Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
27/05/2011 20h58
Álvaro Alves de Faria é um poeta comprometido com o seu povo e com a sua língua

UMA DECLARAÇÃO DE AMOR À VIDA,
À POESIA, À HUMANIDADE

Transcrevo esse texto, sempre visceral e iluminado, do meu amigo: poeta Álvaro Alves de Faria. É uma homenagem a todos que estiveram presentes naquela noite de sábado no Sarau da Casa das Rosas. Mas é mais do que isso: é uma homenagem a todos aqueles que não estiveram lá, mas acreditam na palavra poética. É uma homenagem a todos nós que ainda acreditamos no mundo e alimentamos a esperança de transformações. Fiquei emocionado com essa declaração de amor pela poesia e pela humanidade. Eis o texto:

"No sábado à noite, em plena noite de escuridão, em plena noite de muita dor, fui à Casa das Rosas, na Paulista, dirigida pela meu amigo poeta Frederico Barbosa. Pedi para minha filha Daisy ir comigo. Tinha medo de me perder na cidade limpa de São Paulo. Cidade dos becos. A cidade alucinada que corta as veias aos pedaços e deixa que os delírios escorram pelas calçadas, aos pedaços de passos e sombras. Um recital de poesia. No meio de suas sombras, a cidade ainda faz recitais de poesia, o que é bom para todo mundo. Tantas lembranças dos anos 60, a Catequese Poética, de Lindolf Bell, O Sermão do Viaduto, os recitais que fiz no Viaduto do Chá. Nove recitais com microfone e quatro alto-falantes. Cinco prisões pelo Dops, num tempo de horror. Tantas palavras guardadas por dentro, onde está, enfim, a vida. Onde a vida está. Tudo isso conversado ali com calor, com orgulho mesmo de ser poeta, de participar de alguma maneira, de rasgar coisas, de gritar as palavras esquecidas. Nunca serei merecedor do que disse de mim meu amigo Rubens Jardim. Nunca. Tudo que disse de mim, dedico a ele. Recital de meus amigos Rubens Jardim e Ruy Proença. Belíssimos poetas. Rubens dos anos 60, Rui, mas novo que nós. É bom saber que nem tudo está perdido. Depois dos dois poetas da noite, as pessoas, muitas pessoas, subiram ao pequeno palco para ler os seus poemas no “sarau”. Uma maravilha. Gente que começa a escrever. Gente que vem de longe para ouvir poesia e dizer seus versos, gente que ainda acredita no mundo. Fiquei comovido duas vezes, profundamente comovido: por Rui Proença e Rubens Jardim e depois pelas pessoas que leram seus poemas simples, de palavras simples, de uma vida simples, de um país distorcido em desastres constantes, um país do faz-de-conta, um país corrupto, que não tem vergonha de ser o que é, um país desigual, de gente esperta, os que decidem os destinos. Poemas com tais palavras tão doces que chegam a machucar. Saí da Casa das Rosas tropeçando em mim, dentro de mim. Pelo menos ainda nos resta a poesia. E essa poesia, um recital de poesia de dois amigos, me salvou mais uma vez. Eu tenho a impressão que ainda estou vivo."


Publicado por Rubens Jardim em 27/05/2011 às 20h58
 
15/04/2011 19h14
Willer também foi notório e todo mundo conhecia ele

NA CRIAÇÃO, NA LEITURA, NA CRÍTICA E NO ENSINO
É PRECISO RECUPERAR A DIMENSÃO DA EMOÇÃO,
DA MAGIA E ENCANTAMENTO

Conheço o poeta Claudio Willer desde os turbulentos anos 60. São Paulo ainda era bem provinciana e todo mundo conhecia todo mundo. Eu, por exemplo, ainda não fazia parte da Catequese Poética, mas já conhecia o poeta Lindolf Bell –mesmo sem conhecê-lo! A mesma coisa vale para o Willer, o Piva, o Mautner -- e tantas outras figuras que desfilavam pelas mesmas regiões e até pelos mesmos bares.

Pois bem: Willer, Piva, Décio Bar, Biccelli e Fransceschi formavam, naquela década dos 60, o núcleo dos “poetas malditos” da paulicéia. E fizeram por merecer essa classificação, pois publicaram manifestos polêmicos, “enterraram vivos” alguns poetas e atacaram—com sarcasmo—figuras que pontificavam no panorama literário daquela época. Entre eles, concretistas e praxistas, chamados ironicamente de “vanguarda acadêmica” –apesar das piruetas e dos saltos verbais e conceituais.

O grande mérito de Willer, Piva e seu grupo foi – além de todas as provocações, questionamentos e contestações – ter trazido à tona autores substancialmente importantes. Norman Brown, Reich, Marcuse, Lautrèamont e os poetas surrealistas, Ginsberg e os poetas da Beat Generation quase não eram conhecidos, discutidos e divulgados.por essas bandas. Trazê-los à baila, através de artigos, traduções,etc, oxigenou repertórios e ampliou o leque das discussões..  

