21/09/2013 17h16
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (39ª POSTAGEM)
LILIAN MAIAL , poeta carioca nascida nos anos 60, é médica e escritora. Já teve poemas publicados em diversas antologias. Faz parte do movimento poetrix. Publicou Enfim, renasci (2000) SOMBRA Sou o estranho que mais conheço sem meio sem fim Sou meu recomeço. PAGO PRA VER Caminho sobre navalhas afiadas POEMA ESTÉTICO Preciso urgentemente de um poema estético CONFESSIONÁRIO Teus ruídos indecifráveis, teu despetalar, em versos, germinar esperas, fecundar lençóis.
Tua face de entrega, o dorso contorcido, expectativas.
Teu suor recende a pecado, teus olhos, profanação...
Abre a boca, confessa, eu te absorvo! DENIZIS TRINDADE (19 ) considera-se poeta bissexta, é atriz e já fez cinema, teatro e televisão. Desde os anos 80, Denizis é integrante da Gang (o bando poético-performático que segurava o pornô-poema e hoje se apresenta em eventos especiais) e da Dupla do Prazer. Têm 2 livros publicados, Sessão Cabacinho e Book New Look e o inédito Coisa de Pele. GRITO AO INFINITO Não venham me dizer o que sou, o que sinto, como eu devo viver e o que devo fazer.
Não venham condenar o meu modo de ser, de amar e de me expor. Eu faço o meu caminho.
Não venham me ensinar: eu sei errar sozinha. FIM DE CASO É estranho rever você e não reconhecer mais nada
É estranho tocar em você e não desejar mais nada
É estranho ter sentido tudo e não gozar mais nada
É estranho: muito mais que uma porrada: uma faca nas entranhas
mais nada
DISTÂNCIA eu em casa tu na rua
tu de gala eu tão nua
eu na cama tu na lua
tu em outra eu na tua
ANGEL OF LOVE anjo de olhar penetrante mãos divinas, mãos de amante
anjo de boca sedenta sabor de céu e de sexo
anjo de corpo fremente anjo-demônio-gente
pênis faminto, viril alma e voz de poeta
cara, você me liberta me leva ao desvario
e eu me sinto uma santa no cio
DANIELA DELIAS (1971) poeta gaúcha, é psicóloga e professora universitária. Tem poemas publicados no Livro da Tribo, em revistas literárias e no blog de poesia Do Lado de Cá. Publicou seu primeiro livro de poesia, Boneca Russa em Casa de Silêncios, em 2012. MADEIRA há rumores de que o tempo devastou paredes e cercas
que a película da noite não esconde a palidez das roupas e dos fios
há rumores de que as vidraças não contêm os motores tampouco os silêncios
que a madeira cansada contrai, range, geme estende aflita os seus nós
há rumores de que os pés não pesam mais que as partidas TEAR ela tece com fio lilás as rotas do seu olhar
mas quando ele chega ensaia outras cores inventa moda cobre-se de rendas
ele anseia por suas saias e rende-se às suas teias LABIRINTOS esqueço o guarda-chuva recolho os pratos, as flores gemem de frio as sandálias
tonta, invento labirintos nego as lonjuras da noite transito órbitas improváveis
nas curvas de um ideograma a musa estende o braço, a boca
há um nome dentro do meu nome uma palavra que chamo minha PÉROLAS das coisas breves, o peso de pés atados à pedra que tínhamos aqueles olhos de ir ao fundo existir entre mergulhos, querer pérolas
e como sangrássemos sem ver, permanecíamos eu ancorada ao seu silêncio vestida de distâncias e maresia
das coisas belas, o gozo da palavra a morte anunciada naquele estranho dialeto de corpos e poemas impossíveis:
eu quero morrer de amor, ele dizia seu verso atravessado em minha garganta À BEIRA tudo era quase: corpo, corte, lâmina tudo à beira se não distante tudo era perto de
estranha e bela substância em tela de cores decompostas e dores reviradas
tão bruta longe da palavra tão outra e você me lia
de que delicada matéria é feita a poesia? MARIANA IANELLI(1979) poeta paulistana, é mestre em literatura e crítica literária, e colabora como resenhista em alguns jornais. Publicou: Trajetória de antes (1999), Duas Chagas (2001), Passagens (2003), Fazer Silêncio (2005), Almádena (2007) e Treva Alvorada (2010), O Amor e depois (2012) TREVA ALVORADA Absurda leveza que te faz afundar E não é a morte.
Cumpres tua descida calado (Uma palavra por descuido Seria amputar a verdade).
Náufrago do tempo, Tuas horas transbordam. Dentro da lágrima, Imensidão, já não choras.
Estrelas e estrelas, Copulam a sede e o engenho De que te alimentas Como nunca te alimentou O gosto da carne.
Tua face atónita Se existisse uma face, Tuas costas nuas, Se a nudez fosse do corpo.
Um sorvedouro Onde a paz dos contrários, Treva alvorada.
Fecundado, flutuas. É a lei da graça. O AMOR E DEPOIS Era esperado que aos poucos Definhasse, fosse desaparecendo Naturalmente levado pelo sono. Era suposto que por abandono Morresse –
E não teria o vento nenhum sentido De ventura, seria apenas A passagem de uma hora branca, Entre outras tantas, Para um coração manso Que já nada espera nem recorda –
Como se o tempo não devorasse Também o desconsolo, E dele fizesse exsudar um leve perfume, Como se não arrastasse Cada corpo uma penumbra, Como se fosse possível Em vida a paz dos mortos. PIETÁ Por delicadeza Devia cada um resolver seu vestígio, Não deixar o corpo a esmo, Atravessado na passagem, Sem desejo, sem enigma.
Mas se me fica o teu corpo Eu te arrepanho nos braços Com a maternidade do ofício E lavo os teus ombros De quanto pesou sobre eles, O teu sexo, que a nenhum afago responde, Lavo os teus pés, o ato mais santo.
Eu te arremato, eu te limpo da vida, Faço com que desapareças, Que o teu equívoco me abasteça Da razão dos humildes.
Fardo ensoalhado, esse, De amparar o meu próprio destino O ENCONTRO Dá-me um acontecimento E eu nada direi sobre isso. O crime perfeito Será meu segredo Fechado por dentro Em silêncio Como um vício. Face à justiça dos homens Há de me salvar A vida rotineira Entre mil outras tão parecidas. Irei mansamente, Azul sobre azul, Sem que desconfiem. (Quase diurna, eu diria, Não me turvasse o delírio.) E no passeio dos lobos, Teu sangue meu sangue, Para o chão Águas e limites. Repleta do terceiro corpo, Em asa de luz Nada direi sobre isso. De línguas mortas E um tempo morto Farei caixa de guardar Minha fé ilícita.
Publicado por Rubens Jardim em 21/09/2013 às 17h16
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