Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
28/04/2014 14h30
AS MULHERES POETAS...(49ª postagem)

ADRIANA VERSIANI(1963) poeta mineira, nasceu em Ouro Preto, tem cinco livros publicados. Eis alguns: A física dos Beatles(2005), Contos dos dias(2007) e Livro de Papel(2009). É editora do jornal Dezfaces e integra o conselho editorial da revista de literatura Ato.

 

Um anjo sangra na sacada e ela,

ferida,

mergulha para dentro do sono.

 

Panos para sempre no varal da infância.

CÓDIGO

Perdoe-me por não saber amar em outra língua.

estes versos, que me atravessam como uma rua acidentada, não os explicito.

 

perdoe-me por não saber cantar em outra língua.

estes versos, que me iluminam como as pedras que flatam na rua

acidentada, não os traduzo.

 

perdoe-me por não saber beijar em outra língua.

 

estes versos que se soltam e me encharcam.

VÉU 3

Surpreendo-me, amiga, ao vê-la longeva e lúcida, porque sempre soube em você o sinal de nascença, a infância nos laranjais: marcas de batalha.

Mais perto da palavra, mais próxima da morte.

Sumo: palavraponte para atravessar.

Soco: palavraponte para explodir.

Amiga, ouça-me:

Poesia é a guerra.

BONS AMIGOS

                                                   Transalucinação de uma letra de Amy Winehouse

Eu não posso mais esperar por você

amo quem me odeia e canto

quando preciso voar

Ainda somos bons amigos,certo?

 

Você pressente o risco

Eu me desmancho no ar

Agora você quer um aero plano

enquanto viajo na noite

Continuaremos bons amigos, certo?

 

Você é Stephanie e eu Paulette

Você conhece todas as minhas caras

E é fácil fumar um, esquecer

Nada acontece entre mim e você

 

Nick estava lúcido quando disse:

eu não posso mais, eu não quero mais saber.

Não sei o que você tem por dentro

Como você se sente quando eu transbordo

Mas você é meu melhor amigo, certo?

 

 

Eu não gosto do modo como você diz meu nome

Você está sempre olhando para outro lugar

agora eu quero que você surfe em mim

que nasça das minhas asas

Pois sou sua melhor amiga, certo?

 

Você é Stephanie e eu Paulette

Você conhece todas as minhas caras

E é fácil fumar um, esquecer

Tudo acontece entre mim e você

 

Então nos amamos até as 4 da manhã

e não existe mais ninguém com quem eu queira estar

Agora à tarde sou a seringa e você a droga

Porque somos grandes amigos, certo?

ANA MARIA RAMIRO(1972) poeta paulistana, tradutora, ensaista, é graduada em direito ela USP. Participou de algumas antologias e tem poemas, traduções e ensaios publicados nas revistas Zunái, Germina, Critério e Grumo. Publicou os livros de poemas: Menina-Poesia(1999), Desejos de Gaia(2007) e Fronteiras da Pele (2009).

MEIAS VERDADES

Sândalos e róseos,

os aromas da

conquista,

mas sou dada

a zombarias e

pulo etapas

 

vou logo

aos tapas

 

Odores reais

me fascinam,

livres de máscaras

aromáticas,

águas de cheiro

que não lavam

 

frascos de hipocrisia

 

Abomino personalidades

escondidas sob cremes

anti-sinais.

Fujo de agulhas

que não tecem,

injetam,

e de vontades

que não sejam

minhas

 

Prefiro

o odor natural,

ir direto ao cerne,

sem pudícia

 

(pura malícia)

 

Cara limpa

jogo aberto

aventura

de viver

 

nua e crua

LIÇÃO DO VENTO

Experimentar o vento em nuances é faculdade das mais sábias. O vento tem sabor de palavras dispersas, microcosmos de frases, lâminas em movimento.

 

Entender o que ele diz em rajadas ou através do não-dizer, no silêncio, é tangenciar a linha do tempo, saborear a própria história em doses homeopáticas.

 

Tocar o vento é o mesmo que tocar a luz, sentir o arfar de asas percorrendo o sinuoso caminho alveolar ou compartilhar as reminiscências de um beijo.

 

Alimentar-se de vento não é sexo, nem sombra ou lamento.

 

Viver de vento é permanência.

 

Morrer é pensamento.

 

2. TAUROMAQUIA

                                           a Michel Leiris

 

No oco da boca

paira um segredo mal guardado,

embotado pela fêmea

que o habita.

 

Vórtice semi-cerrado de dentes e lábios,

magna fenda

de um universo a ser tragado,

deglutido

e novamente soerguido,

 

a boca regurgita.

 

Mas a quem caberá o jorro do abate?

Quem vai preparar a ceia do ocaso?

 

No oco da boca

crescem flores de fogo,

mas no fundo do olho

permanece a menina

 

alheia

e em chamas,

 

                   uma menina que grita.