O fato, extremamente positivo, é que Willer e seu grupo procuraram mostrar a todos que a poesia deve ser encarada como caminho para a libertação. Seja dos corpos, seja das mentes. Ou seja: poesia não é brincadeira, nem bordão, nem bordado—e nem caretice. E a atividade poética é uma atividade revolucionária. Nós, da Catequese Poética, comungávamos dessa mesma crença. Por isso, jamais fomos adversários. Aliás, todos dessa geração-- incluindo Álvaro Alves de Faria, Carlos Felipe Moisés, Eunice Arruda, Péricles Prade, Eduardo Alves da Costa e outros—mantiveram relações sempre cordiais e fraternas.

Talvez porque o nosso único inimigo—e não só nosso— eram os militares que se aboletaram no poder, suspendendo as garantias constitucionais, prendendo, torturando e matando. Isso sem falar da censura que amordaçou artistas e silenciou a imprensa. Vivemos períodos de arbitrariedades, de terror e medo. Mas, mesmo assim, nunca deixamos de perseguir o sonho de mudar o mundo. Talvez seja correto dizer que Willer e Piva foram mais atrevidos e se vincularam também ao “mudar a vida” de Rimbaud.

O certo mesmo é que Willer e seu grupo foram fiéis aos princípios transgressivos que acabaram norteando revoluções comportamentais. Praticaram várias estrepolias pela cidade, publicaram livros e artigos, fizeram leituras de poesia, louvaram os apóstolos da desordem, metralharam a geração de 45--e questionaram duramente o panorama convencional e o coro dos contentes.

Para que o leitor possa sentir o clima dessa atitude inconformista, transcrevo as palavras de Piva no prefácio de Anotações Para um Apocalipse (1964), primeiro livro do Willer: “Toda poesia oficial brasileira, todo este acêrvo pernicioso-fútil de neo-parnasianos, concretistas, marxistas de salão, rilkeanos-lacrimosos, representa um desejo insaciável de autoridade, de impotência mística, de resignação artificial & patológica diante de uma sociedade patriarcal & opressiva”.

 O próprio Willer confessa, após citar Ginsberg –“a ordem é ampliar a área da consciência”—que se sente inserido na tradição histórica que vem do romantismo profético de Blake, dos fragmentos de Novalis, de Holderlin, de Jean Paul Richter, de Ginsberg e do Surrealismo. E, para concluir esta tentativa de situar o poeta Cláudio Willer, nada melhor do que buscar as palavras que parecem ter norteado seu excelente trabalho como poeta, ensaísta, crítico, tradutor e agitador cultural. Refiro-me a Blake, quando diz que “o caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria”. E a Rimbaud quando afirma que”o poeta torna-se vidente por um longo, imenso e sistemático desregramento de todos os sentidos”.

Com a palavra, o poeta Claudio Willer:

praia na ilha
é assim que eu gosto: ninguém por perto
só o acolchoado de areia macia
estendido entre as dunas
onde o esforço de andar
transforma os passos em gestos voltados para baixo
na direção do caldeirão
onde se debate a fumegante cordoalha
labirinto de convulsões
vazio atravessado por espasmos
novelo de tentáculos de espuma, de correnteza polar 
e as mãos de gelo
que apertam a garganta e deslizam pelo ventre
labaredas de mar, ganchos fincados nas costas
para nos arrastar ao fundo
— penetrar nesse abismo
é navegar o dorso da morte, transformar a consciência
em pátio de ventanias —
mas, no entanto
não somos daqui
viemos de muito longe
para descobrir a derradeira praia deserta
no costão oceânico da ilha
cercada de muralhas de vento e claridade
onde cobertores de maresia
são estendidos sobre nossos corpos
mansamente reclinados
sobre a pele dourada do Tempo

Praia Mole, Florianópolis, 1981

Após uma manifestação em defesa da reserva florestal

de Caucáia do Alto

por mim teria ficado por lá mesmo

no altiplano

onde tudo começou

bem acima

destes bolsões de pânico

bem longe

deste mundo coagulado

na devida distância

desta fantasia sulfurosa

na qual moramos

teria ficado por lá mesmo

mergulhado na lagoa de reencontro

escavada na superfície do planeta

em sua primitiva forma

ficar por lá mesmo

encontrar o mais puro rastro vegetal

entre samambaias sem memória

cipós de sabedoria

e círculos de névoa

ficar lá mesmo

buscar o segredo do arenito

a linguagem da pedra

percorrer o avesso da consciência

ficar por lá mesmo

nunca mais sair

deste planeta

frio e luminoso

e sempre celebrar

a redescoberta do corpo

pela planta dos pés

 

