Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
09/04/2010 11h54
TV Cultura: Entrelinhas destaca a obra de Rilke
Neste domingo, às 21:30, o Entrelinhas destaca a obra de um dos maiores poetas da língua alemã: Rainer Maria Rilke. Um dos grandes nomes da literatura universal, assim como Kafka, ele nasceu em Praga, na atual República Tcheca, mas escrevia em alemão. Apresentado por Paula Picarelli, o programa vai ao ar na TV Cultura.  
Rilke
tem uma extensa obra poética que capturou a imaginação de músicos, filósofos, artistas, escritores e amantes da poesia. E estendeu o alcance da poesia a pessoas raramente interessadas nisso. Marlene Dietrich, Martin Heidegger e Warren Zevon , por exemplo, recitavam de cor poemas de Rilke. Essa capacidade de tocar pessoas tão diferentes como se cada palavra tivesse sido escrita só para elas, confere à sua poesia a força que ela tem ao permanecer e ao entrelaçar o cotidiano e o transcendente.
Aos 20 anos Rilke já tinha publicado dois livros de poesia, editado um jornal literário e se apaixonado perdidamente por Paul Valéry. Aos 22 anos conheceu Lou Andreas-Salomé, escritora e amiga de Nietzsche e Freud, e com ela viajou pela Rússia, época em que conheceu Tolstoi. Lou e Rilke tiveram um relação amorosa belíssima e inacreditável.E ela o ajudou muito, inclusive a  mudar seu nome de René para Rainer. Mantiveram uma correspondência fantástica que só terminou com a morte do poeta e está no livro Correspondência Amorosa com Lou Andreas SaloméRilke publicou poemas nos livros Vidas e Canções(1894), Histórias do Bom Deus(1900), O Livro das Horas(1905), Novos Poemas(1908), Sonetos a Orfeu(1923) e Elegias de Duino(1923). Os dois últimos são considerados os melhores trabalhos do poeta. E as Elegias, traduzidas para o português pela inesquecível poeta  Dora Ferreira da Silva, é um marco na tradução --ou na transcriação. Em prosa, suas obras mais conhecidas são Os cadernos de Malte Laurids Brigge e Cartas a um Jovem Poeta --livros também imperdíveis. Mas ele foi prodigioso, também, como epistológrafo, e em sua correspondência, espantosamente vasta, Rilke produz reflexões contundentes e acessíveis sobre um amplo espectro de tópicos. Casou-se com a escultora alemã Clara Westhoff, tiveram uma filha, Ruth, e viveram um ano com pouquíssimo dinheiro numa casa rústica de fazenda. Inquieto e sempre insatisfeito, abandonou a jovem família e mudou-se para Paris, onde arranjou uma posição como secretário particular do célebre escultor Auguste Rodin.
A obra de Rilke  vem sendo relançada no Brasil. Uma das  mais conhecidas é Cartas a um Jovem Poeta uma meditação sobre o ofício do escritor--encontradas até em bancas de jornal. O programa Entrelinhas, que vai ao ar este domingo, conversou com o tradutor e professor de literatura Tércio Redondo e com o ator Ivo Müller, que está em cartaz em São Paulo com a peça que leva o mesmo nome da obra do poeta. 
  
O que vocês vão ler aqui são alguns textos retirados de diferentes poemas e de escritos em prosa, que já sinalizam para uma rara dimensão poética. Que, por essa exclusiva razão, exerceu expressiva influência em escritores e poetas .Vamos lá:

“É possível que, apesar do progresso, da cultura, da religião e da sabedoria universais, tenhamos permanecido na superfície da vida? E que mesmo essa superfície esteja recoberta de um tecido tão incrivelmente monótono que nos pareça móveis de sala numas férias de verão? Sim, é possível. É possível que toda a história da humanidade tenha sido um mal entendido?”
“Depois da primeira pátria,como parece a segunda incerta e sem abrigo!”
“Quem nos desviou assim, para que tivéssemos um ar de despedida em tudo o que fazemos?”
“Oh não porque a felicidade exista, essa prematura dádiva de uma perda iminente.”
“Estamos aqui para dizer as coisas como elas mesmas jamais pensaram em ser intimamente.”
“Oh! estar morto um dia e conhecer infinitamente todas as estrelas! Pois como esquecê-las, como?”
“Não acredites que o destino seja mais do que a infância e o que ela contém.”
“Ai, quem nos poderia valer? Nem anjos, nem homens e o intuitivo animal logo adverte que para nós não há amparo neste mundo definido.”
“Quem desconhece a angustiosa espera diante do palco sombrio do próprio coração?”
“E em torno desse centro, a rosa do contemplar floresce e desfolha.”
“Não amamos como as flores, depois de uma estação; circula em nossos braços, quando amamos, a seiva imemorial.”
“Não é tempo daqueles que amam libertar-se do objeto amado e superá-lo
frementes? Assim a flecha ultrapassa a corda, para ser no vôo mais do
que ela mesma. Pois em parte alguma se detém.”
“Sim, as primaverasprecisavam de ti. Muitas estrelas queriam ser percebidas.
Do passado profundo afluía uma vaga, ou quando passavas sob uma janela aberta, uma viola d’amore se abandonava.”
“Faz-se cada vez mais raro o desejo de ter uma morte particular. Mais um pouco, e será tão raro quanto ter uma vida particular. Meu Deus: tudo isso está aí. A gente chega, encontra a vida pronta, basta vesti-la.”
“Também não quero mais escrever cartas. Para que diria a outra pessoa que estou me modificando? Se me modifico, já não sou aquele que fui, sou algo diferente do que até agora era, então é evidente que não tenho conhecidos. E é impossível escrever cartas para gente desconhecida.”
“Versos não são, como as pessoas imaginam, sentimentos --são experiências. E por causa de um verso é preciso ver muitas cidades, pessoas e coisas, é
preciso conhecer bichos, é preciso sentir como voam os pássaros, e saber com que gestos flores diminutas se abrem ao amanhecer.”
“Nunca te vi, que não tivesse o desejo de te rezar. Nunca te ouvi, que não tivesse o desejo de acreditar em ti. Nunca te esperei, sem o desejo de sofrer por ti. Nunca te desejei, sem ter também o direito de me ajoelhar à tua frente.”
“Não quero visitar países que os teus sonhos não tenham percorrido, nem habitar cabanas, que não tenham abrigado o teu repouso.”
“Se uma só vez tivesses visto como o destino entra nos versos e não regressa.”
“Guarda-te melhor, guarda-te caminhante do caminho que também caminha.”
“Lembrar aqui não é o bastante, o puro existir daqueles momentos tem de estar no fundo de mim.”
“De quem estamos próximos? Da morte ou daquilo que ainda não é ?”

Se você gostou destes trechos da escrita rilkeana e quer conhecer mais de perto o poeta das Elegias de Duino, vá até o Youtube e assista a leitura de uma das Elegias. O vídeo foi feito nas proximidades do Castelo de Duino. E quem faz a leitura é o poeta Rubens Jardim.
Eis o endereço:
http://br.youtube.com/watch?v=nFqH1r3F57c 



Publicado por Rubens Jardim em 09/04/2010 às 11h54

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