Rubens Jardim

A poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano.

Meu Diário
06/12/2010 13h20
Cada poema é um objeto único, criado por uma "técnica" que morre no instante mesmo da criação. A chamada "técnica poétic
CONSIDERAÇÕES SOBRE A POESIA E O POEMA

O que é a poesia? Em que consiste a criação poética? Como se comunica este dito poético? Essas questões inquietaram a mente e o coração de um dos poetas mais expressivos da modernidade. Octavio Paz circulou com desenvoltura e competência não só pela poesia, mas também pela prosa poética, pela biografia, pelo ensaio. E em todos esses generos nunca abandonou a sua condição de poeta.

A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola, une. Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Súplica ao vazio, diálogo com a ausência e pelo desespero. Oração, litania, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história: em seu seio resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem adquire, afinal, a consciência de ser algo mais que passagem. Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não-dirigido. Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar em forma superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da Ideia. Loucura, êxtase, logos. Regresso à infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do limbo. Jogo, trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo. Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo, e métricas e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todas as faces, embora exista quem afirme que não tem nenhuma: o poema é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana!


Como não reconhecer em cada uma dessas fórmulas o poeta que as justifica e que, ao encarná-las, lhes dá vida? Expressões do algo vivido e padecido, não temos outro remédio senão aderirmos a elas - condenados a abandonar a primeira pela segunda e esta pela seguinte. Sua própria autenticidade mostra que a experiência que justifica cada um desses conceitos os transcende. Será preciso, portanto, interrogar os testemunhos diretos da experiência poética. A unidade da poesia só pode ser apreendida através do trato desnudo com o poema.
Perguntando ao poema pelo ser da poesia, não confundimos arbitrariamente poesia e poema? Já Aristóteles dizia que "nada há de comum, exceto a métrica, entre Homero o Empédocles; e por isso com justiça se chama de poeta o primeiro e de filósofo o segundo". E assim é: nem todo poema - ou, para sermos exatos, nem toda obra construída sob as leis da métrica - contém poesia. No entanto, essas obras métricas são verdadeiros poemas ou artefatos artísticos, didáticos ou retóricos? Um soneto não é um poema mas uma forma literária, exceto quando esse mecanismo retórico - estrofes, metros e rimas - foi tocado pela poesia. Há máquinas de rimar, mas não de poetizar. Por outro lado, há poesia sem poemas; paisagens, pessoas e fatos podem ser poéticos: são poesia sem ser poemas. Pois bem, quando a poesia acontece como uma condensação do acaso ou é uma cristalização de poderes e circunstâncias alheios à vontade criadora do poeta, estamos diante do poético. Quando - passivo ou ativo, acordado ou sonâmbulo - o poeta é o fio condutor e transformador da corrente poética, estamos na presença de algo radicalmente distinto: uma obra. Um poema é uma obra. A poesia se polariza, se congrega e se isola num produto humano: quadro, canção, tragédia. O poético é poesia em estado amorfo; o poema é criação, poesia que se ergue. Só no poema a poesia se recolhe e se revela plenamente. É lícito perguntar ao poema pelo ser da poesia, se deixamos de concebê-lo como uma forma capaz de se encher com qualquer conteúdo. O poema não é uma forma literária, mas o lugar do encontro entre a poesia e o homem. O poema é um organismo verbal que contém, suscita ou omite poesia. Forma e substância são a mesma coisa.

