16/10/2011 17h04
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (10)
ISABEL CÂMARA (1940 - 2006), poeta mineira, atriz e dramaturga bissexta. Com a única peça que escreveu, As Moças, ganhou o Moliére de melhor autor de 1970. Festejada nos meios cults do Rio e São Paulo, foi amiga de Bethânia, Chico e Tom, redatora da TV Globo e tradutora. Publicou Coisas Coiós, abandonou a badalação e foi morar incógnita em Goiânia, onde 12 anos depois veio a falecer. Afirmativa Na posição que me encontro Quem Quem diante do amor Quem diante do Inferno Ninguém me ama Manhã de frio Trata-se de uma certa dama Carta LEILA MICCOLIS (1947) poeta carioca, contista, escritora de cinema, teatro e televisão. Tem obras publicadas na França, México, Colômbia, África, Estados Unidos e Portugal. Já publicou mais de 30 livros, uns 14 de poesia. O mais recente Sangue Cenográfico tem prefácios de Ignácio de Loyola Brandão, Heloísa Buarque de Hollanda, Gilberto Mendonça Teles e Nélida Piñon.Mantém na internet o concorrido site de poesia e literatura Blocos DOS MALES O MENOR... Se te chamo de putinha CONTRADIÇÕES Foi na vida que aprendi NOVO AMOR Meu coração nunca pára BROWSERS DIVERSOS (V) Sem rodeios: Geração Inde(x)pendente Em vez de me deitar na cama, DIVA CUNHA(1947) poeta potiguar, formou-se em letras, fez pós-graduação na Puc do Rio de Janeiro e doutorado em Barcelona. Seu último livro de poesia, Resina, (2009), reúne a reedição dos três primeiros livros Canto de Página (1986), Palavra Estampada (1993) e Coração de Lata (1996). Recentemente, em junho deste ano, passou a ocupar cadeira na Academia Norte Rio-Grandense de Letras. Sou todos... sou todos os poetas que li com a devida ressalva eles não são eu cadeira que ocupo enquanto escrevo
Certas mulheres... Certas mulheres catam coisas pequeninas conchas, feijões, letras
outras distraem-se nos espelhos contam rugas
algumas contam nuvens criam cachorros e gatos como crianças
certas mulheres guardam mágoas ressentimentos, botões, elásticos
algumas são como certos homens não contam nada ocupadas com coisas incontáveis
Minha mãe... Minha mãe diz que eu sou da pá virada os modelos dela são outros: fora as santas domésticas secaram todas
Em casa...
ANA CRISTINA CÉSAR (1952-1983) poeta carioca da chamada poesia marginal dos anos 70, suicidou-se em 29 de outubro de 1983. Escreveu para revistas, jornais alternativos e lançou livros em edições independentes. Tornou-se conhecida ao participar da antologia 26 Poetas Hoje, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, em 1976. Entre os títulos publicados: Cenas de Abril, Correspondencia Completa, Luvas de Pelica—e o celebrado A Teus Pés, além de Inéditos e Esparsos. Tenho uma folha branca e limpa à minha espera: mudo convite tenho uma cama branca e limpa à minha espera: mudo convite tenho uma vida branca e limpa à minha espera. Noite carioca Diálogo de surdos, não: amistoso no frio Atravanco na contramão. Suspiros no contrafluxo. Te apresento a mulher mais discreta do mundo: essa que não tem nenhum segredo. Psicografia Acreditei... Acreditei que se amasse de novo esqueceria outros pelo menos três ou quatro rostos que amei Num delírio de arquivística organizei a memória em alfabetos como quem conta carneiros e amansa no entanto flanco aberto não esqueço e amo em ti os outros rostos Olho muito... olho muito tempo o corpo de um poema Publicado por Rubens Jardim em 16/10/2011 às 17h04
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. 28/09/2011 11h07
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (9)
VERA CASA NOVA (1944 ) poeta carioca, ensaísta, pesquisadora e professora da UFMG. Tem diversos trabalhos, poesias, ensaios, estudos e pesquisas publicados em livros, internet, jornais, revistas, suplementos literários do Brasil e exterior. Autora, entre outros, de Lições de almanaque e Desertos . Atualmente tem programa na Rádio UFMG Educativa, chamado UM TOQUE DE POESIA, que vai ao ar todos os dias pela manhã e à noite. Para escrever um poema Fica um grito RETORNO RIMBAUD Farejo na areia os restos de um instante sem fim Logogrifos Logo meu pensamento poesia é feita pra gente comer. Jogo Dessa solidão ----------------------------------------------------------------------------- No beijo de Rodin DALILA TELES VERAS(1946) poeta portuguesa radicada em São Paulo desde 1957. Animadora cultural, há cerca de duas décadas organiza cursos, seminários e congressos. Fundadora do Grupo Livrespaço de Poesia que, de 1983 a 1994, desenvolveu intensa atividade cultural e co-editora da revista literária livrespaço, ganhadora do Prêmio APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte, como melhor realização Cultural de 1993. Reside e trabalha em Santo André. SOLILÓQUIOS De tanto ficar consigo dispensou as palavras