POEMAS PARA LER EM VOZ ALTA

1

EROS
viajantes inertes
imersos no silêncio dessas horas
quando o tempo não é mais tempo
porém lassidão
e nossos corpos arquejantes construções
envoltas em nudez
testemunhada apenas pelos objetos da casa, os quadros na parede, os pesados móveis, os livros e suas lombadas, vasos de plantas, espelhos, e mais a negra silhueta dos prédios recortados contra a janela
rosto cego da cidade agora adormecida a observar-nos fixamente
eu bruxo, você sibila
que deuses cultuamos?
parados na pausa entre sobressaltos
que alquimia inventamos?
o peso que nos paralisa e adormece
não é cansaço
porém outra coisa
sensação do profundo
o obscuro sentir
do mundo que respira
pelos poros da escuridão
e nós, manietados pelo prazer, apenas conscientes
da presença dos objetos da casa, móveis, vasos de plantas, livros, almofadões
espalhados pelo chão, nossas roupas jogadas ao acaso, mais o negro recorte dos prédios
por trás da janela,
perfil da paisagem urbana, impassível testemunha
mal sabemos quem somos
lembramo-nos apenas dos nossos nomes
restam-nos o repouso e uma intuição
desperta para o morno mundo de nossos corpos
nunca, nunca havia sentido isso antes assim

2

quando o calor da noite de verão
e a chuva da noite de verão
se encontram
e são a mesma torrente de vida a escorrer por nossas artérias
então
reconhecemo-nos pelas carícias
um arco-íris pode sentar-se à cabeceira da cama
uma nuvem pode servir de cobertor
uma paisagem de sol nascente
em uma praia pontilhada de tendas de campistas
reflete-se no lago luminoso do seu ventre
a montanha e sua encosta recoberta de matagais
onde certa vez nos perdemos entre nascentes de rios
projetam sua sombra em suas coxas
planícies batidas pelo vento alísio
que atravessa o continente, o universo
são nossa imaginação febril

3

a colcha era verde
e a lâmpada azulada
costumavam ouvir músicas lentas e suaves
achavam que a estante repleta de livros tinha um ar solene
e gostavam disso
de qualquer coisa
que sugerisse um ambiente sobrenatural
eram rápidos, muito rápidos em seus jogos intelectuais
serviam-se em taças transbordantes, borbulhantes
e tudo era praticado com uma certa indiferença
com a naturalidade de há tanto tempo
termos nos habituado a estar juntos, a ficar nus, a beijar-nos na boca
deitar-nos sobre a colcha verde do sofá, à luz azul da lâmpada
ao lado da estante de livros compondo um clima de ritual
sugestão de coisa esotérica
decerto olhavam-se
e ficavam de voltar a encontrar-se outro dia
(as noite passavam depressa)

4

nossos hábitos delicados e perversos
nossas diversões meio delinquenciais, meio filosóficas
nossos prazeres íntimos e raros
as conversas irisadas de memória
gestos aos poucos entretecendo-se
na plenitude da nudez familiar
enquanto íamos nos transformando
nos pulsantes personagens crepusculares
de nossas narrativas
rodeados por um silêncio vivo, um tempo latejante
da noite percorrida
para não chegar a lugar algum
durante o dia
éramos simples mortais

5

é hora de dizer claramente como são as coisas:
você abre suas portas suas pernas seus braços sua boca seu corpo
você se escancara
eu embarco em você
eu me engajo me prendo me agarro navego em você
plano em um jogo de arriscado equilíbrio
atiro-me em seus abismos
singro suavemente sua brisa
enfrento seus maremotos
viajo por sua velocidade
perco-me no emaranhado de seu pântano, no labirinto de terra e de areia,
de água do mar e de água doce
- nós somos o pântano e somos o labirinto
cego-me em sua brancura
alço-me em sua ondulação
você é o planeta onde pouso
a nuvem em que me envolvo
aura estelar, dissipação de caudas de cometas
leva-me e me conduz
nessa dança desarticulada
para mais longe para o alto para o
profundo
me arrasta
amor oxímoro
amor, palavra de paradoxos

6

seus olhos têm muitas cores
que refletem o brilho de cada hora
estranhas palavras
atravessam nossas conversas
É PRECISO QUE SEJAMOS MODERNOS COMO O AMOR
mas não sei
se não recuaremos
confundidos diante da visão da nossa crueldade

7

ah, mas você não viu nada
essa festa para a qual me convida
só pode ser na clareira do matagal em chamas
no subsolo do edifício que desaba em escombros
pois o verdadeiro amor, o amor somado ao prazer, é outra coisa
overdose, êxtase infernal
que fatalmente nos destruirá

