Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
19/11/2018 14h05
IMPORTANTE RELATO DE UM MÉDICO BRASILEIRO SOBRE OS MÉDICOS CUBANOS.

MAIS BOLA FORA -- Dois meses antes da posse, o novo presidente continua causando danos com suas declarações intempestivas.Já provocou reações diplomáticas e de comércio exterior mexendo com a China, cutucando o Mercosul e imitando o Trump na escolha de Jerusalem como capital israelita. Agora, graças as suas novas declarações, consideradas "ameaçadoras e depreciativas", governo cubano anunciou decisão de retirar do Brasil mais de 8 mil profissionais que atuam no programa. E Ministério da Saúde lançará edital para ocupar vagas deixadas por cubanos no Mais Médicos. Vamos ver se a elitizinha médica que só pensa em ganhar dinheiro vai preencher essas vagas. DETALHE: o Mais Médicos sempre foi aberto PRIMEIRAMENTE a médicos BRASILEIROS.

Relato do Dr. Passos:

"Alguns esclarecimentos, vindos daqui, de quem trabalhou e supervisionou aproximadamente 20 médicos cubanos desde 2015, no Vale do Javari (alto Solimões), no alto rio negro e em Roraima... Atendendo aldeias indígenas (Marubo, Mati, Kanamari, Baré, Baniwa, Tucano, Hupda, ingaricó, wapixana, yanomami, macuxi... só pra citar algumas etnias) que antes não contavam com médico:

1. Nenhum médico foi obrigado a vir. Todos estavam muito contentes em servir, numa missão internacionalista, levando saúde aos povos. Inclusive, os médicos do qual fui professor em Cuba (módulos de preparação antes de virem ao Brasil, sobre SUS, epidemiologia brasileira, enfim...), Constantemente me procuravam no Facebook querendo saber se eu sabia quando que o governo brasileiro iria chamar a próxima leva de médicos. Ficavam realmente ansiosos para vir. Viam como uma grande oportunidade profissional e financeira.

2. 3 mil reais por mês no contexto cubano é muito dinheiro (1 kg de arroz em Cuba custa o equivalente a 0,08 reais, sim, 8 centavos). Além disso recebiam auxílio moradia e alimentação dos municípios os distritos indígenas...

3. O restante do dinheiro pago pelo governo brasileiro ia para cuba, investido na formação de mais médicos que são enviados para missões no mundo todo (é o país que mais exporta médicos no mundo - alguns países exportam armas, outro nióbio, outros médicos...). Esse dinheiro é investido em saúde e educação de qualidade, grátis. Lembrando que a maioria dos países que recebem médicos cubanos, recebem sem custo. Quem paga é o governo cubano. Esse foi o caso no Haiti, no Congo, no Nepal, Angola e Paquistão...

4. Esses médicos ficavam 3 anos trabalhando nas aldeias. Vínculo e longitudinalidade recordes. Eu que sou um médico que curte estar no mato, dormindo em rede, sem wi-fi, não fiquei mais que um ano como médico de área indígena. Quis voltar a Floripa, pelos meus hábitos e maneiras.

5. Esses dias agora nas aldeias indígenas na terra indígena raposa da serra do Sol. Vi médicos cubanos chorando pelo fim do programa. Vi equipes de saúde emocionadas por nunca antes terem trabalhado com um médico tão compromissado e humilde. Vi médicos chorando de tristeza pelo povo que atendiam.

Eu vi e vivi isso. Estava ontem em área indígena com um médico cubano, quase fronteira com Guiana quando recebemos a noticia do rompimento de Cuba. Lamentamos, choramos juntos. Eu estava sentado e cabisbaixo. Quando o médico cubano, Miguel, toca meu ombro, sorri, e diz: "ei, doutor, vamos lá colega, não desanima, tem uma paciente gestante esperando, há trabalho agora. Levanta."

Então: vontade de mandar tomar no monossílabo quem diz que eram escravos. Quem vem com cinismo classista e coorporarivista, falar do alto da distância e da indiferença, da ignorância das realidades dos rincões desse país, desse povo e das nações indígenas."


Publicado por Rubens Jardim em 19/11/2018 às 14h05

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