Bastavam-lhe os gestos (batuta invisível) a orquestrar o silêncio DO AMOR E SEUS SILÊNCIOS
No destempero e ardências da fúria inaugural a palavra sem proveito (verbalização de corpos)
No rito já maturado do caminho reconhecido a muda comunhão (frêmito de carne e espírito)
Urgências mitigadas os silêncios primordiais já agora interpretáveis (epifania outonal)
NO MUSEU O encordoamento da memória só pode ser retesado onde haja silêncio George Steiner
Para ver calar (ocultos sentidos a preencher sobressaltos)
Para ouvir calar (perturbadoras vozes coladas às telas - ruídos da memória)
Para guardar calar (outra beleza ainda não catalogada)
Da insaciável cobiça
"Gloriae et virtutis invidia est comes" provérbio latino
Cobiço qualquer coisa desde que te prive desde que te despoje
Meus olhos na tua alegria roubam-te o riso saqueiam teu saber e tudo que não tenho
Nem a mim serve este desejo só desejo basta-me que nada seja teu (a felicidade apenas no alheio)
BRUNA LOMBARDI (1952 ) poeta paulistana, escritora, modelo e atriz. Publicou 3 livros de poesia, No Ritmo dessa Festa(1976), Gaia (1980) e O Perigo do Dragão( 1984) , dois romances, roteiro de filme e um diário com o registro poético das filmagens do Grande Sertão.IntransitivoA carne anda cada vez mais fraca Há políticas bastantes para não pensarmos em nada Ah, deveríamos desobedecer secretamente a nós mesmos, Meu irmão, o absurdo somos nós. Sob o Signo da Inquietação O susto em nós foi avançar muito para dentro do proibido. Princípio
Baixo-ventre
eu não agüentava mais de amor por você
tava ardendo de vontade de você
você há de me querer
há de tentar, se atrever
mesmo se for um delito, se for errado
maldito, amaldiçoado
mesmo que o céu nos castigue
com um eterno eclipse
e venha o caos, satã, o fim de tudo
e a gente seja culpado
porque não soube resistir à tentação
eu não quero me livrar desse pecado
e me salvo através dessa paixão.
BETH BRAIT ALVIM (1952). é poeta paulista com forte presença nos movimentos culturais de São José dos Campos, ABC e São Paulo nos anos 80, 90 e 2000. Tem passagens pelo teatro, cinema e vídeo, artes plásticas e visuais e gestão da cultura. Publicou Mitos e Ritos, Ciranda dos Tempos e Visões do medo, premiado pelo PAC 2007. Participou de diversas antologias no Brasil e no exterior. Outono horizontal eram iguais rumina terra Visões baldias ah se a menina de cinqüenta anos sucumbisse menos às visões do juízo final e vagasse mais nas feiras e terrenos baldios à beira do surto daqueles dias onde o muco anterior às boas maneiras mantinha o sinal o segredo a magia e rompia o novelo da mãe da avó e das tias por certo ela desfilaria todas as noites e dias sua saia de absinto meias de cereja e seus dentes de ninfa pulsando nas esquinas Eu quero meu útero seco banhado pelas águas das andorinhas a tramontana de Portbou rangendo nas travas das câmaras de gás eu quero verter lixo tóxico respira por mim Em nossos dias o poste ainda espera um bêbado que tropece um tango vocifere um Rimbaud ou exorcize uma Anaïs
não é fácil em nossos dias sorver em taças de cristal luas de celofane como se fossem hóstias
Fruto não lambuzo o beiço nem salivo doce diante do meu fruto predileto
a casca áspera no caminho do seu pomo lanha-me a garganta
não lambuzo o beiço nem salivo doce engulo seco Publicado por Rubens Jardim em 28/09/2011 às 11h07
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AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (8)