 MAIS UMA VEZ

mergulho no amor

com a cega convicção dos suicidas

penetro passo a passo

nesta região misteriosa

turva
opaca

aberta pelo encontro dos corpos

e sinto

outra familiaridade nas coisas

esta calma permanência dos objetos

agora formas de lembrar-se

o mundo

que se reduz a traços da presença

a realidade

que fala ao transformar-se em memória

tudo é conivência e signo

o espaço

uma extensão do gesto

as coisas

matéria de evocação

qualquer coisa treme dentro da noite como se fosse um som de flauta

e a cidade

se contorce e se retrai

MAIS UMA VEZ
ao abrir-se................................. para este turbulento silêncio

 

de olhar frente ao olhar

pele contra pele

sexo contra sexo


Publicado por Rubens Jardim em 15/04/2011 às 19h14
 
31/03/2011 19h02
a ruptura com o instituído e o desdobrar do desconhecido
DESDE MENINO SENTI A DOR DO MUNDO
E UMA CERTA OPRESSÃO NAQUILO QUE ERA  CONSIDERADO CORRIQUEIRO
Sinto algo nietzschiano nessa escrita além dos limites. Juliano provoca um impacto desestabilizante. Ele acorda em nós as avalanches que antecedem as nomeações. É poesia, ficção, ensaio, filosofia --tudo misturado--mas com alta voltagem! Acho que ele é um caso sério dentro da nossa literatura. Ficarei feliz se os leitores compartilharem esse sentimento comigo.
JULIANO GARCIA PESSANHA publicou 4 livros inclassificáveis: Sabedoria do Nunca (1999), Ignorância do Sempre (2000), Certeza do Agora (2002) e Instabilidade Perpétua (2009). Em cada um desses trabalhos, Juliano mistura poesia, ensaio, ficção e filosofia. E faz isso com uma contundência rara e uma beleza avassaladora. Os títulos já nos jogam em uma tríade abissal: nunca, sempre, certeza --complementada pelo tremor da instabilidade perpétua!
Pra quem não teve ainda a satisfação de mergulhar nas palavras desse autor, pincei alguns trechos de um texto que recebi de meu sobrinho, Saulo. Chama-se Província da Escritura --e me deixou absolutamente iluminado e desconcertado. Os textos de Juliano seguem entre aspas.
"Estar atingido também pela proximidade do rosto do outro é enxergá-lo a partir do aberto, não sendo o aberto mais do que o lugar de uma aparição intrinsecamente frágil, de uma aparição-desaparição. Mas o homem não gosta de estar exposto; ele é alérgico ao lugar. E, enquanto alérgico, converteu-se num animal blindado e, quando alguém aponta para o céu (como um personagem de Bernhard) e diz: “veja, ali está aberto, vejam, está aberto; a palavra a-ber-to está redigida no firmamento”, então, já não se percebe o que isso quer dizer, pois o homem blindado gosta de viver no fechado e de medir a palmo."
"É nas palavras da língua que o mundo deixa de ser mudo e pode tocar a aparição"
"Celebrar é estar exposto e atingido pelas coisas a ponto de, ao dizê-las, guardar-lhes a vibração, comemorá-las"
"O homem blindado expulsou a hospedagem"
"O homem blindado, entretanto, já não confia em mais nada, nem na vida nem na morte, e quando acontece de vida ou morte visitá-lo ele diz estar sofrendo da síndrome do pânico e busca então uma focinheira química junto do psiquiatra. Ali no consultório eles conversam muito, mas aquelas palavras-deserviço já não celebram acontecimento algum a não ser o negócio da administração da vida."
"Foi apenas porque eu sofri formidavelmente na terra das figuras, na terra do homem-diploma e do homem-doutor, na terra da mulher-charme e do homem-mulher interessante e sensível, bem como na da mulher eficaz e profissional que eu, não tendo encontrado aí eco ou ressonância alguma e lugar algum de descanso e acolhimento, dirigi-me aos diários a fim de não ser triturado pela ofuscação gelada dos homens blindados. "
"Os paradigmas teóricos duram o tempo que dura a geração e a geração-filhote, cujo discurso é o discurso-poder na empresa universitária e na empresa do jornalismo cultural, para a qual a empresa universitária oferece a mão-de-obra qualificada. "
"Muitas vezes conversamos com um especialista em Dostoiévski ou com um especialista em Kafka e logo ficamos imensamente tristes e decepcionados, pois percebemos que em sua história, em seu corpo e em sua conversa não há o menor sinal de qualquer inquietação kafkiana ou dostoiévskiana, e que ele, em sua víscera, desconhece inteira e realmente aquilo sobre o que fala e que sua vida se desenrola na antípoda da idéia que propaga."
"Refugiei-me na província da escritura enquanto província de uma espera e de um pressentimento"
"Eu levei aproximadamente 30 anos para me amigar da criança exacerbada, da criança enlouquecida e me aproximar do segredo da escrita: dilacerar o homem, reconduzí-lo ao lugar, ao lugar onde jorrou o primeiro rosto contra a noite da ausência...E eu escrevo a reboque da criança"
"A palavra da escritura é a palavra que despenca. A palavra despencada é a palavra reminiscente, pois nela o homem dá testemunho do surto-susto de sua aparição e nela o homem se aninha no lugar do assombro."
"A língua da escritura é a língua da palavra despencada e a palavra despencada desdiz a palavra industrializada, a palavra cultivada e a palavra prostituída"
"Os intelectuais se põem a interpretar poemas e escrituras quando, na verdade, é o poema e a escritura que poderiam interpretar e perfurar suas teorias estéticas, bem como sua propalada intelectualidade".
"Teorias literárias muitas vezes são defesas contra a literatura, assim como teorias psicológicas são pequenas fobias diante do terremoto humano".
"E não há nada mais a fazer a não ser isso, a não ser nos lembrar de que smos um fiapo visitado pelo mistério e que nossa vida é a sublevação hesitante onde o mundo, em vão, se ilumina".