Veja abaixo mais alguns textos extraídos de sua vasta e competente obra em prosa e verso:


"As crianças, as mulheres, os enamorados, os inspirados e mesmo os loucos são a encarnação do maravilhoso. Tudo o que fazem é insólito. São irresponsáveis, inocentes. Imãs, pára-raios, cabos de alta tensão: suas palavras e seus atos são insensatos mas possuem sentido. São os signos dispersos de uma linguagem que desdobra diante de nós um leque de significados contraditórios --resolvido, por fim, em um sentido único e último. Através deles e neles o universo nos fala e fala consigo mesmo.”
“Um ser que não tem passado, que não tem mais do que futuro, é um ser de pouca realidade. Americanos: homens de pouca realidade, homens de pouco peso. Nosso nome nos condenava a ser o projeto histórico de uma consciência alheia: a européia.”
“O mexicano se sente arrancado do seio dessa realidade, simultaneamente criadora e destruidora, Mãe e Tumba. Por isso grita ou cala, apunhala ou reza.”
“Para os norteamericanos o mundo é algo que se pode aperfeiçoar; para nós é algo que se pode redimir.”
A resignação é uma de nossas virtudes populares. Mais que o brilho de uma vitória nos comove a integridade frente a adversidade.”
“Não somos francos, mas nossa sinceridade pode chegar a extremos que horrorizariam a um europeu. A maneira explosiva e dramática com que nos entregamos revela algo que nos asfixia e sufoca.”
“O culto a vida, se de verdade é profundo e total, é também culto a morte. Ambas são inseparáveis. Uma civilização que nega a morte, acaba por negar a vida.”
“Para Rubem Dario, como para todos os grandes poetas, a mulher não é somente um instrumento de conhecimento senão o conhecimento mesmo. O conhecimento que jamais possuiremos, a súmula de nossa definitiva ignorância: o mistério supremo.”
“É revelador que nossa intimidade jamais aflore de maneira natural, sem o estímulo da festa, do alcool ou da morte.”
“O tempo mítico não é uma sucessão homogênea de quantidades iguais. Ele se
acha impregnado de todas as particularidades de nossa vida: é largo como uma eternidade ou breve como um sopro, nefasto ou propício, fecundo ou estéril.”
“Defender o amor tem sido sempre uma atividade perigosa e antisocial. E agora começa a ser, de verdade, revolucionária.”
“Escrevemos para ser o que somos ou para ser aquilo que não somos. Em um e outro caso, nos buscamos a nós mesmos. E se temos a sorte de encontrar-nos --sinal de criação--descobriremos que somos um desconhecido.”
“O inspirado, o homem que fala de verdade, não diz nada que seja seu: por sua boca fala a linguagem.”
“A poesia não salva o eu do poeta: dissolve-o na realidade mais vasta e poderosa da fala. O exercício da poesia exige o abandono, a renúncia ao eu.”
“As palavras e seus elementos constitutivos são campos de energia, como os átomos e suas partículas. A atração entre sílabas e palavras não é distinta da dos astros e dos corpos.”
“O homem é criador de maravilhas, é poeta, porque é um ser inocente. A poesia é o testemunho da inocência original.”
“O poeta moderno não tem lugar na sociedade porque, efetivamente, não é ninguém. Isto não é uma metáfora: a poesia não existe para a burguesia nem para as massas contemporâneas.”
“Há muitas maneiras de dizer a mesma coisa em prosa; só existe uma em poesia.”

Clicando neste link  http://www.youtube.com/watch?v=74XT01s7fMU você poderá assistir entrevista em que Otávio Paz fala de sua mãe, seu pai, seu avô, do campo e do zapatismo.
http://www.youtube.com/watch?v=17rvJEh6oMA clicando neste outro você poderá ouvir o poeta dizendo um de seus poemas.





Publicado por Rubens Jardim em 06/12/2010 às 13h20
 
17/11/2010 13h03
desde o AI-5 (13 de dezembro de 1968) ele nunca mais subiu em um palco para cantar
HOMENAGEM AO COMPOSITOR LIBERTÁRIO
GERALDO PEDROSA DE ARAUJO DIAS: O VANDRÉ