Estão reunidas aqui algumas vozes femininas que obtiveram grande destaque e repercussão nos anos 60. Lamentavelmente, quase todas andam meio desaparecidas e sequer entraram na rede da internet. Mas elas fizeram um bom trabalho e merecem ser lidas e conhecidas. São poemas de sondagem interior que revelam a consciência de uma luminosa dimensão da espécie humana. IDA LAURA (1928-2008) – Poeta paulista, crítica de cinema e psiquiatra –embora nunca tenha exercido a profissão. Publicou poemas nos livros Antecipação(1963), Poema Cíclico(1962)e Nova idade(1969). Foi presidente da APCA e exerceu a crítica de cinema no Estadão e na antiga revista Senhor. Participou de leitura pública de poemas como convidada da Catequese Poética. Obteve boa repercussão crítica nos anos 60. ........................................................... "Onde deus ................................................................... "As paisagens IVETE TANNUS, (1936-1986) poeta paulista, professora universitária, socióloga e pedagoga. Estreou, em 1960, com A violeta e o espelho. Seguiram-se A irmã escolhida(1961), Canto de Amor e Morte para um rei(1963), Eu do teu ser(1964) e O poeta e a Origem(1966). Teve vários poemas traduzidos para o francês, inglês e espanhol. E participou de diversas antologias. Obteve boa repercussão crítica nos anos 60. A DANÇA DOS CIPRESTES Sou pequena e estou cansada de interrogar-me, Ainda bem que a noite desceu LÊDA SEM CISNE Está solto na alegoria À noite um piano me visita PROFISSÃO DE FÉ Amo-te, Musa Amo-te a efígie Quero-te límpida e concisa LÉLIA COELHO FROTA (1938-2010) poeta carioca, escritora, antropóloga e crítica de arte, foi responsável pelas representações brasileiras nas bienais de Veneza de 1978 e 1988 e curadora da exposição Brésil, Art Populaire Contemporain, no Grand Palais (Paris, 1987). Recebeu os prêmios Jabuti e Olavo Bilac (Academia Brasileira de Letras) pelo livro de poemas Menino Deitado em Alfa (1978). LITORAL (poemas portugueses) Sim, iremos para a América do Sul para as quadras de tênis vazias para os parques de diversão silenciosos movidos pelos anúncios luminosos. UMA DOR 1. O vento soprava árvores da esquerda. Ao fundo, o menino tocava o violão preso no ombro, como um pequeno navio adernado. Uma dor no mundo rachava tudo fino e longe, cinema mudo. 2. Acordar é fechar as pálpebras. Nossos olhos só escrevem por cima, muito por cima. E quando abrimos as janelas É só o vento que está ali.
Existe uma dor solta no mundo.
E eu quero deixar meu emprego, meus cabelos minha família para ir atrás dela bicho com fome. HELENA ARMOND, Poeta mineira radicada em São Paulo, publicou quase duas dezenas de livros de poesia. Já foi premiada pela APCA, mas vive distante das badalações literárias. Já lançou livro em supermercado, sem avisar ninguém.É artista plástica também e já se apresentou em salões, galerias.Participou de uma das Bienais com uma instalação de protesto à sociedade de consumo. O quanto vale o vale Vale o equivalente
Ser Nem da verdade um vão Que te saibas terra Que te saibas água PAZ
Publicado por Rubens Jardim em 08/09/2011 às 13h15
21/08/2011 20h44
A MULHER NA LITERATURA BRASILEIRA (7)
Apresentando as mais variadas tendências de estilo, processos ou temas, um traço comum pode ser destacado: é a participação na consciência experimentalista, no reajustamento da linguagem e na integração do ser humano e da poesia no processo histórico . STELLA LEONARDOS (1923) poeta carioca,tradutora e teatróloga, é considerada integrante da terceira geração do movimento modernista. Já ganhou vários prêmios, inclusive o Nacional de Poesia, em 1964, por Geolírica. Publicou romances, literatura infantil em prosa e verso, além de peças teatrais infantis. Sua obra inclui mais de 70 títulos, entre eles os premiados Cantabile,(1967) Amanhecência(1974) e Romanceiro da Abolição(1986). DO APRENDIZ DE ESCULTOR ESPELHOS ... "Sigamos, primeiro, as próprias indicações de Bretas: o Aleijadinho, diz-nos ele, sofreu complicações d'humor gallico com escorbuto". Germain Bazin É mancha de tinta ou pele manchada? É poeira em camada ou pele que escama? É pingo de roxo ou sangue pisado? É raiva de um rosto ou rictus de máscara? É imagem disforme ou espelho infamante? É mais que grotesco: é face de drama. É o trágico doendo: um monstro se olhando.