Publicado por Rubens Jardim em 31/03/2011 às 19h02
 
03/03/2011 00h21
O POETA QUE QUIS SALVAR O HOMEM E A MÁQUINA, ATRAVÉS DOS PODERES DA POESIA

Mesmo fazendo poesia de alta qualidade até a década de 70, e sempre dando grandes contribuições à linguagem poética, Cassiano Ricardo foi sumindo da ordem do dia dos estudiosos e dos amantes da boa poesia

Já nos livros Martim Cererê(1928) e O Sangue das Horas (1943), o poeta Cassiano Ricardo deixa entrever, além do forte aroma da terra, uma profusão de imagens quase sempre de natureza visual. E o poeta Manuel Bandeira, que nunca foi bobo e incompetente, percebeu  nesses poemas –ainda que inspirados no mundo subjetivo do poeta –“a impressão de instantâneos  fotográficos apanhados à luz crua meridiana”.

Parece profecia, mas não é. É coisa de poeta. Que apesar de estar embaraçado em um cipoal de símbolos e sinais, acaba profetizando—e várias vezes acertando o alvo. É o caso desse comentário antecipador do inesquecível Manuel Bandeira. Afinal, Cassiano Ricardo, além de renovar-se  constantemente, desde a sua estréia parnasiana em 1915, foi o primeiro poeta consagrado a se arriscar às mais estranhas e inovadoras experiências vanguardistas. Pode-se dizer que a questão da palavra, como matéria-prima do poema, começou a inquietá-lo e a seduzí-lo cada vez mais, principalmente depois das teorizações dos poetas concretos e do surgimento da poesia práxis.  Por isso, o seu bombardeio  nos elementos de composição resultaram em várias preciosidades. Maravilha, por exemplo,  virou mar, ave e ilha. Mas nessa caminhada-- sempre complicada-- dada a enormidade da tarefa que cabe ao poeta no mundo, Cassiano passou por tudo.

Festejado pelos mestres parnasianos, graças ao seu livro Frauta de Pã (1917), deu as costas ao parnasianismo e atirou-se em cheio na aventura modernista. Segundo ainda o poeta Manuel Bandeira, “pintou-se de verde-amarelo, foi caçar papagaios e dessa volta no Brasil trouxe um livro de enorme sucesso: Martim Cerere.”  Na sequência surgem Deixa estar Jacaré (1931), Um dia depois do Outro(1947), A face perdida(1950) e os livros que se seguiram até O Arranha Céu de Vidro (1956). Mas o poeta não pára por aí. A visão tecnológica do mundo vai ser ampliada com Montanha Russa (1960) e A difícil Manhã(1960, ganhador do Jabuti)). E atinge a sua mais plena realização com o livro Jeremias Sem chorar (1964), ganhador do Premio Jorge de Lima, em 1965. Nesse livro, o poeta mostra seu domínio das técnicas gráfico-visuais sem nenhum prejuízo do lirismo e do conteúdo realmente poético. Como o profeta do Velho Testamento, o poeta do mundo contemporâneo também está assaltado de mil temores que lhe justificariam plenamente o pranto; mas o Jeremias moderno é “sem-chorar”; há máquinas destinadas a chorar por ele.

Mas não é só isso. Embora considerasse os poetas de vanguarda (leia-se os irmãos Campos, Décio Pignatari, Mário Chamie,etc) muito novos e por demais radicais, foi Cassiano quem acolheu poemas e estudos desses poetas jovens na página Invenção que mantinha no jornal Correio Paulistano. Sem contar com os diálogos críticos que estabeleceu com essa moçada, através dos ensaios que publicou em livros como 22 e a Poesia de Hoje (1962), Algumas Reflexões sobre Poética de Vanguarda(1964) e Poesia Praxis e 22 (1966).