ANDRÉA CATRÓPA (1974), poeta paulistana, é mestre em teoria literária  e uma das editoras do jornal O Casulo, de literatura contemporânea. Foi uma das organizadoras da Antologia Vacamarela 17 poetas brasileiros do XXI (edição dos autores : 2007) e publicou o livro de poemas Mergulho às avessas (2008).

POUR FAIRE LE PORTAIT D’UN POÈME IDEAL

era o alvorecer

e o sol mais intenso

uma paixão de descompasso

as penas as glórias e os sabotadores

da história

a pequenez dos homens altos e a

grandeza das mulheres baixas

o gozo e o riso dos sem dentes

era minha infância tataravós e escola

teus sapatos altos debaixo da cama

varridos junto com o medo

a poeira acumulada

e que sempre retorna

a mônada que nos cabe

certamente tudo que não

este deserto

 

MUSA

fantasma do texto boca da palavra sexo de mulher que fala

serpente que engole a própria cauda

e no branco espalha o gozo

lágrima da tara

 

O SEM-NOME

vermelho-laca com grandes brasas por detrás dos olhos,

os cães ouviram o assobio,

o homem ouviu – lhe disseram é o que anda sem os pés,

o que se esgueira por entre as copas de árvore e não

é cobra – e virá

 

encarnado é texto, oração, pensamento,

 

desencarnado é sangue, suor, frio na espinha, a ameaça

da terra, o chão.

.........................................................................................................

penumbra o sol

quebra vidraças

sem pedir

licença

 

pequenos cacos de luz

cegam (o cego

pode ver tudo

branco -

 

- essa visão

imaculada do paraíso

parece ser a que mais dói)

 

CARLA DIACOV (1975) de qualquer forma. não me importa tanto ser. e também vou e volto e babo durante. e moro em São Bernardo do Campo e brinquei na praça-dos-meninos. morei a Londrina e ela a mim. fiz teatro e me desfiz. então escrevo e sei que vou, mas volto. de qualquer forma. e

O LIVRO BOM

é lançado e é lido.
foi manuseado, inclusive, na gráfica.
folheado, pelo menos duas ou três vezes, contando com
família, melhor amigo e amante.

ou

de sorte, boa ou não,
também interpretado por pessoas que não compreendem, nem ao
livro e nem ao escritor.

ou melhor;

uns tantos vendidos
como presentes de fim de ano, aos amigos, exatamente,
secretos.

ou tudo e tanto, isso;

e existirá entre todos
um
na cabeceira duma menina estranha
com dedicatória estranha
de estranhas páginas marcadas a dentes
com a última, lastimável ou não, impressa
de ponta-cabeça.

o livro e a menina.
últimos estranhos.

NOSTALGIA PULMONAR

de quais legendas de vividas sestas tiro minha nostalgia?
de quais paisagens e passarinhos
se certos são a morte e a vida

sinto-me vencida 

apaguem as luzes 
quero um filme em modos clássicos, de interpretação dura.

um que eu possa desvalorizar dum tudo na película, exceto a flor.

um no qual o amor seja frio e onde o casal seja raposa e avezinha.

/breve-breve a mentira a me deter rude, porém viva/
apaguem as luzes, Greta Garbo irá morrer.

ACOIMADA ABNEGAÇÃO

abstenho-me

da fumaça nas pontas dos teus dedos

infinitos a mim

abstenho-me

da gentarada no local do crime

estou nua

sou uma esponja ao teu suor perito a mim

abstenho-me da senhora que passa por nós

suspeita em ser

senhora que é

abstenho-me

entretanto

mais ainda, abstenho-me a ser a que traga

algum sentido erótico

a isso que já se resvala a crime de alcunha grossa

fumegante, jantar aberto, sucoso e mudo

como os teus dedos

infinitos e a mim, culpada, execravelmente culpada em,

discretamente, abster-se tão.

PEQUENÍSSIMOS NÓS

não sei me defender das palavras
pequeníssima
não sei implorar pela minha vida
a língua áspera
as pernas moles
o sexo tenso
tomam-me pelos beiços
pela voz acinzentada
violam a tudo que, em mim, tiver razão de ser


Publicado por Rubens Jardim em 28/04/2014 às 14h30
 
09/04/2014 15h20
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (48ª postagem)

NERCY LUIZA BARBOSA(1960) poeta mattogrossense, formou-se em letras em São Paulo e vive em Rio Branco, no Acre. É professora de língua portuguesa, língua Inglesa e literatura e arte, pela Secretaria de Estado de Educação do Acre e Universidade Federal do Acre.

DESDE QUE ME SEI

respostas me foram perguntas

quando juntas se confundem

quero mais do mundo

que em mim se fixa

como invólucro

 

quando me vem do centro

sou o objeto de pesquisa

aquele que enlouquece

um pouco o resto do que sou

 

numa cegueira que não vem dos olhos

e sim do não entender visões outras

vem de um pisar torto

como quem rompe um ligamento

e fica manco dos olhos

que o pés não têm

 

EVOLUÇÃO DA FERA

Um túnel escuro...

