26/03/2012 20h21
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (18)
ELIZABETH LORENZOTTI, poeta paulistana, jornalista, escritora, fez mestrado em comunicação (USP) e é doutoranda em literatura brasileira. Passou a infância em Poços de Caldas(MG) e voltou pra lá no ano passado. Está iniciando carreira acadêmica. Publicou Suplemento Literário-Que falta Ele Faz!, Tinhorão, o Legendário e o livro de poemas As Dez Mil Coisas(2011). Visita No estranho caminho de Santiago Nas veredas Criado-mudo Declaração Visita
RITA MOREIRA (1944) poeta paulistana, autodidata, estreou muito jovem, com o livro Maria Morta em Mim(1962). Seguiram-se A Hora do Maior Amor (1965) e Perscrutando o Papaia (1999). Recebeu elogios de Menotti del Picchia e Paulo Bonfim. Durante vários anos foi redatora da Abril, morou em Nova Iorque e tornou-se vídeo-documentarista de sucesso..Muito jovem foi letrista parceira de Paulinho Nogueira (Moça da Chuva e Historinha, entre outras). IPSIS A palavra é ainda a mais sublime invenção. Mas tem tanta coisa linda que escapa à nomeação!
HIMALAIAS Mulheres fortes, centradas, essas mulheres maduras eternamente animadas dum fogo que rodopia pra além dos filhos criados, dos romances resolvidos, peagadês concluidos, himalaias escalados...
E esse olhar sem pensamentos, o caminho aberto em frente, com tanta promessa linda de mais himalaia ainda. Energia tão valente que nem sabe o quanto é. Essas mulheres fortes que sabem cair de pé, que sabem fazer os cortes nos momentos mais precisos de repente tão suaves desmanchando-se em sorrisos...
Mulheres firmes, inteiras, que se preocupam com o mundo, bem além dos próprios netos. Que sabem da dor das aves cobertas de óleo nas praias. Da mudança necessária nos hábitos de consumo. Da importância nenhuma dos elogios ou vaias. Da tragédia dos sem-teto, dos problemas de afeto das irmãs e irmãos mais frágeis. Essas mulheres tão ágeis, tão presentes, tão futuras, não se perdem em procuras nem tem temores noturnos. Não tomam Prozac, calmante, não vão no que as mídias ditam. Desprezam intoxicantes – religiosas, meditam.
-- As almas dessas mulheres tão retas e iluminadas, por mãos de que outras mulheres terão sido torneadas?
Sherazade Proibida no edifício a cachorra da velhinha na verdade não existe. Mas em noites mais escuras a senhora, muito triste, fecha os olhinhos cansados e não reza ave-marias como fazem as vizinhas com quem tem pouca amizade. Chama o nome que inventou -- Sherazade, Sherazade! -- e sente nas mãos manchadas amorosas lambidinhas.
MÃE MODERNA Mesmo longe, a viajar, sempre comigo. Pendurados no celular, neo-umbigo.
MÁRCIA MARANHÃO DE CONTI (1957) poeta maranhense, passou um período da infância em Goiânia, residiu em São Paulo e atualmente vive em Goiânia. Estudou piano, é formada em nutrição e em direito. Já participou de antologias e concursos, sendo várias vezes premiada, inclusive no 5° Prêmio Nacional de Poesia - Cidade Ipatinga com o 2° lugar (2007). Teve três poemas selecionados no concurso Poemas no Ônibus e no Trem, promovido pela prefeitura de Porto Alegre. Publicou o livro de poemas Luar nos Porões (piano mudo), em 2011. Enfrentamento Abro a frase devagar Como se abrisse um lenço Que guardasse um segredo mofado.
Leio afastando cada sílaba, Na tentativa inútil De romper todo o sentido.
Depois de ler essa verdade Que tentou se inscrever Num insight de coragem
Acovardo-me. Fecho o lenço... E enxugo meus olhos.
Um poema no ônibus Parece que a cidade passeia, E o pensamento espia a palavra. Há um poema que vagueia, Versos virando paisagem.
Parece que a janela me leva, E o poema levanta os olhos. Não sei se fico ou viajo. Vou nas palavras e volto.
Parece que tudo é passagem. O poema beija meus olhos.
A ninhada A ninhada de palavras Não me deixa dormir. Ser poeta é suportar os peitos Inflamados E deixar a linguagem sugar Até sangrarem os bicos.
Vestígios Meus acasos não povoam Páginas de dicionários. São trilhas que transcendem A leveza dos passeios.
As palavras são rastros Deixados no cimento fresco. Nem que eu falseie os passos, Minto comigo, nos versos.
As palavras são pérolas De um colar que nunca tiro, Criadas nas conchas antigas Dos mares que habitam em mim.
Águas sem caminho I Ao atracar no meu porto, Não me reconheço, E a cidade não existe. Não há quem me busque Ou me convide. E o tempo de espera, Esse não finda. Olho infinitamente pro mar, Que me atrai, mas não me conduz. Não há caminho nas águas. E na verdade não há navio. II À beira do meu mar, Espero o teu navio. Move-se o horizonte No manto das ondas, espumas. No movimento do medo, Deixo um chorinho Tocar os meus olhos. Vultos e velas, barcos distantes. O pensamento suplica o agora. Desisto da longa espera E olho ao redor: Meu continente é de águas, Se o teu navio não volta, Me afogarei, pois não nado. III Eu me afogo em meu próprio oceano. E me encharco deste sal que é meu. A água que eu engulo é que me mata, Levando a lucidez que me perdeu. IV É que a palavra não pode abarcar A extensão deste mar que me invade. Não avisto terra em confins nenhum. Já não me sobra espaço em mim mesma. Quero arranhar o céu para ver se enxergo Luz que me leve à orla da vida. Estou s u b m e r s a Imóvel e patética. Gritar não consigo, Não sei o que grito. E a fala me foge No momento exato. Não há fôlego, vencida no mar. É luta vã salvar O corpo do verso.
CARMEN SILVIA PRESOTTO(1957) poeta de Po rto Alegre, escritora, psicanalista, professora de língua portuguesa e literatura clássica, agitadora cultural e editora. Publicou, dentre outros, Dobras do Tempo (2001) e Encaixes (2006), Postigos (2010) e um grande número de crônicas, photoPoemas, photoCrônicas em espaço que mantém na internet: Vidráguas. É aí que ela divulga outros autores, livros e principalmente poemas. Com um empenho e uma dedicação inquestionáveis. Holografias
Névoas
Pisares
O Amor... O amor é este letreiro
Publicado por Rubens Jardim em 26/03/2012 às 20h21
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