Ele sempre se interessou por música. Participou de festivais do colégio onde estudava e chegou a apresentar-se no rádio, em um programa de calouros. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1951 e ali conheceu pessoas ligadas ao meio artístico, como o violonista Baden Powell e o pianista Luísinho Eça. Estudante de direito, se ligou ao movimento estudantil, em especial aos Centros Populares de Cultura da UNE.
No CPC conheceu Carlos Lyra, que se tornou seu parceiro em músicas como Quem Quiser Encontrar o Amor e Aruanda. Gravou seu primeiro LP em 1964, com as músicas Samba em Prelúdio, Fica Mal com Deus e Menino das Laranjas, entre outras. No ano seguinte, defendeu Sonho de Carnaval, primeira participação de Chico Buarque, no I Festival de MPB da TV Excelsior. Nesse mesmo ano lançou seu segundo disco, Hora de Lutar, com 12 músicas, entre elas a própria Sonho de um Carnaval, Hora de Lutar composta por ele, Aruanda, e Samba de mudar. Em 1966 venceu o Festival Nacional de Música Popular da TV Excelsior com a canção Porta-Estandarte. Lançou o terceiro LP, Cinco Anos de Canção, com músicas que se tornaram célebres como Pequeno soneto que virou canção, Canção nordestina e Rosa e Flor. Compôs, também, Requiém para Matraga para a trilha sonora do filme de Roberto Santos "A hora e a Vez de Augusto Matraga";  
Ainda em 1966, dividiu com Chico o prêmio do II Festival de Música Popular Brasileira da TV Record de São Paulo, quando A Banda e Disparada, dividiram a torcida. A Banda ganhou no júri, mas o prêmio foi dividido por imposição do próprio Chico.
Anos depois, em setembro de 1968, seria a vez de Vandré sair em defesa de Chico e de Tom Jobim, diante de milhares de pessoas no Maracanãzinho-- jornais da época falam em 30 mil. A maioria queria ver Pra não dizer que não falei das Flores ou Caminhando como vencedora da fase nacional do 3° Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo, e por isso vaiava a decisão do júri, que escolhera Sabiá. “Antônio Carlos Jobim e Chico Buarque de Hollanda merecem o nosso respeito. (...) Pra vocês que continuam pensando que me apóiam vaiando... (...) A vida não se resume em festivais”, disse Vandré, enquanto a multidão acenava com lenços brancos.
Seu disco mais engajado aparece, curiosamente, no ano de 1968. Chama-se Canto Geral e reúne dez músicas, algumas desclassificadas em festivais, como De serra, de terra e de mar composta em parceria com Theo de Barros e Hermeto Pascoal. Há também os sucessos Arueira e João e Maria, um frevo em parceria com Hilton Accioli.
Pouco tempo depois, em dezembro de 1968, ele sumiu dos palcos, da mídia e do Brasil. Naquele período, Pra não Dizer que não Falei das Flores foi proibida e sua cabeça, posta a prêmio. Sentindo-se ameaçado, Vandré decidiu desaparecer, pois na mesma época, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram presos. No dia em que foi decretado o Ato Institucional 5 (13 de dezembro de 1968), Vandré e o Quarteto Livre (formado por Franklin da Flauta, Geraldo Azevedo, Naná Vasconcelos e Nélson Ângelo), tinham feito show em uma escola em Anápolis. No dia seguinte, 14, iriam se apresentar em Brasília. Ao saber do AI-5, nas primeiras horas do dia 14, voltaram às pressas para São Paulo. Depois de permanecer escondido por amigos,inclusive no sítio de Dona Aracyjá viúva de Guimarães Rosa-- ele fugiu disfarçado e com passaporte falso no carnaval de 1969.
Hoje, graças a um duradouro silêncio-- mais de quatro décadas fora dos palcos e da mídia—os boatos sugerem que ele ficou doido, aderiu aos militares, perdeu a memória, está vivendo em depressão profunda, sofre de transtorno bipolar. Mas sua primeira aparição diante do publico, ao completar 75 anos, em 12 de setembro deste ano, não mostrou exatamente isso. Aliás, recusando a um pedido de entrevista, ele escreveu: Trata-se de uma sociedade para a qual a beleza cumpre função secundária e dispensável. Aqueles que se ocupam da beleza têm, portanto, função secundária e dispensável E concluiu  dizendo que "sem beleza não existe o homem feliz”. Quem poderá discordar disso?
Relacionei abaixo algumas letras de canções e os links para que você possa assistir aos vídeos.
Arueira
http://www.youtube.com/watch?v=EGyb11knYYo&feature=player_embedded#!