O próprio poeta Mário Chamie, idealizador e instaurador da poesia práxis, chegou a dizer que “seguir as fases de Cassiano é percorrer a série de pontos-chaves que lastreiam os nossos movimentos poéticos”. Afirmação que é confirmada pelo respeitado crítico Tristão de Athayde. Segundo ele, depois de 43 anos de modernismo, Cassiano lança a sua revolução na terceira fase do modernismo: “nem verso, nem prosa (poema em prosa) mas poema+poesia”. Ou seja: com extraordinária sutileza de raciocínio e erudição crítica Cassiano Ricardo propõe “a autonomia do poema, face ao verso e à prosa”.

Pequena seleção de poemas de Cassiano Ricardo

Poética
1
Que é a Poesia?

uma ilha cercada
de palavras
pro todos
os lados.
2
Que é o Poeta?

um homem
que trabalha
com o suor do seu rosto.
Um homem
que tem fome
como qualquer outro
homem.

(do livro Jeremias Sem Chorar)

Ladainha

Por que o raciocínio,
os músculos, os ossos?
A automação, ócio dourado.
O cérebro eletrônico, o músculo
mecânico
mais fáceis que um sorriso.

Por que o coração?
O de metal não tornará o homem
mais cordial,
dando-lhe um ritmo extra-
                        corporal?

Por que levantar o braço
para colher o fruto?
A máquina o fará por nós.
Por que labutar no campo, na cidade?
A máquina o fará por nós.
Por que pensar, imaginar?
A máquina o fará por nós.
Por que fazer um poema?
A máquina o fará por nós.
Por que subir a escada de Jacó?
A máquina o fará por nós.

Ó máquina, orai por nós.

 
(do livro Jeremias Sem Chorar)

                                                                                                                                                                                                                          Serenata Sintética

Lua
morta

       Rua
       torta

Tua
porta

 

A rua

Bem sei que, muitas vezes,
O único remédio
É adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem,
A dívida, o divertimento,
O pedido de emprego, ou a própria alegria.
A esperança é também uma forma
De continuo adiamento.
Sei que é preciso prestigiar a esperança,
Numa sala de espera.
Mas sei também que espera significa luta e não, apenas,
Esperança sentada.
Não abdicação diante da vida.


A esperança
Nunca é a forma burguesa, sentada e tranqüila da espera.
Nunca é figura de mulher
Do quadro antigo.
Sentada, dando milho aos pombos.

Sala de Espera

(Ah, os rostos sentados
numa sala de espera.
Um "Diário Oficial" sobre a mesa.
Uma jarra com flores.
A xícara de café, que o contínuo
vem, amável, servir aos que esperam a audiência
[marcada.

Os retratos em cor, na parede,
dos homens ilustres
que exerceram, já em remotas épocas,
o manso ofício
de fazer esperar com esperança.
E uma resposta, que será sempre a mesma: só amanhã.
E os quase eternos amanhãs daqueles rostos sempre
[adiados
e sentados
numa sala de espera.)

Mas eu prefiro é a rua.
A rua em seu sentido usual de "lá fora".
Em seu oceano que é ter bocas e pés
para exigir e para caminhar.
A rua onde todos se reúnem num só ninguém coletivo.
Rua do homem como deve ser:
transeunte, republicano, universal.

Onde cada um de nós é um pouco mais dos outros
do que de si mesmo.
Rua da procissão, do comício,
do desastre, do enterro.
Rua da reivindicação social, onde mora
o Acontecimento.

A rua! uma aula de esperança ao ar livre.

Você e o seu retrato

Por que tenho saudade
de você, no retrato,
ainda que o mais recente?

E por que um simples retrato,
mais que você, me comove,
se você mesma está presente?

Talvez porque o retrato
já sem o enfeite das palavras,
tenha um ar de lembrança.

Talvez porque o retrato
já sem o enfeite das palavras,
tenha um ar de lembrança.

Talvez porque o retrato
(exato, embora malicioso)
revele algo de criança
(como, no fundo da água,
um coral em repouso)

Talvez pela idéia de ausência
que o seu retrato faz surgir
colocado entre nós-dois

(como um ramo de hortênsia)

Talvez porque o seu retrato,
embora eu me torne oblíquo,
me olha, sempre, de frente

(amorosamente)

Talvez porque o seu retrato
mais se parece com você
do que você mesma (ingrato).

Talvez porque, no retrato
você está imóvel,

(sem respiração…)

Talvez porque todo retrato
é uma retratação.

(do livro A difícil Manhã)

Canto Incivil

Basta estar vivo
pra ser subversivo
( Ou subservivo.)
Basta não figurar
no registro civil
pra ser incivil.
( Ou vil, pra encurtar a palavra.)

Basta ser incivil
pra não ser ninguém
Basta não ser ninguém
pra ter o apelido
que a polícia dá
a quem não é ninguém.

Tinha eu dois nomes:
Zebedeu,
que a miséria me deu.
E “elemento subversivo”
que a polícia me deu.

E apenas uma dor:
a que a vida me deu.
e eis-me aqui, incivil,
(ou vil, pra encurtar a palavra).