Abaixo o que espelha! Cristal, água, lâmina.
QUASE MITO — Quem veste esse poncho e encobre a cabeça? Que vivo? Que morto? Que réu de sentença?
—Nenhum pobre diabo.
— Debaixo das abas do imenso chapéu há o rosto de um diabo oculto dos céus?
De um monstro sagrado.
O QUE SE É VEM À FLOR? “Não, não digas nada” Fernando Pessoa Melhor seria não dizer-te nada
LILIA A.PEREIRA DA SILVA, (1926 ) poeta paulista, escritora, pintora, desenhista. Conquistou excelente fortuna crítica, tanto aqui quanto no exterior, onde vários de seus títulos foram traduzidos. Publicou noventa e dois livros nas áreas de poesia, romance, literatura infantil e artes plásticas. Estreou com o livro Lenço Materno(1958). Alguns títulos de seus livros de poemas: Estrela Descalça(1960), Relógio de Raízes(1964),Menino de Orvalho(1973) No Cristal do Abismo(1989), Europeanas(1997). O ANJO VISÃO RETRATO PLURAL
ILKA BRUNHILDE LAURITO, (1925) poeta paulistana, estreou cedo com o livro Caminhos ( 1948). No ano seguinte formou-se em letras e dirigiu a Cinemateca Brasileira (1962). Entre 1969 e 1975 participou de movimentos de divulgação, como Poesia na Praça e Poetas na Praça. Recebeu o Jabuti de poesia, pelo livro Canteiro de Obras,(1987) e o Jabuti de literatura juvenil, pelo livro A Menina que Fez a América.(1990) PUBLICIDADE VIII (Olhos que tacteais este poema) V (Canto ao arrumar a cama) PERDAS E DANOS Arrotaram uma arrogância de água mineral gasosa. Sacudiram qualidades de plástico num chocalho sem guizos. Aplausos primeiro. Depois, risos. A menina que catava conchas na praia suja cresceu. Hoje conta histórias para boi mugir. A ilha que eu sonhava, bem ao norte deste empate, afundou no oceano de porquês. Eu poderia fazer uma corda com retalhos a fim de atravessar os sete mares e as cinco pontes. Ou escrever uma peça para marionetes sem fios. Recusei a oferta e o altar. Com os olhos procurei ao redor, mas o redor era fora do alcance da vista. O tiro de despedida é mais doce do que o beijo de misericórdia. Surpresas a varejo empresariam nossa mentira. Um chiclete gruda na memória retardando a detonação daquela bomba. Publicarei minhas memórias num edital do tribunal de contas.
YEDA PRATES BERNIS, (1926)poeta mineira, diplomada em letras, com passagem por canto e piano em conservatório. É membro da Academia de Letras de Minas Gerais, já ganhou vários prêmios, teve poemas musicados por Carmargo Guarnieri e já foi traduzida para o francês, espanhol, inglês, italiano e húngaro. Estreou em 1967 com livro Entre o Rosa e o Azul. Já foi premiada e elogiada por poetas do porte de Drummond e Henriqueta Lisboa. Seus últimos livros: Cantata (2004) e Viandante (2006). QUANDO O AMOR SE ACHEGA Quando o amor se achega e, no outro, não encontra espaço aberto, ele, humilde, se aconchega a si mesmo. E descoberto se agasalha com pesado manto do temor, dúvida e espanto.
E a tempo pede que o acalente, à desventura que o sustente não mais que o prazo certo, e a um vento inexistente que o leve em momento brando e breve.
SABEDORIA Aborrecem-me as mulheres de lantejoulas e as coroadas com tiaras de diamantes. Nem mesmo invejo as que muito leram e extraíram dos livros o sumo da desesperança ou as que misturaram palavras, pincéis e pautas às linhas de suas vidas.