Vim de longe, vou mais longe
Quem tem fé vai me esperar
Escrevendo numa conta
Pra junto a gente cobrar
No dia que já vem vindo
Que esse mundo vai virar
Noite e dia vêm de longe
Branco e preto a trabalhar
E o dono senhor de tudo
Sentado, mandando dar.
E a gente fazendo conta
Pro dia que vai chegar
Marinheiro, marinheiro
Quero ver você no mar
Eu também sou marinheiro
Eu também sei governar.
Madeira de dar em doido
Vai descer até quebrar
É a volta do cipó de arueira
No lombo de quem mandou dar.
Cantiga Brava

O terreiro lá de casa
Não se varre com vassoura,
Varre com ponta de sabre
E bala de metralhadora.
Quem é homem vai comigo
Quem é mulher fica e chora
Tou aqui, quase contente,
Mas agora, vou-me embora.
Como a noite traz o dia,
Com tristeza ou com demora.
Terá quem anda comigo,
Sua vez e sua hora.
O que sou nunca escondi,
Vantagem nunca contei,
Muita luta já perdi,
Muita esperança gastei.
Até medo já senti,
E não foi pouquinho não.
Mas, fugir, nunca fugi,
Nunca abandonei meu chão
Réquiem para Matraga

Vim aqui só pra dizer
Ninguém há de me calar
Se alguém tem que morrer
Que seja pra melhorar
Tanta vida pra viver
Tanta vida a se acabar
Com tanto pra se fazer
Com tanto pra se salvar
Você que não me entendeu
Não perde por esperar
Patria Amada Idolatrada Salve Salve
 
Se é pra dizer adeus
Pra não te ver jamais
Eu, que dos filhos teus
Fui te querer demais
No verso que hoje chora
Pra te fazer capaz
Da dor que me devora
Quero dizer-te mais
Que além de adeus agora
Eu te prometo em paz
Levar comigo afora
O amor demais
Amado meu
Sempre será
Quem me guardou
No seu cantar
Quem me levou
Além do céu
Além dos seus
E além do mais
Amado meu,
Que além de mim se dá
Não se perdeu
E nem se perderá
 
Fica Mal Com Deus

Fica mal com Deus
Quem não sabe dar
Fica mal comigo
Quem não sabe amar (2X)
Pelo meu caminho vou
Vou como quem vai chegar
Quem quiser comigo ir
Tem que vir do amor
Tem que ter pra dar
Fica mal com Deus
Quem não sabe dar
Fica mal comigo
Quem não sabe amar (2X)
Vida que não tem valor
Homem que não sabe dar
Deus que se descuide dele
O jeito a gente ajeita
Dele se acabar
Fica mal com Deus
Quem não sabe dar
Fica mal comigo
Quem não sabe amar (
Pequeno concerto que virou canção
http://www.youtube.com/watch?v=o5eSrvwv53U&feature=player_embedded

Não
Não há por que mentir ou esconder
A dor que foi maior do que é capaz meu coração
Não
Nem há por que seguir
Cantando só para explicar
Não vai nunca entender de amor
Quem nunca soube amar.
Ah...
Eu vou voltar pra mim
Seguir sozinho assim
Até me consumir
Ou consumir
Toda essa dor
Até sentir de novo
O coração
Capaz de amor.
Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
http://www.youtube.com/watch?v=PDWuwh6edkY&feature=player_embedded

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não...
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(4x)

Aparição inédita de Geraldo Vandré no show onde foi cantada sua música, realizado dia 9 de setembro de 2008, no Lua Nova Arte e Bar, no Bixiga, em São Paulo. Durante a música "Pra não dizer que não falei das flores",  Vandré cumprimenta o Sargento Lago.







