Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
15/03/2010 13h00
NÃO IMAGINO MINHA VIDA SEM CHOPIN
Também subscreveria essa afirmação recente de Nelson Freire, sem titubear. Afinal, convivo com a música de Chopin desde a infância. Mas o propósito desse comentário não é mostrar minha familiaridade com os grandes ou pequenos compositores. O objetivo desse artigo é outro: tentar desconstruir os preconceitos que cercam boa parte dos criadores que conseguem a preferência do público.
E Chopin, compositor romântico cujo bicentenário de morte é comemorado neste ano, é um deles. Tchaikovsky é outro. Mas vamos nos ater ao autor das célebres polonaises, das baladas, dos scherzos, dos estudos, dos prelúdios e noturnos.
Pois bem: contrariando significativa parcela da crítica e de estudiosos, o pianista Nelson Freire, considerado um dos melhores da atualidade, disse o seguinte: “O fato é que com sua música tudo soa muito natural, espontâneo, os sons vão direto ao coração das pessoas. Mas para o pianista, as obras exigem um trabalho sem igual, entrega completa e muito tempo de dedicação.”
Outra artista, amiga de Freire, a pianista argentina Martha Argerich, corrobora com as afirmações do brasileiro. E vai mais longe ainda: “Chopin é o compositor mais difícil”
Claro que essas afirmações, vindo de quem vem, estabelecem um novo marco no entendimento do compositor. Eu mesmo fiquei muito feliz com isso, pois já andava saturado das opiniões que buscavam classificar a música de Chopin como música menor, música fácil-- música de salão.
Tudo isso sem esquecer das preconceituosas referências ao seu “sentimentalismo melancólico”, “sua  veemência passional” ou seu “romantismo exagerado”. 
 
É bom lembrar que, de modo geral, o mesmo fenômeno ocorre em outros áreas culturais. Na literatura, por exemplo, são inúmeros os casos. Jorge Amado, escritor que obteve grande sucesso no Brasil e em outros países, acabou sendo fustigado por esse preconceito. Outra vítima das elites acadêmicas foi José Mauro de Vasconcelos, autor de um livro que fez enorme sucesso nos anos 70: Meu Pé de Laranja Lima. Érico Veríssimo também foi inteiramente desprezado pela universidade e pelos intelectuais acadêmicos.  E a mais recente vítima é Paulo Coelho, que ocupa vaga na estante dos autores menores e populares.
Segundo alguns observadores, no Brasil, é a universidade que canoniza, que diz o que "é" e o que "não é" literatura. Mas esses processos de canonização são, na verdade, muito discutíveis. Até porque essas tentativas de invalidação coincidem sempre com autores ou obras que escapam à esfera do gosto e do poder dessas elites complicadas. E ganham, apesar delas e dos contumazes preconceitos, o gosto e a preferência popular. E isso parece ser imperdoável!
 
COMEMORAÇÕES DOS 200 ANOS DE CHOPIN 
 A celebração pelos 200 anos de nascimento do poeta do piano parece não ter limite e envolve todo o globo. Um festival atrás do outro, concertos, missas, mostras artísticas, literatura, uma onda frenética de comemorações que fará de 2010 um ano especial e inesquecível para a música. Já foram anunciadas duas mil celebrações artísticas, mil e duzentas das quais no seu país natal, a Polônia. Muitos outros países também se juntaram a este aniversário, entre os quais Portugal, Brasil, China, Itália, Reino Unido, França, Áustria e Noruega.
Mas foi no primeiro dia de março, em Varsóvia, que a celebração oficial se iniciou com um Concerto de Gala no Stanislaw Moniuszko Auditorium (Teatro Nacional). Até o dia 7 de março, o pianista e maestro Daniel Barenboim, realizou recitais de Chopin em várias cidades da Europa. Também em março, do outro lado do mundo, no coração dos Emirados Árabes, ocorre o “2010 Abu Dhabi Festival”, que este ano celebrará o bicentenário do compositor, numa festa monumental com a participação de nomes como o maestro Krzysztof Penderecki, o pianista Yundi Li, o trompetista Wynton Marsalis, e até a London Symphony Orchestra conduzida por Sir Colin Davis.
Em maio estreia mundialmente o “Ballet Chopin,” coreografado por Patrice Bart para o Polish National Ballet. Em agosto é a vez do “65th Chopin Festival”, a ser realizado na localidade polaca de Duszniki-Zdrój, onde o compositor residiu a maior parte de sua vida criativa. Em outubro ocorre a final da 16ª. edição do “Frederyk Chopin International Piano Competition”. Também em março será reaberto oficialmente em Varsóvia o Fryderyk Chopin Museum, e no mesmo mês ocorrerá em Ontário o “Canadian Chopin Festival” dez dias de festa, música e até um concurso para piano (Third Canadian Chopin Competition).
 

Publicado por Rubens Jardim em 15/03/2010 às 13h00

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