Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
28/03/2010 15h00
PARA VIVER A MODERNIDADE É PRECISO UMA CONSTITUIÇÃO HERÓICA
 
Utilizo essa frase do filósofo e crítico alemão Walter Benjamin (1892-1940) em Charles Baudelaire, um lírico no auge do capitalismo para iniciar esse comentário-desabafo sobre a torrencial cobertura que a mídia impressa, radiofônica, televisiva e internética dedicou ao julgamento do caso Nardoni- Jatobá.
Durante toda a semana passada –e até bem antes disso –esse foi o assunto principal em todos os veículos de comunicação. Claro que a partir daí a repercussão do caso mobilizou a atenção e a sensibilidade das pessoas –e acabou arrastando multidões fascinadas por esse trágico acontecimento.
É óbvio que qualquer outro evento, tratado da mesma maneira, repercutiria de forma bem semelhante. Aliás, é bom não esquecer de outras questões que já foram tema da onipresente indústria do espetáculo. Para citar apenas alguns: o capítulo das diretas-já, a morte do não empossado Tancredo Neves e do piloto Airton Senna.
Em todos esses episódios verificou-se uma coisa só: o poder da mídia em mobilizar a vida social, em pautar os assuntos das famílias e dos trabalhadores.. Sem dúvida, hoje a vida é a soma de instantes fugazes que passam sem deixar marcas significativas. A aceleração do tempo, a impaciência e a produção desenfreada de novidades nos joga em um presente perpétuo cheio de exigências, respostas rápidas e estímulos contínuos.
E como já disse Benjamin, a equivalência entre todas as coisas –a tragédia recebe o mesmo tratamento da comédia -- torna os indivíduos disponíveis para aceitar qualquer coisa que lhes seja apresentada sob a forma de novidade. É o que Guy Debord (1931-1994) também denuncia em seu livro A sociedade do Espetáculo. Simplificando, ele diz que tudo que era vivido diretamente tornou-se uma representação.
Isso quer dizer que  pela mediação das  imagens e mensagens dos meios de comunicação de massa, os indivíduos abdicam da realidade dos acontecimentos da vida--da sua vida pessoal, única e intransferível-- e passam a viver no mundo da vida dos outros. Claro que movido pelas aparências –e há outro jeito de perceber a vida dos outros? --e pelo consumo permanente de fatos, notícias, produtos e mercadorias.
E o que foi o julgamento do caso Nardoni-Jatobá? Mais um espetáculo midiático onde o grande protagonista foi o público que ficou do lado de fora, acompanhando o julgamento como se estivesse participando de um BBB ou de uma novela.
Mas isso não é novidade. O sensacionalismo é prática freqüente da imprensa –e não só do Brasil. É bom não esquecer dos  tablóides ingleses. De qualquer jeito, fica aqui  a minha sugestão: porque a mídia não faz a mesma coisa que fez no caso Nardoni-Jatobá com os nossos vereadores da Câmara e com os nossos deputados da Assembléia? Acho que a audiência seria grande, mobilizaria o público e apresentaria um diferencial: nós poderíamos inibir às ações corruptas e os verdadeiros trens da alegria que colocam os nossos parlamentares--com polpudos salários e mordomias -- em situação de privilégio absurdo. 
   
COMENTÁRIO DO RABE QUE FAÇO QUESTÃO DE PUBLICAR, POIS ASSINO EMBAIXO

 Pois é, meu caro Rubens, se próximo estivéssemos, abraçar-te-ia, tua concisa crônica é precisa! Ah! Se a mídia fosse tão agressiva em explorar a beleza e a cultura humana, quanto explora a estupidez! Ah se a mídia desse destaque em horário nobre ao trabalho beneficente de parteiras nordestinas! Se desse destaque as dores atrozes das mães das periferias que vêem seus filhos e filhas cerceados de diversão, estudo e capacitação profissional! Ah, se a mídia enfatizasse, que o trafico de drogas só existe porque os consumidores destes produtos que destroem, tem o poder aquisitivo necessário para pagar por sua própria destruição, portanto o maior problema não esta na favela e eu o sei; fui morador de favela!... Ah se a mídia, não fosse cultora do ócio mental e da mercantilização da noticia, se não fosse doadora e manipuladora da pseudo-informação de interesse das massas ignaras!... Ah como seria bom que a mídia salientasse nos seus informativos que só com educação, família, compaixão, distribuição de renda, teríamos um mundo melhor de se viver. Ah! Os Nardonis... Que sei eu para dizer deles!... Eu que já estive na sala de uma casa onde a esposa doméstica esfaqueou até a morte o marido Jardineiro e o sepultou no quintal, Ah a mídia! Não, nada informou... Afinal é só uma briga conjugal de favelados mas que normal...
 
 JULGAMENTO DE ASSASSINOS NÃO É FINAL DE CAMPEONATO
 
"Mais uma vez viu-se a montagem de um circo bizarro: famílias "popstar" (vítimas e criminosos), algazarras, fogos de artifício, camisetas "comemorativas"... Tudo como se estivessem vivendo dentro de uma novela de grande audiência, mas se servindo de tragédias reais públicas, todos almejam algum "papel" na trama.
Pode ser que o pai de Isabella tenha mesmo atirado covardemente sua filha pela janela, mas a sociedade em geral, na era do Big Brother", certamente jogou a sua memória no lixo"
(Jorge João Burunzuzian, carta ao painel do leitor da Folha)

OUTRA SUGESTÃO DE PAUTA
"Por que não se dirigem também ao presídio de Presidente Venceslau para protestar contra Marcola, Andinho, Champinha? Elementos que praticaram crimes tão lesivos quanto este --ou mais. É mais fácil se voltar contra esse casal, que há tempos estava popularmente condenado e não oferece ameaça à sociedade"
(Plínio José Barbosa, idem)

NEM OS JORNALISTAS NOTICIAM
"Passou quase despercebido o julgamento do assassinato do jornalista Luiz Carlos Barbon Filho, em Porto Ferreira (SP), cometido por 4 pessoas entre as quais três PMs. Ojornalista foi morto por denunciar esquema de corrupção naPM, que envolvia aliciamento de menores para prostituição, entre outras coisas. E seus próprios colegas de profissão quase não noticiam"  (Márcio Antonio Augelli, idem)

Publicado por Rubens Jardim em 28/03/2010 às 15h00

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