10/07/2012 10h47
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA(23)
LOURDES TEODORO (1946) nascida em Formosa, Goiás, reside em Brasília desde 1959. Escreve e publica desde a adolescência e já foi Incluída em antologias poéticas no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos. É doutora em Literatura Comparada pela Universidade de Paris, Sorbonne, e autora de quatro livros de poemas: Água Marinha ou Tempo Sem Palavra(1978) e Canções do Mais Belo Pecado(1996) são dois deles. à sombra dos embondeiros do recife V toma da máscara a forma exata, veste tua real aparência, medita. deixa cair a suposta essência, sê trigo e coquelicot: aceita a passagem gratuita da brisa dorme, que sonharei contigo.
à sombra dos embondeiros do recife VI carta sem destinatário. não sou trezentos, tampouco tenho em mim todos os sonhos do mundo; custa-me ajeitar os ombros, com todo esse peso das mãos de uma criança, querendo eternamente ser em mim. dancei na praça: os meninos de rua soltaram o corpo comigo, súbito, sem loló ou crack, viraram folha, docemente ao vento!
paisagem litorânea
os arranha-céus subiram aos morros, para ver o mar e os negros mudaram-se para a avenida Copacabana. as usinas e as fábricas lançaram-se dos penhascos, a ponte se dissolveu na bruma e jangadas povoaram a baía, inocentemente.
O corpo, o nada. a joão cabral de melo neto. o segredo do tempo - a pedra - a coragem do tempo - a pedra - a riqueza do tempo -a pedra - a frieza do tempo - a pedra - a erupção do tempo - a pedra - a construção do tempo - a pedra - o silêncio do corpo - a pedra - o peso sobre o nada - a pedra.
ARRIETE VILELA(1949) poeta, cronista e contista alagoana. Professora aposentada da Universidade Federal de Alagoas, onde trabalhou com a autoria feminina na Literatura Brasileira, foi eleita para a Academia Alagoana de Letras em 1996. Sua obra recebeu inúmeros prêmios, pela importância de sua obra, como o da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, em 2002. NÃO DEVIAS
POEMA 25 O Poema não devia esfolar a Palavra que há dentro de mim, pois se destrançam, assim, os fios de sisal que prendem memória e realidade.
O Poema devia aliviar essa fascinante e atormentada relação com o que sou, com o que não sou, numa dualidade quase fluida, quase erótica.
O Poema não devia deserdar-me do sonho comum, das pessoas com seus olhos de isca e de fastio.
O Poema devia esvaziar-me da Palavra e de suas resistências, para que eu seja apenas devaneio à-toa.
POEMA 1
POEMA 2 XENIA ANTUNES(1949) nascida no Rio de Janeiro, a poeta mora em Brasília desde os anos 60. Escreve poesias, contos, crônicas e artigos. Tem dois livros publicados: Parto Normal e Exercícios de Amor e de Ódio (1980). É também artista plástica e fotógrafa. Integrou a chamada geração do mimeógrafo e participou de inúmeras antologias.Segundo o poeta e crítico Antonio Miranda,o poema Maria dos Prazeres é um clássico da cultura de Brasília.
A respeito do enjôo matinal nada a fazer. Decididamente, café e pasta de dentes nunca tiveram nada a ver entre si. Mas pior é o espelhinho aquele que fica logo acima da pia do banheiro esse agente da CIA incorporado à náusea cotidiana. Não se vê nele nada além da fotografia que ilustra a cédula de identidade. E ele te cospe crimes, antecedentes criminais e ainda te diz a idade do criminoso.
É preciso que vistas um vestido amarelo, ordenes teus pelos e batas a porta, rápida, atrás.
MARIA A DOS PRAZERES Cada vez que me possuem cada vez fico mais pura mais casta mais virgem
Cada vez que fico nua cada vez sou mais louvada beijada aleluia
Cada vez que eu me entrego cada vez eu sou mais santa mais salve rainha
Cada vez que estou parindo cada vez sou mais mater mais ave maria.
MÃOS São mãos nos meus cabelos, nos meus olhos, na minha boca são mãos treinadas em percorrer a carne viva mãos que procuram a parte escondida são mãos acostumadas, salientes, que me desenham flores no corpo todo que me ativam a glândula são mãos que mentem o gesto escondem de mim o resto e, depois das mãos os pés acima de tudo.
Ai, estão me machucando!
EXERCÍCIO DE ÓDIO é porta de igreja é só pra olhar põe o dedo na chaga não olhe e se contenta em olhar deixa o sangue brotar deixa o dinheiro na lona deixa o miserável na zona deixa e deixa o membro sofrer deixa e deixa o bicho comer é porta do inferno é fogo na brasa é ferida magoada é jejum madrugada é frio é fome é porta fechada pra tua passagem deixa andar deixa azar desgraçar não vá confirmar o dia a pontaria a afronta não conta o perdão já não há é só pra olhar sem espanto que teus olhos ainda vão ver tanto!
CYANA LEAHY-DIOS (1950) poeta soteropolitana é niteroiense por opção. Escreve ensaios, ficção e poesia. Autora de dezenas de artigos, capítulos de livros e textos apresentados em congressos nacionais e internacionais. Publicou Biombo(1989), livro de estréia na poesia. Seguiram-se Íntima Paisagem (1997), O Livro das Horas do Meio(1999), Seminovos em Bom Estado(2003) e (Re)Confesso Poesia(2009). Conquistou prêmios literários no Brasil e na Inglaterra. Da gata Era uma vez a gata. Prenha gata. Sozinha no fim-de-semana deu à luz quatro gatinhos. Sem trauma, sem parteira, sem curativo. Agora cinco gatos vagueiam pelo palácio Saudáveis. Negros. Independentes como nunca fui
aula de pintura enquanto enrubesço me ensina a pintar com o corpo me ensina a perder os medos e a poder sujar as pontas dos dedos as unhas e as palmas das mãos nas tintas de todas as cores enquanto enrubesço em vinho tinto sê meu mestre amor
cena sertaneja Serpentes negras foscas invadem ameaçando o sertão incompreensíveis na paisagem avançam canaviais adentro rebolando sinuosas no ventre miserável. A fome se instala às margens de mãos e rostos enegrecidos
Sol, fuligem e muita dor sugam canas impróprias não mais caules em fruto apenas seca matéria-prima rostos e mãos carregam armas afiadas (para o trabalho) e cegas (na parelha com a justiça)
A serpente asfáltica plana e lisa ressalta na paisagem (estrada do coronel asfalto do coronel) fazendas canaviais usina. Por enquanto a Miséria estende o braço e implora por mais um dia
Eu faço a festa: Publicado por Rubens Jardim em 10/07/2012 às 10h47
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