Não vejo, rastejo

A mão chorando e só

Toca a caverna

Inventa a vela

Do animal que hiberna

 

Mas nenhuma dor é eterna

Nenhuma lágrima é cega

Quando chega a luz e revela

Que a minha não é tão diferente

Ao se choca com ela

Ao produzir a sutil penumbra

Que somada, iguala

Clareia – fica bela

 

Nenhum escuro é eterno

Unido à luz vira fera

Luta, agoniza, considera

Vence, veste-se de aquarela

Brilhante – reluz amarela

Se a dor sangra

Hoje sei lidar com ela

 

Abuso do vermelho

Pinto nova tela

Pois nada supera o dia

Invadindo a janela

 

MARCO 0

eu sabia

em algum momento se esvairia de mim

a poesia

nesse tempo

uma aridez profunda me queimaria a alma

então eu não mais seria dentro

ao avesso

 

todo sol me queima as vísceras

à flor da vida

- todos os extremos - ferida

agonizo enquanto não me traduzo escrita

 

O QUE INVENTO

Às vezes, a tarde nem corre por aqui 
ela se arrasta lenta 
úmida e quente 

Me contorço agonia 
clamo a chegada da noite 
tudo no silêncio do eu dentro 

Fora, rio 
Ironizo 
fico meiga 

Me perco no que sou 
para me encontrar 
no que invento 

Nenhum sentido faz sentido 
dentro do sentido 
que queria sentir 

A pergunta é solitária 
a resposta é solitária 
e eu também 

 

ANGELA CAMPOS (1960)  poeta carioca, estudou letras na UFRJ.  Já viveu na cidade do México e em Madri. Atualmente morta no Rio de Janeiro. Foi casada com diplomata e publicou Feixe de Lontras, em 1996.

O olho da rua

entra pela janela

embaralha feixes e

pestaneja na parede.

Meu menino dos olhos

brilha.

 

A pestana que cai

é o desejo que voa

 

ICTO

traço a poeira

das palavras que me pensam

compasso

do ócio

o osso que rôo

até o tutano

no aconchego de ninharias chocadeiras

 

ELO

flamboyants no verão da lagoa

flambam a primavera de chão pintado

consangüínea cadencio montanhas

sinto o ar

que toca o corpo

o tempo todo

guincho rubro inflama cor e cheiro

nos flancos desfeitos em placas

sinto o ar

que toca o corpo

o tempo todo

escorre em vão

garras meladas de sobrevivente

vexame de abelha

o tempo todo

 

..........................................................................

A letra líquida

o húmus da palavra.

.

palavras

são dentes e cabelos

.

poemas

têm pés e mão

.

à margem

a mão

coça os pés

                 da página

 

MARTHA MEDEIROS (1961) poeta gaúcha, cronista e publicitária. Em 1993, após ter publicado 3 livros, Strip-tease(1985),Meia-noite em quadro(1987) e Persona non grata(1991), abandonou a carreira e foi morar no Chile. Ficou por lá oito meses só escrevendo poesia. Alguns livros posteriores: De cara lavada (1995), Poesia Reunida (1998), Geração Bivolt (1995), Topless (1997).

nem velas nem molho branco

hoje nosso jantar

acontece por baixo da mesa

 

desfias minhas pernas de seda

teu beijo promete mais tarde

 

jogo a toalha de renda no chão

me rendo

 

DE CARA LAVADA 177

hoje me desfiz dos meus bens

vendi o sofá cujo tecido desenhei

e a mesa de jantar onde fizemos planos

 

o quadro que fica atrás do bar

rifei junto com algumas quinquilharias

da época em que nos juntamos

 

a tevê e o aparelho de som

foram adquiridos pela vizinha

testemunha do quanto erramos

 

a cama doei para um asilo

sem olhar pra trás e lembrar

do que ali inventamos

 

aquele cinzeiro de cobre

foi de brinde com os cristais

e as plantas que não regamos

 

coube tudo num caminhão de mudança

até a dor que não soubemos curar

mas que um dia vamos

 

A TODOS...

A todos trato muito bem

sou cordial, educada, quase sensata,

mas nada me dá mais prazer

do que ser persona non grata

expulsa do paraiso

uma mulher sem juízo, que não se comove

com nada

cruel e refinada

que não merece ir pro céu, uma vilã de novela

mas bela, e até mesmo culta

estranha, com tantos amigos

e amada, bem vestida e respeitada

aqui entre nós

melhor que ser boazinha é não poder ser imitada.

 

QUEM MORRE?

