17/11/2010 13h03
desde o AI-5 (13 de dezembro de 1968) ele nunca mais subiu em um palco para cantar
HOMENAGEM AO COMPOSITOR LIBERTÁRIO
GERALDO PEDROSA DE ARAUJO DIAS: O VANDRÉ Ele sempre se interessou por música. Participou de festivais do colégio onde estudava e chegou a apresentar-se no rádio, em um programa de calouros. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1951 e ali conheceu pessoas ligadas ao meio artístico, como o violonista Baden Powell e o pianista Luísinho Eça. Estudante de direito, se ligou ao movimento estudantil, em especial aos Centros Populares de Cultura da UNE. No CPC conheceu Carlos Lyra, que se tornou seu parceiro em músicas como Quem Quiser Encontrar o Amor e Aruanda. Gravou seu primeiro LP em 1964, com as músicas Samba em Prelúdio, Fica Mal com Deus e Menino das Laranjas, entre outras. No ano seguinte, defendeu Sonho de Carnaval, primeira participação de Chico Buarque, no I Festival de MPB da TV Excelsior. Nesse mesmo ano lançou seu segundo disco, Hora de Lutar, com 12 músicas, entre elas a própria Sonho de um Carnaval, Hora de Lutar composta por ele, Aruanda, e Samba de mudar. Em 1966 venceu o Festival Nacional de Música Popular da TV Excelsior com a canção Porta-Estandarte. Lançou o terceiro LP, Cinco Anos de Canção, com músicas que se tornaram célebres como Pequeno soneto que virou canção, Canção nordestina e Rosa e Flor. Compôs, também, Requiém para Matraga para a trilha sonora do filme de Roberto Santos "A hora e a Vez de Augusto Matraga"; Ainda em 1966, dividiu com Chico o prêmio do II Festival de Música Popular Brasileira da TV Record de São Paulo, quando A Banda e Disparada, dividiram a torcida. A Banda ganhou no júri, mas o prêmio foi dividido por imposição do próprio Chico. Anos depois, em setembro de 1968, seria a vez de Vandré sair em defesa de Chico e de Tom Jobim, diante de milhares de pessoas no Maracanãzinho-- jornais da época falam em 30 mil. A maioria queria ver Pra não dizer que não falei das Flores ou Caminhando como vencedora da fase nacional do 3° Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo, e por isso vaiava a decisão do júri, que escolhera Sabiá. “Antônio Carlos Jobim e Chico Buarque de Hollanda merecem o nosso respeito. (...) Pra vocês que continuam pensando que me apóiam vaiando... (...) A vida não se resume em festivais”, disse Vandré, enquanto a multidão acenava com lenços brancos. Seu disco mais engajado aparece, curiosamente, no ano de 1968. Chama-se Canto Geral e reúne dez músicas, algumas desclassificadas em festivais, como De serra, de terra e de mar composta em parceria com Theo de Barros e Hermeto Pascoal. Há também os sucessos Arueira e João e Maria, um frevo em parceria com Hilton Accioli. Pouco tempo depois, em dezembro de 1968, ele sumiu dos palcos, da mídia e do Brasil. Naquele período, Pra não Dizer que não Falei das Flores foi proibida e sua cabeça, posta a prêmio. Sentindo-se ameaçado, Vandré decidiu desaparecer, pois na mesma época, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram presos. No dia em que foi decretado o Ato Institucional 5 (13 de dezembro de 1968), Vandré e o Quarteto Livre (formado por Franklin da Flauta, Geraldo Azevedo, Naná Vasconcelos e Nélson Ângelo), tinham feito show em uma escola em Anápolis. No dia seguinte, 14, iriam se apresentar em Brasília. Ao saber do AI-5, nas primeiras horas do dia 14, voltaram às pressas para São Paulo. Depois de permanecer escondido por amigos,inclusive no sítio de Dona Aracy –já viúva de Guimarães Rosa-- ele fugiu disfarçado e com passaporte falso no carnaval de 1969. Hoje, graças a um duradouro silêncio-- mais de quatro décadas fora dos palcos e da mídia—os boatos sugerem que ele ficou doido, aderiu aos militares, perdeu a memória, está vivendo em depressão profunda, sofre de transtorno bipolar. Mas sua primeira aparição diante do publico, ao completar 75 anos, em 12 de setembro deste ano, não mostrou exatamente isso. Aliás, recusando a um pedido de entrevista, ele escreveu: “Trata-se de uma sociedade para a qual a beleza cumpre função secundária e dispensável. Aqueles que se ocupam da beleza têm, portanto, função secundária e dispensável E concluiu dizendo que "sem beleza não existe o homem feliz”. Quem poderá discordar disso? Relacionei abaixo algumas letras de canções e os links para que você possa assistir aos vídeos. Arueira
http://www.youtube.com/watch?v=EGyb11knYYo&feature=player_embedded#!