Publicado por Rubens Jardim em 17/11/2010 às 13h03
 
03/11/2010 14h47
ele começou a escrever na adolescência e foi em frente. e virou bom poeta. e logo depois pintor sensível e competente
EDUARDO ALVES DA COSTA E SUA POÉTICA INCISIVA E DELICADA
Conheci Eduardo Alves da Costa, poeta competente e já meio senhor do seu ofício,
na efervescente vida cultural brasileira dos anos 60. Naquela época, o mundo inteiro estava passando por transformações radicais: Gagárin dizia que a terra era azul, a capital do Brasil mudou para Brasília, Kennedy foi assassinado, construiu-se o Muro de Berlim, os Beatles explodiram nas paradas de sucesso e o golpe militar de 64 arrancou João Goulart da presidência.
Como disse Lúcia Helena Gama, os anos 60 foram a década da radicalização e das polaridades entre o imperialismo ianque e a produção nacional, a cultura americana e a brasileira, a reacionária e a progressista, a popular e a de elite. Vivíamos a criticar o mercado e a produção cultural que a ele se destinava, mas amávamos os Beatles e os Rolling Stones. Sem deixar de fora, é claro, Vandré, Chico, Bethânia, Elis, Gil, Caetano, Mutantes.
Pois bem: no meio conturbado de tudo isso, uma porção de poetas jovens ocupavam os novos espaços da cidade –Redondo, Ferros, Juão Sebastião Bar, Galeria Metrópole, Praça Roosevelt, boates da Vila Buarque -- abrindo seu caminho a machadadas. Eduardo Alves da Costa, era um deles. Organizou Noites de Poesia no Teatro de Arena e teve poemas incluídos na célebre Antologia dos Novíssimos, publicada por Massao Ohno em 1962. Depois disso, participou de diversas leituras públicas, inclusive do 1º Comício Poético da Praça da Sé, ao lado de Álvaro Alves de Faria, Carlos Soulié do Amaral, Rubens Jardim, Clarice Jacy e outros(1965)
A partir daí o poeta Eduardo Aves da Costa desapareceu, embora tivesse continuado a publicar contos, A Sala do Jogo, novela Fátima e o Velho, o romance Chongas e a premiada peça As Campainhas. Seu mais conhecido livro de poesia, No Caminho, com Maiacovski, só foi publicado em 1985. E o poema que dá título ao livro—escrito nos anos 60 e lido em diversos locais naquela época -- tornou-se tão conhecido e popular que sua autoria acabou sendo atribuída ao poeta russo Maiacovski.
Um equívoco que durou muitos anos –quase uns quarenta --e que nem a publicação do livro acabou corrigindo. E nem a invejável exposição do poema em uma novela das oito, Mulheres Apaixonadas, solucionou. Hoje mesmo recebi, de uma amiga, uma mensagem muito bem produzida, em PPS, em que o poema do Eduardo virou poema do Maiacovski. Se não me engano, esse mesmo poema já circulou pela internet como sendo de autoria de outro escritor célebre: o alemão Bertold Brecht.
Mas o próprio Eduardo já esclareceu esse equívoco, reportando às suas origens. Tudo começou a acontecer quando o psicanalista, jornalista e dramaturgo Roberto Freire, incluiu em seu livro Viva Eu, Viva Tu, Viva o Rabo do Tatu  trecho do poema como sendo de autoria do poeta russo –e tradução de Eduardo Alves da Costa.
 
NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI
 
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
 
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
 
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
 
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
 
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
 
E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
Banana Split
 

 
Aos que devoram o mundo
tranquilos, como se comessem
uma banana split;
aos que usam as assembléias
como balcão de negócios,
na esperança de vender
seu estoque de bombas;
aos banqueiros internacionais,
pressurosos em atender
os mendigos de Estado,
em troca de pequenas concessões;
aos que plantam suas máquinas
em terras estrangeiras,
para espremer os frutos,
o solo e as gentes;
àqueles que falam doce
e mandam seus missionários
catequizar os gentios
com hinos de dúbia letra;
aos amantes da ciência,
magos e feiticeiros,
hábeis em curar moléstias
geradas por eles mesmos;
aos que levam nosso ferro
e areias monazíticas
e nos devolvem em troca
o saldo de suas festas;
aos que matam nossa fome
com sacas de feijão podre
e nos afogam a sede
num mar de refrigerantes;
aos que abrem suas asas
sobre nossas cabeças ocas
e nos fazem aliados
contra o inimigo deles;
enfim, a todos aqueles
que usando de artimanhas
suas artes nos ensinam,
nossa gratidão eterna.
E a promessa de que um dia,
tão logo estejamos prontos,
restituiremos em dobro.
Poema da Cartomante

Estendo minha mão
e a velha me fala
de um futuro tão remoto
que chego quase a descrer da Bomba.
Ah, deliciosa visão,
promessas de vida longa,
um lar feliz
e até mesmo um nome
para ser honrado.
Lê, mulher; procura
em minha mão
a certeza que me falta.
Aprendeste a profissão
nos tempos de paz
e o futuro que me dás
é o dos meus avós.
Falas-me de um lar
e eu procuro concebê-lo
ao abrigo da guerra que virá
e que eu vejo crescer nas declarações de paz.
E contudo eu gostaria
de que tuas profecias se cumprissem;
que estas coisas não fossem para mim,
mas pudessem acontecer
ao homem simples,
a esse que vai para a fábrica, de manhã,
e não sabe do mundo
para além do próprio quintal.
Segues com o dedo
a linha da vida
e vês tão claro
que por um instante me aborreço
e penso em me levantar.
Mas não quero te ferir.
Afagas minha mão
num gesto maternal
e me devolves ao mundo,
na certeza de que estou mais forte.
Não, eu não te direi nenhuma destas coisas,
porque lá fora os teus netos brincam
e a tarde, vista de tua janela,
promete não ser a última,
não pode ser a última.
E porque teus olhos
me pedem que acredite.


Publicado por Rubens Jardim em 03/11/2010 às 14h47
 
28/10/2010 14h44
CARTA DE APOSENTADO CONTRA A ARROGÂNCIA E A PREPOTÊNCIA DE ALGUNS JORNALISTAS
  • Deus me livre de que o tempo me corroa a humildade e me faça querer ser dono da verdade, destes que não ouvem com o coração e não escrevem com alma.
     