Morre lentamente

quem se transforma em escravo do hábito,

repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca

Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente

quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente

quem evita uma paixão,

quem prefere o negro sobre o branco

e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções,

justamente as que resgatam o brilho dos olhos,

sorrisos dos bocejos,

corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente

quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,

quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,

quem não se permite pelo menos uma vez na vida,

fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente

quem não viaja,

quem não lê,

quem não ouve música,

quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente

quem destrói o seu amor-próprio,

quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente,

quem passa os dias queixando-se da sua má sorte

ou da chuva incessante.

Morre lentamente,

quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,

não pergunta sobre um assunto que desconhece

ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

 

Evitemos a morte em doses suaves,

recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior

que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos

um estágio esplêndido de felicidade.

 

NEUZAMARIA KERNER (19  ) poeta baiana, é professora e membro da Academia de Letras de Ilhéus. Publicou: Fragmentos de cristal, Eu bebi a lua e mantém dois blogs na internet: www.neuzamariakerner.blogspot.com e www.jornadaexistencial.blogspot.com

CONSUMAÇÃO

Toda vez que sopra o vento 

Eu e meu pensamento 

Cavalgamos num momento 

Ao encontro do amor. 

Vou arder a noite inteira 

Nos clarões de uma fogueira 

E depois de virar brasa, 

Voltar sozinha pra casa 

Esfriar e virar pó.

 

SONHO

Quando pistolas virarem braços 

E balas virarem flores 

Os pecados serão purgados. 

Os braços serão como laços, 

Enfeites de balas-flores 

E as cores diversas dos braços 

Esmagarão forte as balas 

Plantarão firme as flores 

Repartirão o mel 

Para deleite dos que teimarem 

Em fazer poesia.

 

O QUE ESPERAM DO POETA?

                                                                         para Laura Gomes

A partir

deste momento

está determinado

o banimento

da palavra pecado.

 

Proscrita também

será a palavra

culpa

por ser ela causadora

de infindável angústia.

 

O poeta

livre da abstinência

do que chamam pecado

dirá que sonhar

não é sua invenção.

E então terá a certeza

de que o que dele esperam

é apenas a sinceridade

até na mentira.

 

POEMA DA FERA

A fera não caça

a presa que atravessa-lhe

inocente o caminho.

                           

Simplesmente

ataca a presa que passa

e devora os nacos que interessam.

 

Jibóia num tempo

depois sai vagando indiferente

até a próxima fome.

 

 


Publicado por Rubens Jardim em 09/04/2014 às 15h20
 
25/03/2014 17h06
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA(47ª postagem)

ADRIANE GARCIA (1973) poeta mineira, é historiadora, funcionária pública, arte-educadora e atriz. Não publicou ainda nenhum livro, embora tenha 6 prontos na gaveta. Ganhou o Prêmio Paraná de Literatura 2013 com o livro inédito Fábulas para Adulto Perder o Sono. Divulga seus escritos no blog adrianegarcialiteratura.blogspot.com.br.

O LOBO MAU

Tinha orelhas grandes

Mas não eram para me ouvir

Melhor

Tinha nariz grande

Mas não era para me cheirar

Melhor

Tinha mãos grandes

Mas não eram para me acariciar

Melhor

Tinha boca grande

Mas não era para me comer

Melhor

Sentei-me na soleira da porta

E devorei a cesta.

 

NA HORA

Nem a tarde é tarde

Seus raios avermelhados

Dizendo-nos vida

Nem os meus

Nem os seus

Cabelos são tarde

A mão que os toca

Tão presente

Nem a tarde sente

Que a gente chegou

Bem

No exato

Da hora.

 

INÚTIL UNÇÃO DOS ENFERMOS
O poeta não vai para o Céu
Já cometeu todos os pecados capitais
E mais uns
Que ele inventou
Não espere a correção do poeta
O poeta é torto, empenado
E, de verdade
Nunca obedece a ninguém
Jogue água benta no poeta
E verá
Onde há fumaça
E fogo.

 

DEPOIS QUE VOCÊ SE FOI
Enfeitamos com flores
Muitas flores
A morte no cemitério
Cravinas rosas margaridas
Profusão de cores para
Deixar a lápide limpa
Da mancha sombra
Essa que larga as flores
E nos acompanha.

 

ANGÉLICA LÚCIO( 1974) poeta paraibana, é jornalista profissional. Recebeu menção honrosa no concurso de Poesia do Sesc João Pessoa. Participou da Antologia Contemporânea da Poesia Paraibana (1995) e publicou, junto com os poetas André Ricardo Aguiar, Fausto Costa e Karina Grace Quadrifólio. Organiza a publicação de seu primeiro livro de poemas.

FILHOS

Meu pai

pensava filhos

como se quisesse açude

pomar curral e galinhas

fazia filhos

como se pensasse

em sítio:

de sua carne.

