Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
28/12/2011 18h00
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (13)

NEUZZA PINHEIRO (1949) poeta paranaense, é cantora, compositora, integrou a banda Isca de Polícia, de Itamar Assumpção, e interpretou músicas de Arrigo Barnabé em festivais de televisão. Participou das antologias Outras Praias / Others Shores (1998) e 12 - Antologia de Poetas Londrinenses (2000). Publicou Pele &Osso,em 2011, vencedor do Primeiro Prêmio Nacional de Literatura poeta Lúcio Lins(jan/2008). Mereceu apreciação elogiosa de Augusto de Campos.

O poema não pede
não implora
vem comendo pelas bordas
esfolando a flor da pele
bebendo sangue de aurora

..............................................

O poema era um mutante
foi de estralo a estrela
de estrela
a instante

..............................................

Quando caio em mim

Caio tão

f

u

n

d

o

que nem dou

por mim

..................................

Te digo

Ao pé do olvido

Escuta bem
não esquece

Mulheres desmonalisam

Mesmo a golpes de mestre

...................................................

na tarde

a árvore

 

silêncio de aeronave

...................................

neste pin

go que os

cila

entre

a torneira

e a

pia

um

breve

exer

cicio

de

melancolia

 

ANGÉLICA TORRES (1952) poeta goiana, jornalista, escritora e editora. Trabalhou em vários jornais como repórter de cultura. Fez pós-graduação em edição de publicações e livros, em Madison, Wisconsin (EUA), em 1988. Publicou Sindicato de Estudantes (1986,Prêmio Mário Quintana de Poesia, do Sindicato dos Escritores de Brasília), Solares (1988), Paleolírica (1999), O Poema quer ser Útil (2006) e Luzidianas(2010)

 

Tomara que caia

um haikai

na sua saia

 

MEU CERRADO

 

Encho os olhos

de paisagens

do cerrado

 

Um espírito rendado

emana da floresta

de ikebanas goianas

 

A claridade rasgada

o plano exato:

geografia instantânea

 

O CAMINHO DA NOITE

 

Entregue a meus sonhos despertos

o mundo nega-se a partir comigo

ensurdecido no silêncio da noite.

 

É toda feita de palavra

a espiral em que me movo.

Quebrarei o seu segredo.

Saltarei da última torre.

 

DESCONFIE

 

Não vás crer

tanto assim

num poeta

 

Vê a cota

ilusionista

que contém

o que ele conta

 

Ele é sempre

personagem

forasteiro

 

Experto

em camuflagem.

Um cigano

faz-de-conta.

 

JOSELY VIANNA BAPTISTA (1957) Poeta curitibana formada em letras hispânicas, com especialização em semiótica. Publicou os livros de poesia Ar (1991), Corpografia (1992) e Outro (poema experimental em co-autoria com Arnaldo Antunes). Traduziu Cortázar, Carpentier, Cabrera Infante e Lezama Lima, entre outros. Participou de antologias editadas no México, Peru, Argentina, Estados Unidos, Cuba, França, Paraguai, Colômbia, Espanha e Austrália.

 

R E F R A C T A

para vera e Milton

o segredo

do

a b r a ç o

e s t á

n a

g r aç a

d e

q u e m

f a z

o

a g r a d o

 

á g u a

r e c o r t a n d o

o  n a d o

d e

u m

p e i x e

s e m

d e i x ar

r a s t r o

 

ONDE O CÉU
ENCONTRA A TERRA

 

o breu devore à noite
o próprio rasto;
no solo ocre, de rojo,
o escuro escureça,
noite tão noite
que se dobre em dia

os charcos zoem
outra vez insetos;
virem os regos
de lodo
em que chafurdo
– com o sol –
pó púrpuro,
ou longos rolos
que o vento
eleva e enovela

a prumo o solo fusque
a si mesmo,
e a tarde entardeça
num crepúsculo

bojo de sombras,
lusco-fusco de névoas
(frutos apodrecendo
na gamela)

