Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
25/12/2010 15h17
POETA, DIPLOMATA E CAPITÃO DO MATO

"Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural.  Foi o único de nós que teve a vida de poeta. Eu queria ter sido Vinicius de Moraes"
. Com essas palavras, sem disfarçar sua imensa admiração pelo amigo, Carlos Drummond de Andrade ressaltou o aspecto mais ousado e controvertido de Vinicius. Um poeta que surge nos anos 30 tratando das questões mais complicadas do ser humano: o mistério, a paixão e a morte.

Segundo José Castelo, seu biógrafo, Vinicius foi um homem que viveu para se ultrapassar e para se desmentir. Para se entregar totalmente e fugir, depois, em definitivo. Para jogar, enfim, com as ilusões e com a credulidade, por saber que a vida nada mais é que uma forma encarnada de ficção. Foi, antes de tudo, um apaixonado — e a paixão, sabemos desde os gregos, é o terreno do indomável.

POEMA DE NATAL
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.



Publicado por Rubens Jardim em 25/12/2010 às 15h17

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