 

PÉTREA

Por vezes,

me sinto pedra

pele salgada

sob a língua vermelha

em esgares de náufrago

estátua translúcida

sumindo em saliva:

a eterna mulher de Lot.

 

TESSITURAS

Se me esqueço

em novelo de dedos

não me fio em roca e fuso

de tessituras alheias.

Ainda que fique sem pão

colher de pau e jasmim

tapete de tez vermelha

ventilador e dentifrício,

Ainda que perca o elo,

não me fio

e me fecho em minotauro.

 

PÉROLA

Minha dor é molusco

e se faz de ostra:

sempre me enclausura.

Brinca com hipocampos,

faz cócegas em Netuno

e me quer sua filha.

Talvez uma pérola.

 

ISIS MORAES RAMOS (1978) poeta baiana, atua como jornalista e professora de literatura brasileira. É mestranda em literatura e diversidade cultural pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Editou, por cinco anos, o Tribuna Cultural, suplemento de cultura do jornal Tribuna Feirense. Já foi laureada com o Prêmio Bahia de Todas as Letras (2007), de poesia.

 

DESERÇÃO

Cravado no não,

o nome dela convoca as Fúrias

para dançar.

 

Em vigília, um olho insano

crucifica o silêncio.

 

SOLIDÃO

Um olho devora

o silêncio;

 

o Outro

o condena.

 

Cavalos lendários

margeiam meu sono.

ULISSES

Não sou a Outra.

Tenho uma Circe costurada

em cada olho.

MÔNICA DE AQUINO(1979) poeta mineira, colabora em suplementos literários. Participou da antologia portuguesa O Achamento de Portugal (2005). Já teve poemas publicados em vários sites do Brasil e do exterior. Publicou seu primeiro livro, Sístole, em 2005. Com Fundo Falso, segundo livro, ganhou o prêmio cidade de BH, em 2013.

PENÉLOPE SECRETA

Um homem chegou no dia
em que não havia espera.

Na porta, somente o cão
guardava o tempo.

E o tempo era correr
atrás do rabo.

O homem tomou o castelo,
a cama, o arco.

Agora, dorme ao meu lado
descansa da travessia.

Não sabe seu gosto de mar

não sabe que traz, na pele, a alma
do mar.

Preciso partir para esse lugar
de onde o homem voltou

(o amor, agora, é o mar).

Comecei a tecer uma rede
de pesca.

Comecei a tramar
certo corpo de barco.

Agora, tranço os cabelos
e olho pela janela.

É quando ele desperta
desfaz a cama, desfia os planos

desata a trança, pisa na rede

e sinto, de novo, o mar.

De repente, partir é igual
a ficar.

 

PENÉLOPE MENTIROSA

De noite desfaz, obediente
a fera que a carne abriga
e regressa à partida: a espera indefinida.

De dia, é outro o desejo
tece a mortalha com o silêncio
de ter de casar-se outra vez

(presa entre duas promessas)

mas Penélope mente: o que quer é a solidão.

A fidelidade é um cão.

 

..................................................................

A um átimo

do amo-te

temo-te.

A um istmo

do íntimo

mente.

De cor, somente

o silêncio

(continente).

E a linguagem,

cortejo

(périplo).

Mas o amor:

arquipélago.

 

************************************************************

 

Não por acaso

o verso fácil

de quem já sabe em si a pedra

do caminho a pedra

do cabralino verso

o concreto da síntese

 

e mistura tudo num pulo do gato

escaldado, o mesmo

 

que comeu o lirismo

que estava aqui.

 

Mas nenhum lirismo é um verso

que não é do seu poema -

 

e rima romântico e perverso.

 

Não por acaso a alquimia

de corpo e texto

na metafísica dos beijos

 

na queda de quem sabe a nuvem.

 

Nem por acaso remar rio acima

com o verbo ágil

de quem desce

a correnteza

 

no desejo de (re)conhecer

todas as formas de delicadeza.

 

Por acaso, talvez, a vertigem

da margem

 

no poema que nos contempla.


Publicado por Rubens Jardim em 25/03/2014 às 17h06
 
12/03/2014 18h19
AS MULHERES POETAS...(46ª postagem)

LAÍS CHAFFE - (1966) poeta gaúcha, é cineasta, jornalista e produtora cultural. Participou de várias antologias de contos e de poesia. Publicou os livros Medusa, poemas infantis (2011) e Carne e Trigo (2012).Já foi premiada algumas vezes e está à frente do projeto Cidade Poema, que vem levando poesia às ruas e espaços públicos de Porto Alegre.

CACTUS

Seguem regando cactus

com seus versos consumados,

seus desejos de fatiota,

seus gestos de pince-nez.

 

No ar,  punhais se aposentam,

restam punhos descerrados,

pulsões de terno e gravata

e impulsos protocolares.

 

Seguem regando cactus,

aram desertos, cimento.

Há vigilância nos atos

e assepsia nos leitos.