Uma patada de cavalo
em meio do comício
e eis-me aqui, estendido em decúbito
dorsal.

(Ou já cortado ao meio,
sem dor, nem sal.)


Publicado por Rubens Jardim em 03/03/2011 às 00h21
 
14/02/2011 21h59
O POETA AUGUSTO DE CAMPOS COMPLETOU 80 ANOS

Ninguém pode negar que o movimento da poesia concreta alterou profundamente o contexto da poesia brasileira. Pôs idéias e autores em circulação. Procedeu a revisões do nosso passado literário. Colocou problemas e propôs opções. Lembro-me da expressão joyceana verbivocovisual, uma espécie de síntese integrada das dimensões semântica, sonora e visual das palavras. E que permaneceu, ao longo desse tempo todo, no horizonte da produção desses poetas. Isso sem falar nos suportes e nos meios técnicos mais diversos que foram sendo utilizados: livro, revista,jornal, cartaz, objeto,LP, cd, videotexto, holografia, vídeo, internet.

Além disso, o grupo de poetas concretos – Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, José Lino Grunewald e Ronaldo Azeredo –empenhou boa parte de sua atividade teórica na constituição de um repertório de formas poéticas, por meio da revisão crítica de autores e da tradução de uma grande variedade de obras de outros idiomas para o português. Caso de Mallarmé, Ezra Pound, Cummings e James Joyce—principalmente.

62 anos só de poesia

Com 18 anos, Augusto publicou seus primeiros poemas.Foi na Revista Brasileira de Poesia, editada pelo Clube de Poesia, entidade ligada ao pessoal da Geração de 45. Dois anos depois surgiu seu primeiro livro: O Rei menos o Reino (1951),Edições Maldoror.  No ano seguinte, junto com o irmão Haroldo e Décio Pignatari, participou da criação da revista Noigrandes, palavra misteriosa que aparece nos Cantos, de Ezra Pound, decifrada como 'antídoto ao tédio'  e dá origem ao grupo que iniciou o movimento da Poesia Concreta no Brasil.

Datam dessa época, a aproximação com os artistas do grupo ruptura (principalmente Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros, Lothar Charroux e Luiz Sacilotto).No segundo número de Noigrandes(1955) publicou poetamenos, uma série de poemas coloridos e dispostos de maneira original na página, inspirados na música de vanguarda de Anton von Webern (1883-1945). Em 1956 e 1957 participou do lançamento oficial da Poesia Concreta na I Exposição Nacional de Arte Concreta (MAM/SP e saguão do MEC-rio). A realização desse evento conseguiu reunir pintores, escultores e poetas, todos unidos em torno de um princípio comum: a arte concreta. Em 1958 participou, com Haroldo e Décio, da redação do Plano-Piloto para Poesia Concreta.  Entre outras coisas eles anunciavam o fim do verso como unidade rítmico –formal e propunham uma nova arte geral da palavra. Conforme eles mesmos disseram: ”com o poema concreto ocorre o fenômeno da metacomunicação: coincidência e simultaneidade da comunicação verbal e não-verbal, com a nota de que se trata de uma comunicação de formas, de uma estrutura-conteúdo, não da usual comunicação de mensagens”.

Entre 1960 e 67, integrou a equipe de Invenção –que publicou uma página semanal  no jornal Correio Paulistano e depois uma revista com o mesmo nome. Durante a década de 1970, Augusto de Campos, uniu-se ao artista plástico Julio Plaza,e lançou dois volumes de 'poemas-objeto', contendo textos tridimensionais, Poemobiles (1974) e Caixa Preta (1975). Dois livros apresentam o básico de sua obra: Viva Vaia – Poesia (1979) e Despoesia (1994). Tem publicado vários livros de ensaios críticos. Atuante crítico de música na década de 1960, foi um dos primeiros a reconhecer o talento poético de Caetano Veloso e Gilberto Gil, em ensaios reunidos no livro No Balanço da Bossa (1968). Atualmente, dedica-se a investigar novos meios para a poesia, como a holografia e a computação gráfica. 

Com vocês a palavra do poeta:

 

Ad Augustum per Angusta

Vou longe. Mar. Amar.

Sempre o mesmo calado.

Tal amor. Calabar.

Traidor e enforcado.

 

O sol é uma criança

De brilho, que não cresce.

A balança, a Balança:

Um sobe. O outro desce.

 

Ó remos, onde iremos?

Cortais pólo e equador

Com igual dor. Ó remos?

Oremus. Doloremus.

 

Ascendo, ascendo à ilha?

O sol, como brilha ante

O mar. Eu sigo adiante,

Pérolas na virilha.

 

Vou longe. E o Sol não.

Coração, “Sursum corda!”

Sol longe. E eu inclinado.

“Acorda, coração!”

