Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
14/01/2008 11h28
GUIMARÃES ROSA: INFELICIDADE É QUESTÃO DE PREFIXO

João Guimarães Rosa nasceu em Codisburgo (MG) e morreu no Rio de Janeiro em 1967. Filho de um comerciante de Minas, fez os primeiros estudos na cidade natal, vindo a cursar Medicina em Belo Horizonte. Formado Médico, trabalhou em várias cidades do interior de Minas Gerais, onde tomou contato com o povo e o cenário da região, tão presentes em suas obras. Autodidata, aprendeu alemão e russo, e tornou-se diplomata, trabalhando em vários países.  Seu reconhecimento literário veio na década de 50, quando da publicação de Grande Sertão: Veredas e Corpo de Baile, ambos de 1956. Eleito para ocupar cadeira na Academia Brasileira de Letras no ano de 1963, adiou sua posse por 4 anos. Tinha cisma com isso. E no dia da posse estava tenso, trêmulo. Segundo depoimento de Geraldo França Lima, amigo íntimo, ele chorava e hesitava em sair. “A Academia é muito para mim. Sou tão pequeno como a cidade em que nasci.” Tomando posse no ano de 1967, morreu três dias depois, vítima de um  enfarte. 
No texto abaixo, selecionei algumas frases, de intenso sabor e saber, desse que é considerado um dos melhores e mais expressivos escritores da literatura em todos os tempos. Aproveite e delicie-se.

“De tudo o que escrevi, gosto mais é da estória do Miguilim. Por quê? Porque ela é mais forte que o autor, sempre me emociona; eu choro, cada vez que a releio, mesmo para rever as provas tipográficas. Mas o porquê, mesmo, a gente não sabe, são mistérios do mundo afetivo.”
“O que eu queria era ser menino, mas agora, naquela hora, se eu pudesse possível. Por certo que eu já estava crespo da confusão de todos. Em desde aquele tempo, eu já achava que a vida da gente vai em erros, como um relato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria. Vida devia de ser como na sala do teatro, cada um inteiro fazendo com  forte gosto seu papel, desempenho. Era o que eu acho, é o que eu achava.”
“Cavaleiro distraído, sem noção de seu cavalo.”
“Nada pula mais do que a esperança.”
“Infelicidade é questão de prefixo.”
“E nunca há fim, de patacoada e hipótese.”
“Amar não é verbo; é luz lembrada.”
“Tinha vergonha de frente e de perfil.”
A gente se esquece --e as coisas lembram da gente.”
“Caráter de mulher é caroços e cascas.”
Esperar é dar-se em hipoteca.”
“A vida se ata com barbante?”
“Janeiro afofa o que dezembro endurece.”
“A gente morre é para provar que viveu.”
“As coisas só me espantam de véspera.”
“O trágico não vem a conta-gotas.”
“Viver talvez seja guardar o lugar de outrem, ainda diferente, ausente.”
“Fé é o que abre no habitual da gente uma invenção.”
“Sofrimento e sede...isto se grava em retratos?”
“Pão ou pães é questão de opiniães.”
“Sumiram os pontos das reticências,o tempo secou o assunto.”
“Toda saudade é uma espécie de velhice.”
“E se deu o que se deu: o isto é.”
‘Não fale nesses, Diadorim...Ficar calado é que é falar dos mortos...”
“Nome de lugar onde alguém já nasceu, devia de estar sagrado.”
“O senhor sabe: Deus é definitivamente.”
“Não sou homem de meio dia com orvalhos...”
“Tem coisa e cousa, e o ó da raposa.”
“Eu sou é eu mesmo: diverjo de todo o mundo.”
“Obedecer é mais fácil do que entender.”
“A morte é o sobrevir de Deus, entornadamente.”
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa.”
“Eu queria sair de tudo o que eu era, para entrar num destino melhor.”
“Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.”
“Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.”
“Julgamento é sempre defeituoso, porque o que a gente julga é o passado.”
“A luzinha dos santos-arrependidos se acende é no escuro.”
“Mulher assim: que nem braçada de cana --da bica para os cochos, dos cochos para os tachos.”
“Comigo as coisas não têm hoje e ant’ontem amanhã: é sempre.”
“Viver o senhor já sabe: viver é etcétera.”
“Pobre tem de ter um triste amor à honestidade. São árvores que pegam poeira.”
“O real não está na saída, nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.”
“Todo abismo é navegável a barquinhos de papel.”
“Viver é obrigação sempre imediata.”
“Feia de se ter pena do seu espelho.”
“Desapareceu suficientemente --aonde vão as moscas enxotadas e as músicas ouvidas.”

Para quem estiver interessado em ver e ouvir Maria Bethânia dizendo textos de Guimatâes Rosa, aí vai o link da apresentação dela na UFMG, no último dia 17 de março de 2009.
http://www.youtube.com/watch?v=4LRDN5pYjZE


Publicado por Rubens Jardim em 14/01/2008 às 11h28

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