Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
12/06/2010 19h34
No lançamento de meu livro,Cantares da Paixão, eu, Zuleika, Eunice Arruda, Massao e Álvaro Alves de Faria
MORREU O MAIS IMPORTANTE EDITOR DE POESIA DO BRASIL

Músicos, poetas, pintores, artistas, no geral e no particular, insurgi-vos! O mundo não é apenas um vasto circo de variedades, de consumo frenético. Viver é um ato prodigioso, uma dádiva a ser desfrutada, segundo a segundo, até a finitude." (Massao Ohno (1936-2010) ´

Todos nós –ex-jovens poetas dos anos 60 –estamos de luto. Morreu na madrugada de sexta para sábado, de câncer do pulmão, aos 74 anos, Massao Ohno, o editor de poesia, responsável pelo aparecimento de uma porção de autores desconhecidos, que ocupam hoje, lugar de destaque dentro da poesia contemporânea do Brasil.
Nomes como Lindolf Bell , Álvaro Alves de Faria, Paulo Marcos del Greco, Roberto Piva, Claudio Willer, Renata Pallottini, Carlos Felipe Moisés, Eduardo Alves da Costa, Hilda Hilst, Celso Luiz Paulini, Carlos Vogt e muitos outros não existiriam sem a colaboração e a paixão deste guru-zen, chamado também de editor da esperança.
Sem Massao Ohno a poesia novíssima não se teria editado, como não teria vindo à luz, pode-se dizer, grande parte da produção inicial dos jovens poetas de São Paulo nos últimos 30 anos", afirma o poeta Antonio Fernando De Franceschi.
Trabalhador do invisível, luminoso nissei, esbelto que, nas horas vagas, seduzia as poetas da nossa juven­tude, bebedor de uísque e filósofo oriental, escreve Renata Pallottini.
 Para Carlos Vogt, é talvez o maior editor desorganizado que melhor contribuiu para orga­nizar a poesia brasileira jovem durante pelo menos três décadas”.
E até o grande amante dos livros, José Mindlin assina e dá fé, com sua experiência de empresário:ele terá sido um dos poucos que, ao decidir uma edição, não levava em conta se ela seria vendável ou não. (…) Sua obra editorial, no entanto, permanecerá”.
E o poeta Cláudio Willer diz mesmo, até hoje: Não sei como teria saído o meu livro Anotações para o apocalipse, em 1964, se não fosse a iniciativa dele.
Já o poeta Álvaro Alves de Faria acha que só é possível falar de Massao na linguagem da poesia: é um poeta dos livros, um monge que dedi­cou sua vida a isto. Publicou a Antologia dos novíssimos, em 1960, na velha prensa da rua Vergueiro. Ele está aí nesse meio como um Dom Quixote a combater a miséria de um tempo feito quase só de angús­tias.
Infelizmente não há um catálogo de tudo que ele editou, algo que já se faz necessário para que as novas gerações saibam quantos novos autores foram editados por esse construtor que, se não construiu catedrais, deixou ao menos inúmeros castelos, diz outro editor, Plinio Martins Filho.
Apreciador de Jorge de Lima, João Cabral e Cecília Meirelles cultivou também os espanhóis do chamado século de ouro (passagem do XVI para o XVII), dominado por nomes como Cervantes, Lope de Vega e Góngora. Foi ouvinte devoto de Mo­zart, Bach e Beethoven, além de jazz, que é o supra-sumo da criação. Por isso sabia do que estava falando quando exigia rigor dos seus edita­dos, orientando-os no sentido de melhorar os textos. “Alguns deixei quase perfeitos”, orgulha-se.
Casado cin­co vezes, teve quatro filhos e sete netos. Militou na AP (Ação Popular), mais no plano das idéias do que no prático, foi mui­to vigiado-- mas não chegou a ser preso. Massao começou editando apostilas e livros didáticos em meados dos anos 50. Mas logo descobriu que a sua vocação era outra: editar poesia –e com grande apuro gráfico. Para isso convocou os amigos, Manabu Mabe, Ciro del Nero e Tide Hellmeister que logo passaram a colaborar nos projetos gráficos dos livros. Também foi coprodutor de filmes como O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla.

“Gostaria de deixar bem claro que minha atividade é maravilhosa e faria tudo de novo”, Acredi­ta: alguma coisa deve restar de tudo isso.

Recebi da amiga jornalista, Jezebel Salem, uma mensagem que expressa fielmente esse sentimento de angústia .Transcrevo porque ela conseguiu uma expressão legítima, adequada, bela e justa. Vai literal:  Obrigada Rubão pela homenagem merecida ao querido Massao Ohno.Só fico triste porque é um a menos. Estamos ficando cada vez mais sós e minguados, mas, talvez, reduzidos às "letras poéticas", que afinal foi o sumo e a razão que moveu o Massao, e move a todos nós, seus companheiros de espanto, perplexidades e idiossincrasias e deslumbramentos... É disso que é feito esse inspirar e expirar chamado vida. Obrigada de novo Rubens, pela dedicada homenagem e ainda nos dar espaço para nossas saudades e outras breves poeiras...ou palavras. E o que mais poderiamos fazer?

Publicado por Rubens Jardim em 12/06/2010 às 19h34

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