Vim de longe, vou mais longe Quem tem fé vai me esperar Escrevendo numa conta Pra junto a gente cobrar No dia que já vem vindo Que esse mundo vai virar Noite e dia vêm de longe Branco e preto a trabalhar E o dono senhor de tudo Sentado, mandando dar. E a gente fazendo conta Pro dia que vai chegar Marinheiro, marinheiro Quero ver você no mar Eu também sou marinheiro Eu também sei governar. Madeira de dar em doido Vai descer até quebrar É a volta do cipó de arueira No lombo de quem mandou dar. Cantiga Brava
O terreiro lá de casa Não se varre com vassoura, Varre com ponta de sabre E bala de metralhadora. Quem é homem vai comigo Quem é mulher fica e chora Tou aqui, quase contente, Mas agora, vou-me embora. Como a noite traz o dia, Com tristeza ou com demora. Terá quem anda comigo, Sua vez e sua hora. O que sou nunca escondi, Vantagem nunca contei, Muita luta já perdi, Muita esperança gastei. Até medo já senti, E não foi pouquinho não. Mas, fugir, nunca fugi, Nunca abandonei meu chão Réquiem para Matraga
Vim aqui só pra dizer Ninguém há de me calar Se alguém tem que morrer Que seja pra melhorar Tanta vida pra viver Tanta vida a se acabar Com tanto pra se fazer Com tanto pra se salvar Você que não me entendeu Não perde por esperar Patria Amada Idolatrada Salve Salve
Pra não te ver jamais Eu, que dos filhos teus Fui te querer demais No verso que hoje chora Pra te fazer capaz Da dor que me devora Quero dizer-te mais Que além de adeus agora Eu te prometo em paz Levar comigo afora O amor demais Amado meu Sempre será Quem me guardou No seu cantar Quem me levou Além do céu Além dos seus E além do mais Amado meu, Que além de mim se dá Não se perdeu E nem se perderá Fica Mal Com Deus
Fica mal com Deus Quem não sabe dar Fica mal comigo Quem não sabe amar (2X) Pelo meu caminho vou Vou como quem vai chegar Quem quiser comigo ir Tem que vir do amor Tem que ter pra dar Fica mal com Deus Quem não sabe dar Fica mal comigo Quem não sabe amar (2X) Vida que não tem valor Homem que não sabe dar Deus que se descuide dele O jeito a gente ajeita Dele se acabar Fica mal com Deus Quem não sabe dar Fica mal comigo Quem não sabe amar ( Pequeno concerto que virou canção
http://www.youtube.com/watch?v=o5eSrvwv53U&feature=player_embeddedNão Não há por que mentir ou esconder A dor que foi maior do que é capaz meu coração Não Nem há por que seguir Cantando só para explicar Não vai nunca entender de amor Quem nunca soube amar. Ah... Eu vou voltar pra mim Seguir sozinho assim Até me consumir Ou consumir Toda essa dor Até sentir de novo O coração Capaz de amor. Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
http://www.youtube.com/watch?v=PDWuwh6edkY&feature=player_embedded
Caminhando e cantando E seguindo a canção Somos todos iguais Braços dados ou não Nas escolas, nas ruas Campos, construções Caminhando e cantando E seguindo a canção... Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer...(2x) Pelos campos há fome Em grandes plantações Pelas ruas marchando Indecisos cordões Ainda fazem da flor Seu mais forte refrão E acreditam nas flores Vencendo o canhão... Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer...(2x) Há soldados armados Amados ou não Quase todos perdidos De armas na mão Nos quartéis lhes ensinam Uma antiga lição: De morrer pela pátria E viver sem razão... Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer...(2x) Nas escolas, nas ruas Campos, construções Somos todos soldados Armados ou não Caminhando e cantando E seguindo a canção Somos todos iguais Braços dados ou não... Os amores na mente As flores no chão A certeza na frente A história na mão Caminhando e cantando E seguindo a canção Aprendendo e ensinando Uma nova lição... Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer...(4x) Aparição inédita de Geraldo Vandré no show onde foi cantada sua música, realizado dia 9 de setembro de 2008, no Lua Nova Arte e Bar, no Bixiga, em São Paulo. Durante a música "Pra não dizer que não falei das flores", Vandré cumprimenta o Sargento Lago.
Publicado por Rubens Jardim em 17/11/2010 às 13h03
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