 

SINA

Persigo

um monstro arredio -

alternativa

ao anjo vazio.

 

Cultivo

num vaso medonho

o antídoto

de um verde sonho.

 

Escondo

sob um roto capacho

a chave

da vida que não acho.

 

Aterrisso

antes do vôo

e mesmo sem engravidar

enjôo.

 

DEPOIS

Aí veio aquela dorzinha

que não é dor de morte,

muito menos de amor perdido.

 

Veio aquela coisa inefável

que se sente ao retirar

o último enfeite da árvore de Natal,

ao recolher os copos

no final de festa,

ao arrumar a cama

na manhã seguinte.

 

PRESSA

Era um tipo de angústia

que ansiava

por engolir o mundo.

E em seu desespero

errava as garfadas

e mordia a própria língua.

E morria à míngua.

 

LOU ALBERGARIA (1969) poeta mineira, é economista. Tem mantido publicação contínua nas redes sociais, blogs e revistas literárias como Germina e site Vidráguas. Publicou, em 2011, o livro O Cogumelo que nasce na bosta da vaca profana. Carne da Tarde é o próximo livro a caminho.

A PAGADORA DE PROMESSAS

Há 30 minutos quero fazer um poema
(ou é há 30 anos?)

O vazio criativo
de uma tarde fria de maio:
Longe o tempo
da escrita espontânea – cabelos 
revoltos, o riso frouxo
as ideias livres
sobre o palco do Grande Teatro
do Instituto de Educação de Minas Gerais:
a peça era O PAGADOR DE PROMESSAS – 

Rosa: a esposa adúltera
Marli: a prostituta explorada pelo cafetão
: Que papel escolher?

Hoje, eu escolheria o papel
do burro – o único salvo por Iansã. 

 

COSTURO O POEMA NA PELE

Minha poesia tem cheiro, som

Excreta e expele.

Ouço e aparo as arestas

Entrego o verbo

Feito carne

Para ser devorado

Pelos abutres e estetas.

Devora-me!

E te lapido, edifico

Desmorono, retifico

Só não te deixo ficar aí parado

No vácuo

Com cara de palerma.

Mudo!

 

BAGAGEM

A vida não é justa

é estreita quente

& úmida

onde você penetra

o seu medo de falhar

 

Não, amor, eu não posso carregar os seus medos

 

Estou retida na alfândega

- há séculos

por excesso de bagagem

 

DO AMOR & OUTROS (MIS)TAKES

Aos 10 entrei numa sala de Cinema 
pela primeira vez – e acordei! no
ombro do sonho
para sempre.
Eu sou do tempo em que horário
de filmes em salas de exibição – com 
raríssimas exceções – era diariamente
de par em par:
2 horas eram mais do que suficientes
para aprender a amar!

Sou de uma geração que aprendeu
a amar no escuro.

Por isso, 
somos tão idealistas
somos tão românticos
somos tão solitários! ainda
que acompanhados, estamos
quase sempre sozinhos:

porque nosso elo mais estreito é com o sonho
e não com as pessoas.

Sonhamos acordados, e
Amamos dormindo: 

– a idealização extrema 
dos personagens! 

No inconsciente, estamos de 
mãos dadas a Marlon Brando &
Maria Schneider; 
a Burt Lancaster & Deborah Kerr

e cantamos na chuva
por absoluta busca pelo sublime,
embora ‘sofrer’ por amor aumente as filas
diante das bilheterias.

Final Feliz só interessa nos álbuns
de família! – assim mesmo 
depois de participarmos
de todos os filmes
que a vida tiver nos permitido.

Claro que há exceções: Alguns não se encaixam
a tudo que foi dito; 

E há também os que não gostam de Cinema
e os que desaprenderam a amar assistindo à TV.

 

ALINE YASMIN (1969) poeta capixaba, estudou propaganda e marketing  no Rio de Janeiro e depois filosofia em sua cidade natal. Consultora de projetos culturais e integrados,  trabalha também com caligramas, estilo empregado na mostra Atos Reflexos, em 2004.

 

CANTOS DE MIM

 

Percorro os cantos, atabalhoada
venho de nada pra lugar nenhum
os muros da cidade não me impressionam

Tateio no horizonte um rumo
meio sem prumo, o passeio
a liberdade tem seu preço - 15 reais de taxi
no mais, relaxo na passarela
canto, pio, insinuo uma dança
(e lá vai ela)

O carro define seu trajeto,
serviço objeto da minha autonomia
e o que era longe ficou perto
e que o que agora é perto,
ficou pra trás
nada de menos
nem de mais

A cidade é assim
Cantos apenas em mim
que sem euforia,
nada seriam
senão curvas, retas, setas e afins.

