Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
19/05/2008 10h33
SEXO SEM CULPA: QUAIS AS DIFICULDADES?
Ernest Becker (1925-1974) antropólogo, filósofo e escritor,  tentou reunir obstinadamente ciência e religião. É considerado por alguns como o criador da ciência do mal e foi marginalizado na última década de sua vida. Foi sómente após ter ganho o Prêmio Pulitzer, em 1974, por seu livro  A Negação da Morte (1973), que sua enorme contribuição começou a ser reconhecida. O livro é uma valiosa síntese do moderno pensamento psicológico e filosófico, baseado em Freud e Rank. Becker teve a coragem de abordar sem rodeios o problema da mentira vital. Em Fugindo do Mal (1975) seu outro livro, ele desenvolveu ainda mais as implicações sociais e culturais dos conceitos explorados em Negação da Morte. Acompanhe algumas de suas reflexões:
"A vida é no começo um caos no qual a pessoa se acha perdida. O indivíduo desconfia disto, porém tem medo de ver-se face a face com tão terrível realidade e procura ocultá-la com uma cortina de fantasia, onde tudo está claro. Não o preocupa se suas idéias são verdadeiras, pois ele as emprega como trincheiras para a defesa de sua existência, como espantalhos para afugentar a realidade."
“Viver é engajar-se na experiência, pelo menos parcialmente nos seus próprios termos. A gente tem de se arriscar na ação sem quaisquer garantias quanto à satisfação ou segurança. Nunca se sabe como a coisa sairá ou se se vai parecer um tolo, mas o tipo neurótico quer ter essas garantias. Ele não deseja arriscar a imagem que faz de si próprio. Ele não quer pagar o preço que a natureza deseja dele: envelhecer, ficar doente ou machucar-se, e morrer. Em vez de viver a experiência, ele a imagina.”
Õ homem moderno acha-se condenado a buscar o sentido de sua vida na introspecção psicológica e, por isso, seu novo confessor tem de ser a autoridade suprema em introspecção, o psicanalista.”
“Quiseram fazer da vida interior do homem uma região isenta de mistérios e sujeita às leis da causalidade. Abandonaram, o termo alma e puseram-se a falar do eu.”
“Os grandes milagres da linguagem, pensamento e moralidade podiam agora ser estudados como produtos sociais, e não intervenções divinas. Foi uma grande penetração da ciência que só culminou com a obra de Freud. Mas foi Rank quem viu como essa vitória científica suscitou mais problemas do que resolveu.”
“A chave do tipo criativo é ele estar separado do fundo comum de significados compartilhados. Há algo na sua experiência de vida que o faz tomar o mundo como um problema; daí ele ter de entender tudo pessoalmente.”
“A grande dádiva da repressão é tornar-nos possível viver decisivamente em um mundo esmagadoramente miraculoso e incompreensível.”
“Freud comentou que a psicanálise curava o sofrimento neurótico a fim de introduzir o paciente no sofrimento comum da vida.”
“O homem pode pavonear-se e jactar-se do que bem entender, mas na verdade ele tira sua coragem de ser de um deus, de uma lista de conquistas sexuais, de um irmão grande, de uma bandeira, do proletariado--ou do tamanho de sua conta bancária.”
“Não surpreende que arte e psicose tenham estado em tão íntimo relacionamento, que o caminho para a criatividade passe tão perto do hospício e frequentemente faça uma volta ou termine ali.”
“Podemos afirmar que a essência da normalidade é a recusa da realidade.”
“Ter dificuldade em parcializar a experiência é ter dificuldade em viver.”
“O indivíduo tem de proteger-se contra o mundo e só pode fazê-lo como qualquer outro animal faria: reduzindo o tamanho do mundo, desligando a entrada de experiências, criando um esquecimento face aos terrores e as suas próprias angústias.”
“Nunca será demais repisar a grande lição da psicologia freudiana: de que a repressão é autoproteção normal e a auto-restrição criativa --em um sentido real, o sucedâneo natural do homem para os instintos.”
“Quando procuramos o objeto humano perfeito estamos em busca de alguém que nos permita expressar nossa vontade completamente, sem quaisquer frustrações ou notas falsas.Queremos um objeto que reflita uma imagem ideal de nós mesmos. Mas
os humanos têm vontades e contravontades. E por mil maneiras podem agir contra nós. Seus próprios apetites nos desagradam.”
“Por isso é tão difícil ter sexo sem culpa: a culpa acha-se ali porque o corpo projeta uma sombra na liberdade interior da pessoa. Seu verdadeiro eu se vê forçado a exercer um papel padronizado, mecânico, biológico.”

Publicado por Rubens Jardim em 19/05/2008 às 10h33

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