Fascinam-me as mulheres do campo que acordam de madrugada, coam café com rapadura para os maridos e lavram a terra com enxada, suor e amor, ou as lavadeiras de beira-rio quarando suas roupas com canções e coração: sábias, não meditam sobre a fugacidade das horas, fazem de cada instante a doação perfeita, a morte é sua verdade sem temência e suas vidas são plenas como árvore absorvendo o sol das manhãs.
MARITMO Barco é a noite onde a alma navega. O sonho é marinheiro.
No oceano do momento o amor é timoneiro. O mais é entrega. FOGUEIRA do que chamam de minha alma. Fingindo calma, vejo no poço uma fogueira queimando o já tão pouco do muito edificado. Não como um louco mas como quem não presta atenção, despejo gasolina.
Tudo o que resta é um choro de menina. DESENHO NASCER Desenrolar Minuto Publicado por Rubens Jardim em 21/08/2011 às 20h44
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A MULHER NA LITERATURA BRASILEIRA (6)
MIRIAN DE CARVALHO,(1943) poeta, ensaísta e crítica de arte, nasceu no Rio de Janeiro, estudou história da arte, educação artística e filosofia, área em que defendeu tese de doutorado. Docente na UFRJ, lecionou estética. Em 1999, publicou seu primeiro livro de poesias: Cantos do Visitante (Edição da autora). Seguiram-se Teia dos Labirintos (2004), O Camaleão no Jardim (2005), Travessias (2006) e Violinos de Barro (2009). DESEJO À DISTÂNCIAHerdeiros do mito, eu Onde os humanos são deuses Do desejo à distância.
Ante a impossível proximidade Do corpo do outro, minha cabeça De serpente enrola-se na própria Cauda.
Ás vezes (muitas vezes) Respirar é doloroso.
INCOMPREENSÕES DO TATO Perdidas em meio à selva de códigos Deságuam cachoeiras de mensagens Que emergem entre estranhos na ânsia De algum projeto de encontro.
Aperto de mão ou abraço não há. Troca de carícias não há. Olhar não Se completa se não aquele do voyeur Colecionando imagens do amor intocável.
Às incompreensões do tato, O que sobrevive é cio.
E poesia. VERMELHO Em alameda livre, saltam meus cavalos de carmim. Saltam com narinas afeitas ao que vive ao redor da casa. E ao redor dos limites do portão.
Eriçando a pele, meu cavalo de rosas respira. Do mundo da fábula, chegou-me este centauro de corolas abertas. Afoita cauda correndo atrás do vermelho da crina.
À procura de pouso e fêmea, meu cavalo do verão se olha no lago das chuvas.
Lambendo a imagem desfeita, ele ergue imenso falo. E a tarde o amansa às horas de lascívia. AMARELO Das sementes da papoula floresceu o pelo-de-topázio. Carregando fardo ameno, ele resfolega atento ao que lhe pulsa entre as veias e as costas.
Molhando-lhe o dorso, escorre a seiva da amazona de lírios, que ao repouso lhe roça o falo com sedução. E lábios de pétalas.
Vindo do Leste, ele acorda os pássaros. Meu cavalo da manhã despertando para o coito.
Meu cavalo de sol carregando a vida. Que o recebe em berço de gozo. II Nas folhas do Corão menciona-se Do pensamento o frágil habitat
Sobre a tecelã, paira a dúvida do profeta: Tece ela as roupas? Ou a ilusão do mundo?
Tecendo o viver, a textura do ambíguo. V Nos manuais de viagens, não há travessias. Travessias não há, nesses espaços lacunares. Imobilizadas, as fronteiras não assinalam portas. Nem janelas. Entre rabiscos simulando rios, Não há margens. Plantio. Nuvens não há. Sequer cinzas. Lenha. Ou lenhador. Neutros, os mapas não acendem o forno. Não mostram a tigela de leite sobre a mesa.
Ao ermo, lamentam-se as clareiras do fogo.
Fogo alto. Fogo de papel. Em minha barriga, cismam as fomes dos mortais.
