ironia!
Grossas, de mangas compridas, ele era tão bonito!)
A rua nos pertencia, então. A gente gritava na Líbero,
Em frente à livraria do Carlos Felipe,
Andando pela Rua São Luís, chorando, cantando.
Éramos muitos, trinta, quarenta, todos tão jovens,
Todos tão bons poetas, todos limpos e arrumados,
Chorando ou sorrindo quando necessário,
Mas escrevendo sempre, escrevendo sempre.
 
É preciso que nos encontremos,
Principalmente os que não morreram,
E que nos banhemos novamente
Nas águas deste rio, apesar de toda a poluição.
Precisamos chorar, Precisamos,
Sei lá o que precisamos.
Acho que, no fundo,
Não precisamos mais nada.
 

Publicado por Rubens Jardim em 11/02/2009 às 21h10

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