    E que me permita um dia, escrever como o aposentado Carlos Moura, da mineira Além Paraíba, faz hoje numa carta aberta ao jornalista Ricardo Noblat, respondendo a uma agressão insólita e desnecessária que fez, ontem, em seu blog, a Lula, dizendo que lhe falta, desde que decidiu eleger Dilma, “caráter, nobreza de ânimo, sentimento, generosidade”.
    Eis a carta de Carlos Moura:
  • Noblat
    Quem é você para decidir pelo Brasil (e pela História) quem é grande ou quem deixa de ser? Quem lhe deu a procuração? O Globo? A Veja? O Estadão? A Folha?
    Apresento-me: sou um brasileiro. Não sou do PT, nunca fui. Isso ajuda, porque do contrário você me desclassificaria,  jogando-me na lata de lixo como uma bolinha de papel. Sou de sua geração. Nossa diferença é que minha educação formal foi pífia, a sua acadêmica. Não pude sequer estudar num dos melhores colégios secundários que o Brasil tinha na época (o Colégio de Cataguases, MG, onde eu morava) porque era só para ricos. Nas cidades pequenas, no início dos sessenta, sequer existiam colégios públicos. Frequentar uma universidade, como a Católica de Pernambuco em que você se formou, nem utopia era, era um delírio.
    Informo só para deixar claro que entre nós existe uma pedra no meio do caminho. Minha origem é tipicamente “brasileira”, da gente cabralina que nasceu falando empedrado. A sua não. Isto não nos torna piores ou melhores do que ninguém, só nos faz diferentes. A mesma diferença que tem Luis Inácio em relação ao patriciado de anel, abotoadura & mestrado. Patronato que tomou conta da loja desde a época imperial.
    O que você e uma vasta geração de serviçais jornalísticos passaram oito anos sem sequer tentar entender é que Lula não pertence à ortodoxia política. Foi o mesmo erro que a esquerda cometeu quando ele apareceu como líder sindical. Vamos dizer que esta equipe furiosa, sustentada por quatro famílias que formam o oligopólio da informação no eixo Rio-S.Paulo – uma delas, a do Globo, controlando também a maior  rede de TV do país – não esteja movida pelo rancor. Coisa natural quando um feudo começa a  dividir com o resto da nação as malas repletas de cédulas alopradas que a União lhe entrega em forma de publicidade. Daí a ira natural, pois aqui em Minas se diz que homem só briga por duas coisas: barra de saia ou barra de ouro.
    O que me espanta é que, movidos pela repulsa, tenham deixado de perceber que o brasileiro não é dançarino de valsa, é passista de samba. O patuá que vocês querem enfiar em Lula é o do negrinho do pastoreio, obrigado a abaixar a cabeça quando ameaçado pelo relho. O sotaque que vocês gostam é o nhém-nhém-nhém grã-fino de FHC, o da simulação, da dissimulação, da bata paramentada por láureas universitárias. Não importa se o conteúdo é grosseiro, inoportuno ou hipócrita  (“esqueçam o que eu escrevi”, “ tenho um pé na senzala” “o resultado foi um trabalho de Deus”). O que vale é a forma, o estilo envernizado.
    As pessoas com quem converso não falam assim – falam como Lula. Elas também xingam quando são injustiçadas. Elas gritam quando não são ouvidas, esperneiam quando querem lhe tapar a boca.  A uma imprensa desacostumada ao direito de resposta e viciada em montar manchetes falsas   e armações ilimitadas (seu jornal chegou ao ponto de, há poucos dias, “manchetar”  a “queda” de Dilma nas pesquisas, quando ela saiu do primeiro turno com 47% e já entrou no segundo com 53 ) ficou impossível falar com candura. Ao operário no poder vocês exigem a “liturgia”  do cargo. Ao togado basta o cinismo.
    Se houve erro nas falas de Lula isto não o faz menor, como você disse, imitando o Aécio. Gritos apaixonados durante uma disputa sórdida não diminuem a importância histórica de um governo que fez a maior revolução social de nossa História.  E ainda querem que, no final de mandato, o presidente aguente calado a campanha eleitoral mais baixa, desqualificada e mesquinha desde que Collor levou a ex-mulher de Lula à TV.
    Sordidez que foi iniciada por um vendaval apócrifo de ultrajes contra Dilma na internet, seguida das subterrâneas ações de Índio da Costa junto a igrejas e da covarde declaração de Monica Serra sobre a “matança de criancinhas”, enfiando o manto de Herodes em Dilma. Esse cambapé de uma candidata a primeira dama – que teve o desplante de viajar ao seu país paramentada de beata de procissão, carregando uma réplica da padroeira só para explorar o drama dos mineiros chilenos no horário eleitoral – passou em branco nos editoriais. Ela é “acadêmica”.
    A esta senhora e ao seu marido você deveria também exigir “caráter, nobreza de ânimo, sentimento, generosidade”.
    Você não vai “decidir” que Lula ficou menor, não. A História não está sendo mais escrita só por essa súcia  de jornais e televisões à qual você pertence. Há centenas de pessoas que, de graça,  sem soldos de marinhos, mesquitas, frias ou civitas, estão mostrando ao país o outro lado,  a face oculta da lua. Se não houvesse a democracia da internet vocês continuariam ladrando sozinhos nas terras brasileiras, segurando nas rédeas o medo e o silêncio dos carneiros.

