19/02/2014 22h55
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (45ª POSTAGEM)
ANGELA LEITE DE SOUZA(19 ) poeta mineira, trabalhou por cerca de 30 anos em diversos órgãos da imprensa brasileira. Publicou dezenas de livros, a maioria na área infanto-juvenil. Com o livro de poemas Estas muitas Minas, conquistou o prêmio Casa de las Américas de Literatura Brasileira, de Cuba, em 1997. Estreou com Amoras com Açucar (1982). Publicou também Lição das horas, e Entre linhas, recém-lançados. TUDO A paz humana jaz nesse teu peito sem tréguas. Amansa a ânsia. Despe o desejo. Verga a vaidade. Sonda a solidão. Aquieta tuas águas turvas para ver-lhes o fundo. Despoja-te de tudo Até seres só amor. Até seres tudo.
PAISAGEM Serpentina dourada pelos últimos raios o rio, lá embaixo, se despede do olhar efêmero dentro do avião.
Captamos atônitos sua líquida beleza. Mas no quadro da janela já ficou amarela a fotografia dessa emoção. (SEM TÍTULO) Afundo-me nestes retalhos perco-me em tantos trabalhos lavar quarar-engomar tecer cortar e coser cascar afogar ferventar...
Ai, vida de alinhavos labuta de brasa e broa faina agridoce em fogo brando.
Aí, tempo não fosse bica pingando cancela que desse pro amanhã.
Mas tudo é ferrolho e picumã. (SEM TÍTULO) Meu desejo agora: não ter nenhum desejo ou antes ter a gula de um cantar de galo fora de hora só pelo gosto de despertar neste peito gasto alguma aurora. ROSANGELA DARWICH(1962) poeta paraense, formou-se em psicologia, em 1984, pela Universidade Federal do Pará, e exerce a profissão de professora de psicologia da Universidade da Amazônia. Possui doutorado em psicologia e é autora de Quando Fernando VII Usava Paletó (1982); Levasse as Coisas na Flauta (1988); Histórias Mortas (1993). Às vezes estou aflita, outras estou tendo dois ou três sentimentos ao mesmo tempo. Não caibo em meus pensamentos e eles desconsideram isso.
Estar viva não significa que aceito. Às vezes me sinto como se aceitasse, outras estou tendo dois ou três outros sentimentos.
Ainda que ninguém perceba, existe um lago com patos cinzas e esverdeados dentro de mim. Às vezes um dos patos morre, às vezes acontecem nascimentos óbvios, seres pequenos de dentro de ovos. Eles nadam, eu aconteço. (SEM TÍTULO) Posso te dar uma sala cheia de livros para que sejas um dentre os meus livros nessa sala tua. Posso te dar a alma que eleva um poema e, além dela, um corpo de palavra.
Queres ir de um estado sólido, frígido, à incandescência da página? Queres ser o rastro dessas letras fechando a minha mão?
Serás eternamente o que quer que sejas desde o início, livre de tempo e destino. Me verás passando como se ainda sonhasses. Como se ainda sonhasses, não te surpreenderás comigo. (SEM TÍTULO) Quando aceitei o fato de que a Terra não é apenas redonda mas está solta no espaço, girando em torno do sol e de si mesma, fiz do céu uma primeira aula de irrealidade. Olho os meus pés sobre o chão e tento me ver azul como sei que sou azul quando desapareço ao longe. Avanço além do que percebo porque me movo através de palavras e fiz delas, portanto, uma segunda aula de irrealidade. A seqüência de números pode indicar que insisto em meus erros porque quero o absurdo que dispensa a lógica. Cada astro em sua órbita, cada som com um sentido, é possível que a terceira aula de irrealidade seja a última, assim como é possível que não seja. (SEM TÍTULO) Há dias para as palavras e dias mudos. Celas entre vozes e silêncio, há dias impenetráveis e dias cúmplices. Sob profecias e arbítrios, há dias só para os deuses e dias que se interrogam como qualquer homem. LISBETH LIMA DE OLIVEIRA (1963) poeta paraibana, formada em jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba. Fez especialização em língua e literatura francesa e mestrado em biblioteconomia. Morou quatro anos e meio na França. Desde 1998 mora em Natal. Publicou os livros de poemas Dormência (2002), Felice(2004) e Româ (2008). Torres gêmeas Da construção gemelar. pedaços homozigotos de pedra e gente.
Diligente Desliza ágil, qual dedos sobre cetim, o grafite. E desenha. E rabisca. Mas é quando escreve palavra que ele se mostra veloz, quase indomável, como são as palavras quando querem ser lidas.
Incendiário Debandaram pássaros, bichos de arribação. Flores queimadas na estrada não se deixaram cheirar. Um amor perdido, negado, devasta, abre clareiras. É invasivo o fogo da ausência.
Encontro Trouxe-me a chuva. E, depois dela, céu aberto, anil.
Trouxe-me a noite. E, dentro dela, seu corpo chuviscado, amanhecido junto ao meu. Dia claro, céu aberto. abril. ANA PELUSO(1966) poeta paulistana, é designer gráfica e possui participação em algumas antologias. Abandonou Letras e Psicologia pelo Desenho Publicitário. Não deu certo. Aos treze anos sonhava ser Alquimista. Aos cinco, Bailarina, Pianista, Pintora. Aos sete, Professora. Escrevia Diários. Publicou, recentemente, o livro 70 poemas SEM TÍTULO É produtivo fabricar tijolos um tijolo sozinho pode ser obra de arte com mais alguns é parede, é quarto, sala.
raro dizer poesia a céu aberto e só bate sol no coração quando se atravessa tijolos e é você do outro lado
não me lembro de já ter visto tantos tijolos nem de nada como quando você perguntou o nome de uma estrela olhando diretamente pra ela SEM TÍTULO Primeiro transformou a casa em uma casa menor por isso dobrou a casa depois transformou a casa em uma menor ainda e por isso dobrou de novo
até perceber que morava em um origami
de pássaro
só porque a casa voou
TEMPO O tempo tem dono.
O tempo tem sono.
O tempo faz temporal
Na madrugada.
E a hora já passada, de tanto
passar passou da medida.
O tempo não tem saída.
VERSOS SOLTOS Os versos são soltos. Os pensamentos também.
Apenas poeira ao vento, nada de fundamento. Nada de especial.
Centelhas elétricas, as palavras ficam no éter até encontrarem o papel.
Publicado por Rubens Jardim em 19/02/2014 às 22h55
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