THEREZA CHRISTINA ROCQUE DA MOTTA, poeta e advogada nascida em São Paulo. Viveu em Boston, Assunção, Montevidéu, Rio de Janeiro e São Paulo. Aqui formou-se em direito, publicou livros, organizou leituras e exposições de poesia. Atualmente reside no Rio. Publicou entre outros Papel Arroz (1981), Joio & Trigo (1982), Areal (1995), Sabath (1998), Alba(2001), Chiaroscuro – Poems in the dark (2002), Fundou a editora Íbis Libris, e organiza a Ponte de Versos desde 2000. O LIVRO DAS HORAS MADRAS Abriste o tempo em gomos, O LEGADO DA POESIA Para João Luiz de Souza Há um legado de Drummond em todos nós, como há uma voz de Cecília em todos nós, um som de Bandeira e um tinir de Mário. Cada poeta nos empresta sua língua para aprendermos a falar o que sentimos. Todos têm um amor de Vinicius, um galo de Gullar, um cão de Cabral. Como não trazer o nada de Pessoa para os nossos versos? Adélia nos ensina a pescar e abrir os peixes. Cora nos empresta a chaleira e fogão de barro. Oswald está sempre lá com sua vela. Murilo traz seu cosmos de fascínio. Os poetas todos nos dizem em uníssono: - Escrevei! Tragam os poetas no bolso. Como Elisa Lucinda faz quando derrama sua poesia, como Mano Melo faz quando brada seus versos, como Chacal faz quando grita seus protestos, como Tavinho Paes faz quando blasfema na escuridão. Todos os poetas nos ensinam a poesia. Leiam! Leiam! Façam isso por si mesmos. Um verso de Pedro Lage contém mais poesia do que o universo. Um verso de João José contém mais sangue do que a carne. Um verso de Afonso Henriques Neto contém mais fogo do que a chama. Um verso de Shala Andirá contém mais luz do que a manhã. Um verso de Armando Freitas Filho contém mais tinta do que a pena. Um verso de Olga Savary contém mais plumas do que a ave. Assim os poetas vêm e vão. Inúmeros. Tantos que não posso todos nomeá-los. Os presentes, os passados e os futuros. E só na poesia se anunciam. Só na poesia existem. Só na poesia serão lembrados. A pedra no meio do caminho de Drummond é a pedra em que todos tropeçamos. Venham, e juntem-se a nós, nós, os poetas que lemos, nós, os poetas que escrevemos. A poesia é infinita. Quanto mais se abre, mais se desdobra. Desdobra-se em inúmeros poemas, semeados ao vento, ao tempo, por todas as idades. NOMEAÇÃO VOLTO-ME E OLHO-ME NOVAMENTE AO ESPELHO . Recomponho o cabelo com as mãos e apago as marcas do rosto. Eu fui o que fui, porque quis, mas não preciso carregá-lo comigo. Esquece. MARIA ESTHER MACIEL, poeta, ensaísta e ficcionista, vive em Belo Horizonte desde 1981. É professora de teoria da literatura da faculdade de letras da UFMG, com doutorado em literatura comparada, pela mesma instituição. Realizou estudos de pós-doutorado em literatura e cinema na universidade de Londres, onde ocupou também o cargo de pesquisador visitante.Já publicou vários livros de ensaio e ficção. De poesia só estes dois: Dos Haveres do Corpo(1985) e Triz (1999). NOTURNO (a T. S. Eliot ) O dia é noite no poema: Will it bloom this year? Na terra triste do poema PAISAGEM COM FRUTAS Duas peras sobre a mesa Sobre o muro Ele sabe MANUSEIO Tépidas AMOR Na véspera de ti eu era pouca e sem sintaxe eu era um quase uma parte sem outra um hiato de mim. No agora de ti aconteço tecida em ponto cheio um texto com entrelinhas e recheio: um preciso corpo um bastante sim. OFÍCIO Escrever a água da palavra mar o vôo da palavra ave o rio da palavra margem o olho da palavra imagem o oco da palavra nada. BLACKHEATH A poesia me chama entre as árvores de folhas incompletas. O vento é frio, apesar de terno. Corvos mancham o azul sem peso desta tarde que não começa. O trem também me chama. E não vou. MYRIAM FRAGA, (1938/2016)poeta,escritora, jornalista e biógrafa. Tem 20 livros publicados, entre poesia e prosa. Pertence à Academia de Letras da Bahia e ao Conselho de Cultura do Estado. Participou de várias antologias no Brasil e exterior, tendo poemas traduzidos para o inglês, francês e alemão. Entre suas recentes publicações: Poesia Reunida (2008) com o conjunto de sua obra. PERSPECTIVA 2 ABRIL Escrevo de memória. Que foi feito de mim, Escrevo sempre à noite; É tão difícil viver, É abril e chove II MINOGRAM Publicado por Rubens Jardim em 10/08/2011 às 20h22
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