 

I N F I N I T S

                                                        para nietzsche

 

e n t r e b é t u l a s e n a d a s , n a d a s

e m a d r u g a d a s , b e a t s , f a d a s , f

u g a s , á r i a s , e n t r e g é l i d a s p

é t a l a s d e n e v e , l e v e s c r i s t a

i s l i m a n d o n i c h t s d e f u m a ç a

, e n t r e p i c o s e a b i s m o s , b é t

u l a s e n a d a s , l á , o n d e o a r

f a l t a : a l i s u a f a l h a l i m a l h a

, p o l i n d o t u d o e u m i s s o : n o c

r e p ú s c u l o d o s í d o l o s , d i v i n o

s i d o s ( a n d a r i l h o e n t r e v e r d

a d e s e m e n t i r a s ) , à p r o c u r a

d a f l o r q u e b r o t a , r a r a n a r

o c h a , e n t r e n e i n s e p i s t i l o s

, a u r o r a , p e d r a l a s c a d a : n a a

l t a e n g a d i n a v a l q u í r i a s c a v

a l g a m l u a s q u e a i n d a u i v a m

p a r a l o u s , e o v i s i o n á r i o , n

o l i m i a r , p a r i n d o c e n t a u r o s

RITA ALVES (1966) é paulistana, historiadora, ensaísta, crítica de arte e literatura --e poeta. Recebeu em 2010 o prêmio Literatura da Comunidade África Brasil pela publicação do seu livro de poemas Tela de Letras. Na introdução, Rita adverte preferir as palavras brutas, as palavras sem lapidação.Textualmente, confessa: “Procuro palavras que completem os veios de esmeralda sob a profundidade do ser”.

AS PALAVRAS

Entre o pensamento e a palavra
Entre palavra e o sentimento
Há um enorme espaço deserto
Plátano, oásis, miragem

Até que a mão chegue ao caderno
Para libertar as palavras
Agarradas ao tinteiro
Leva uma vida e o mundo inteiro

Paridas e ainda molhadas
Não se reconhecem nos pais
Tomam formas inesperadas
Em desespero se agitam

Presas às folhas, condenadas
A serem postas à prova
Pelos olhos de quem as lê,
Não dizem o que são

São o que se vê.

POEMA PARA QUEM PARTE

Procuro em meu deserto suprimentos básicos de sobrevivência.

Poemas bons, que saiam pulando dos livros que me cercam,

palavras doces que se calam sem sentença.

Amanheço e anoiteço indiferente ao tempo

que me empurra ao descontentamento.

Enquanto leio, ouço a música dos ventos,

(Orquestra desarmônica dos meus pensamentos).

Recuso ofertas de aprisionamento

Aceito emblemas de mistério em vôos ligeiros

Seguindo um caminho que é só certo o que passou

Partidas que ficaram em mim quase por inteiro

Nomes, lembranças, sorrisos e questionamentos

Vou seguindo a sombra das estrelas

Aguardando a lua cheia refletir minhas tempestuosas letras.

 

POEMA PARA QUEM FICA

Entre as cortinas você verá a cidade

As luzes noturnas da circunferência de São Paulo

Sabe pisar a areia?

Conhece o caminho desigual do deserto em que vivo?

Abra a porta dos armários

Cairão livros aos seus pés.

Você, que tem a coragem de ficar comigo

Abrace meus olhos antes que anoiteça.

A manhã embaça o mapa do caminho

Apaga com suor as lembranças do destino.

Você que tem a certeza de que pode permanecer

Estabeleça sua morada, que o dia virá em festa

Carinho, conversa, vinho, beijos

Confusas tramas que se curvam à luz da lua.

A CASA, AS ROSAS

Arranquem as roseiras e plantem daninhas
Substituam abelhas e borboletas
por cigarras e formigas
E nas paredes da casa

Só palavras:

As mais sonoras

E independentes.

 


Publicado por Rubens Jardim em 28/12/2011 às 18h00

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