ALTERO MEU RITMO

entre rimas alternadas

ora acelero

e peço pressa

ora - contemplo a madrugada

 

ora - sorrio flutuante

ora - entorno ríspida               alvejante

 

ora - sabia

ora - falante

 

ora eu

ora tu

ora bolas

 

VAZIO

é um nó

é um só bem fundo

 

tem cheiro de festa desfeita

cara amarela

buraco sem rumo

doença sem cura

ferida

loucura

pão velho

sopa estragada

chá com açúcar

roupa jogada

 

esse vazio tão só

tem cara de sol na cabeça

de jardim sem cuidar

e uma dor no peito

rasgando bem devagar

 

tem jeito de gato miando

num velho filme noir

 

QUERO SER FIEL

ao meu pão francês

ao meu português

e minha calça jeans

 

inimamente  lutar contra o efêmero

contra o género de qualquer um

contra o best seller

e a série- banal

contra o rótulo

e a massificação

 

acordar sempre às 7

com o humor habitual

e no mesmo trajeto

retribuir sorrisos e afetos

sem assumir riscos

que mudem meu destino

 

quero ser previsível

como um velho xaxim

 

ROSY FEROS (1971) poeta paulista , é formada em comunicação social. Participou de várias antologias e foi pioneira ao divulgar poemas na rede videotexto brasileira. Publicou o livro Tecendo Diários(2000) premiado no II Concurso Nacional Blocos de Poesia, em 1999.

NÃO SEI DEITAR NADA FORA

não sei deitar nada fora.

guardo tudo deitado,

dentro.

 

afora isto,

durmo encolhida sobre a gaze

de quando nasci.

ou quase.

 

ETERNO GERÚNDIO

meu ser começou a evoluir

muito antes de eu começar a andar.

 

minha história não inicia

no momento em que a começo pensar.

 

meu começo é agora,

embora eu o esteja iniciando há tempos,

pela vida afora.

 

SUJEIRA

meu corpo eu lavo

e assim me dispo

de tudo o que me é afeito

e tudo o que é feito de mim

eu lavo de mim

 

meu corpo eu lavo

e assim me descaso

com a realidade

me descasco em várias metades

sem utilidade

 

meu corpo eu lavo

como me é de hábito

e assim varro de mim

toda a sujeira e toda a escória

toda a história enfim

 

é na sujeira que estão as histórias

e pelo ralo se vão sem demora

tudo aquilo que fiz

tudo o que me fez sentir:

na sujeira está minha memória

 

MEMÓRIAS

memórias não são feitas de plástico,

memórias são feitas de elástico.

 

elas vão e vêm,

ao sabor do vento das lembranças,

como se fossem hoje.

 

perecer é quebrar o elástico.

                              

 


Publicado por Rubens Jardim em 12/03/2014 às 18h19
 
19/02/2014 22h55
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (45ª POSTAGEM)

ANGELA LEITE DE SOUZA(19  ) poeta mineira, trabalhou por cerca de 30 anos em diversos órgãos da imprensa brasileira. Publicou dezenas de livros, a maioria na área infanto-juvenil. Com o livro de poemas Estas muitas Minas, conquistou o prêmio Casa de las Américas de Literatura Brasileira, de Cuba, em 1997. Estreou com Amoras com Açucar (1982). Publicou também Lição das horas, e Entre linhas, recém-lançados.

TUDO

A paz humana jaz

nesse teu peito sem tréguas.

Amansa a ânsia.

Despe o desejo.

Verga a vaidade.

Sonda a solidão.

Aquieta tuas águas turvas

para ver-lhes o fundo.

Despoja-te de tudo

Até seres só amor.

Até seres tudo.

 

PAISAGEM

Serpentina dourada

pelos últimos raios

o rio, lá embaixo, se despede

do olhar efêmero

dentro do avião.

 

Captamos atônitos

sua líquida beleza.

Mas no quadro da janela

já ficou amarela

a fotografia

dessa emoção.

(SEM TÍTULO)

Afundo-me nestes retalhos

perco-me em tantos trabalhos

lavar quarar-engomar

tecer cortar e coser

cascar afogar ferventar...

 

Ai, vida de alinhavos

labuta de brasa e broa

faina agridoce

em fogo brando.

 

Aí, tempo não fosse

bica pingando

cancela que desse

pro amanhã.

 

Mas tudo é ferrolho

e picumã.

(SEM TÍTULO)

Meu desejo

agora:

não ter nenhum desejo

ou antes

ter a gula

de um cantar de galo

fora de hora

só pelo gosto

de despertar

neste peito gasto

alguma aurora.

ROSANGELA DARWICH(1962) poeta paraense, formou-se em psicologia, em 1984, pela Universidade Federal do Pará, e exerce a profissão de professora de psicologia da Universidade da Amazônia. Possui doutorado em psicologia e é autora de Quando Fernando VII Usava Paletó (1982); Levasse as Coisas na Flauta (1988); Histórias Mortas (1993).