 (publicado originalmente em Forum, órgão oficial do C.A. 22 de Agosto)

I

Onde a Angústia roendo um não de pedra

Digere sem saber o braço esquerdo,

Me situo lavrando este deserto

De areia areia arena ceu e areia

 

Este é o reino do que rei que não tem reino

E que -- se algo o tocer -- desfaz-se em pedra.

Esta é a pedra feroz que se faz gente

--Por milagre? de mão e palma e pele.

 

Este é o rei e este é o reino e eu sou ambos,

Soberano de mim: O-que-fui-feito,

Solitário sem sol ou solo em guerra

Comigo e contra mim e entre meus dedos.

 

Por isso minha voz esconde outra

Que em suas dobras desenvolve outra

Onde em forma de som perdeu-se o Canto

Que eu sei aonde mas não ouço ouvir.

(do livro O Rei Menos o Reino)

 

IV

Nesse reino

Onde eu sou o rei e és a morte rainha

Ou onde eu sou

O rei e és a rainha morta e a morte

São meus braços,

 

O referido reino onde os tristes vassalos

Nunca encontram o rei que em si mesmos procuram

E onde o rei se coroa à falta de vassalos

E onde à falta de reino pisa o próprio corpo

(Duro reino),

 

Tu, que apenas me restas, tu, agora morres,

Morres a dura morte

Na carta do baralho em que te enterram viva.

 

Rainha morta,

Morta nesse reino

Onde és tu a encantada e eu que tenho o Canto

Que a mim só desencanta, duro como as pedras

À seda que adormece em teus ouvidos:

 

Já que eu não posso mais desencartar-te

Ao meu Canto que é antes Desencanto,

Encanta-me contigo

Morta e rainha à tua

Mais do que fala

Fábula.

 

(do livro O Rei Menos o Reino)

 

Diálogo a Dois

 “A Angústia, Augusto, esse leão de areia”

Décio Pignatari

  

A Angústia, Augusto, esse leão de areia 
Que se abebera em tuas mãos de tuas mãos 
E que desdenha a fronte que lhe ofertas 
(Em tuas mãos de tuas mãos por tuas mãos) 
E há de chegar paciente ao nervo dos teus olhos, 
É o Morto que se fecha em tua pele? 
O Expulso do teu corpo no teu corpo? 
A Pedra que se rompe dos teus pulsos? 
A Areia areia apenas mais o vento? 

A Angústia, Pignatari, Oleiro de Ouro, 
Esse leão de areia digo este leão 
(Ah! O longo olhar sereno em que nos empenhamos, 
Que é como se eu me estrangulasse com os olhos) 
De sangue: 
Eu mesmo, além do espelho. 

 

(do livro O Rei Menos o Reino)

 

O Vivo

Não queiras ser mais vivo do que és morto. 
As sempre-vivas morrem diariamente 
Pisadas por teus pés enquanto nasces. 
Não queiras ser mais morto do que és vivo. 
As mortas-vivas rompem as mortalhas 
Miram-se umas nas outras e retornam 
(Seus cabelos azuis, como arrastam o vento!) 
Para amassar o pão da própria carne. 
Ó vivo-morto que escarnecem as paredes, 
Queres ouvir e falas. 
Queres morrer e dormes. 
Há muito que as espadas 
Te atravessando lentamente lado a lado 
Partiram tua voz. Sorris. 
Queres morrer e morres. 

 

(do livro O Rei Menos o Reino)

 

A igreja nova

A antiga capela não bastava.
Mal sobranceava os colmos achatados.
Começou a erigir-se a igreja nova.
Delineara-a o próprio Conselheiro,
sem módulos, sem proporções, sem regras.
Frisos grosseiros e volutas impossíveis
cabriolando
num delírio de curvas incorretas.
Era sua obra-prima.
Ali passava os dias,
sobre os andaimes altos e bailéus bamboantes.
O povo enxameando embaixo
estremecia muita vez ao vê-lo
passar, lentamente,
sobre as tábuas flexuosas e oscilantes,
impassível,
sem um tremor no rosto bronzeado e rígido,
feito uma cariátide errante
sobre o edifício monstruoso.

 

Dodecassílabos

Estala na mudez universal das coisas
estrídulo tropel de cascos sobre pedras
e naquela assonância ilhada no silêncio
o cataclismo irrompe arrebatadamente.
O doer infernal das folhas urticantes
corta a região maninha das caatingas
fazendo vacilar a marcha dos exércitos
sob uma irradiação de golpes e de tiros.
Por fim tudo se esgota e a situação não muda,
lembrando um bracejar imenso, de tortura,
em longo apelo triste, que parece um choro.
Num prodigalizar inútil de bravura
desaparecem sob as formações calcáreas
as linhas essenciais do crime e da loucura.

 

Ferida

 

fer
ida
sem
ferida
tudo
começa
de novo
a cor
cora
a flor
o ir
vai
o rir
rói
o amor
mói
o céu
cai
a dor
dói


Publicado por Rubens Jardim em 14/02/2011 às 21h59



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