Às vezes estou aflita,

outras estou tendo dois ou três sentimentos ao mesmo tempo.

Não caibo em meus pensamentos e eles desconsideram isso.

 

Estar viva não significa que aceito.

Às vezes me sinto como se aceitasse,

outras estou tendo dois ou três outros sentimentos.

 

Ainda que ninguém perceba,

existe um lago com patos cinzas e esverdeados dentro de mim.

Às vezes um dos patos morre,

às vezes acontecem nascimentos óbvios, seres pequenos de dentro de ovos.

Eles nadam, eu aconteço.

(SEM TÍTULO)

Posso te dar uma sala cheia de livros para que sejas um

dentre os meus livros nessa sala tua.

Posso te dar a alma que eleva um poema

e, além dela, um corpo de palavra.

 

Queres ir de um estado sólido, frígido,

à incandescência da página?

Queres ser o rastro dessas letras fechando a minha mão?

 

Serás eternamente o que quer que sejas desde o início,

livre de tempo e destino. Me verás passando

como se ainda sonhasses. Como se ainda sonhasses,

não te surpreenderás comigo.

(SEM TÍTULO)

Quando aceitei o fato de que a Terra não é apenas redonda

mas está solta no espaço, girando em torno do sol e de si mesma,

fiz do céu uma primeira aula de irrealidade.

Olho os meus pés sobre o chão e tento me ver azul

como sei que sou azul quando desapareço ao longe.

Avanço além do que percebo porque me movo através de palavras

e fiz delas, portanto, uma segunda aula de irrealidade.

A seqüência de números pode indicar que insisto em meus erros

porque quero o absurdo que dispensa a lógica.

Cada astro em sua órbita, cada som com um sentido,

é possível que a terceira aula de irrealidade seja a última,

assim como é possível que não seja.

(SEM TÍTULO)

Há dias para as palavras

e dias mudos.

Celas entre vozes e silêncio,

há dias impenetráveis

e dias cúmplices.

Sob profecias e arbítrios,

há dias só para os deuses

e dias que se interrogam como qualquer homem.

LISBETH LIMA DE OLIVEIRA (1963) poeta paraibana, formada em jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba. Fez especialização em língua e literatura francesa e mestrado em biblioteconomia. Morou quatro anos e meio na França. Desde 1998 mora em Natal. Publicou os livros de poemas Dormência (2002), Felice(2004) e Româ (2008).

Torres gêmeas

Da construção gemelar.

pedaços homozigotos de pedra e gente.

 

Diligente

Desliza ágil, qual dedos sobre cetim,

o grafite.

E desenha.

E rabisca.

Mas é quando escreve palavra

que ele se mostra veloz,

quase indomável,

como são as palavras quando querem ser lidas.

 

Incendiário

Debandaram pássaros,

bichos de arribação.

Flores queimadas na estrada

não se deixaram cheirar.

Um amor perdido, negado, devasta,

abre clareiras.

É invasivo o fogo da ausência.

 

Encontro

Trouxe-me a chuva.

E, depois dela,

céu aberto, anil.

 

Trouxe-me a noite.

E, dentro dela, seu corpo chuviscado,

amanhecido junto ao meu.

Dia claro, céu aberto. abril.

ANA PELUSO(1966) poeta paulistana, é designer gráfica e possui participação em algumas antologias. Abandonou Letras e Psicologia pelo Desenho Publicitário. Não deu certo. Aos treze anos sonhava ser Alquimista. Aos cinco, Bailarina, Pianista, Pintora. Aos sete, Professora. Escrevia Diários. Publicou, recentemente, o livro 70 poemas

SEM TÍTULO

É produtivo fabricar tijolos

um tijolo sozinho pode ser obra de arte

com mais alguns é parede, é quarto, sala.

 

raro dizer poesia a céu aberto

e só bate sol no coração quando se atravessa tijolos

e é você do outro lado

 

não me lembro de já ter visto tantos tijolos

nem de nada

como quando você perguntou o nome de uma estrela

olhando diretamente pra ela

SEM TÍTULO

Primeiro transformou a casa em uma casa menor

por isso dobrou a casa

depois transformou a casa em uma menor ainda

e por isso dobrou de novo

 

até perceber que morava em um origami

 

de pássaro

 

                                                    só porque a casa voou

 

TEMPO

O tempo

tem

dono.

 

O tempo

tem

sono.

 

O tempo

faz

temporal

 

Na madrugada.

 

E a hora

já passada,

de tanto

 

passar

passou

da medida.

 

O tempo

não tem

saída.

 

VERSOS SOLTOS

Os versos

são soltos.

Os pensamentos

também.

 

Apenas poeira

ao vento,

nada de fundamento.

Nada de especial.

 

Centelhas elétricas,

as palavras

ficam no éter

até encontrarem o papel.

 


Publicado por Rubens Jardim em 19/02/2014 às 22h55



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