     
    Carlos Torres Moura
    Além Paraíba-MG


Publicado por Rubens Jardim em 28/10/2010 às 14h44
 
22/10/2010 18h39
SEMINÁRIO DE ARTE EM CHAPECÓ HOMENAGEIA LINDOLF BELL
APÓS BUSCAR A VIDA INTEIRA O OURO DA PALAVRA, O POETA CATARINENSE EXCLAMOU: ENTERREM-ME NA PALAVRA!

O poeta Lindolf Bell foi lembrado e homenageado durante o 2º Seminário de Arte realizado em Chapecó no final do mês de setembro. O evento recebeu Rafaela Bell,  filha do poeta homenageado e os amigos, poeta e jornalista Rubens Jardim e o artista plástico Silvio Pléticos. Os três proferiram palestra ressaltando aspectos da vida e da obra do premiado poeta das "crianças traídas".Na ocasião também houve lançamento do livro "O Ser Humano e o Destino Poético", organizado por Jovani Santos e a abertura da exposição da artista Marta Spagnol.
“Quando a galeria completou 11 anos, Bel participou do 1º Seminário que promovemos. Na ocasião ele comentou a importância de disseminar a poesia e a arte em eventos deste gênero”, comenta a marchand Mirian Soprana, uma das idealizadoras do evento. Na época, o encontro marcou a última palestra e Catequese Poética proferida por Bell. Dois meses após, o poeta morreu.
Doze anos depois, Mirian e o escritor, ator e produtor de teatro, Jovani Santos, organizaram este novo encontro. que, além de ser uma forma de homenagear o grande poeta catarinense, que dizia ter “um caso de amor com Chapecó”, serviu como um resgate histórico e um movimento em estímulo à reflexão.

LINDOLF BELL SEMPRE HONROU A PALAVRA
(depoimento de rubens jardim no livro organizado por Jovani)
 
Conheci Lindolf Bell em 1965, quando ele já havia publicado Os Póstumos e as Profecias e já havia iniciado a Catequese Poética. Foi num coquetel --e quem me apresentou ao poeta foi o cineasta Walter Hugo Khoury. A partir daí, nasceu uma intensa e profícua amizade que me levou a conhecer a poeta Iracy Gentile e a integrar a Catequese Poética.
Conviver intimamente e durante tantos anos com o Bell foi uma das melhores experiências da minha vida. Em primeiro lugar porque Bell era poeta vinte e quatro horas por dia. E fazia isso naturalmente. Não era algo forçado ou artificial. Era seu jeito de ser e de conviver. Ele acreditava piamente na palavra poética e na função transformadora do poema. E não se conformava que o povo ficasse por fora disso, sem acesso.
Por isso, criou a Catequese Poética: para levar o poeta e o poema aonde o povo está.
Mas fez isso bem antes da música do Milton Nascimento. E num contexto de fortes restrições às liberdades. Ou seja, logo após o golpe militar de 1964. E em um espaço
que não tinha nada a ver com poesia e com poetas: a boate Ela, Cravo e Canela.
Nunca me esquecerei desta lição de humildade e grandeza: Poesia é terrível soerguimento. Esta declaração do Bell parece resumir o núcleo da sua personalidade generosa, rebelde e fraterna. Ele acreditava mesmo que o papel do poeta era lutar contra a tirania da falsa linguagem, das palavras batidas e amassadas que não estão associadas à vida, à experiência e à convivência.
E é bom lembrar que, naquela época, os poetas concretos tomaram o poder, invadiram as redações e as universidades e acabaram fazendo do concretismo uma espécie de parnasianismo da ditadura militar, como observou Alexei Bueno. A poesia concreta chegou ao limite de uma poesia sem palavra. Uma poesia exclusivamente visual. Um rabisco. Um grafismo.
E Bell não suportava isso: o artificialismo que colocava o poema mais como logotipo do que  logos. Ele sempre acreditou no poder transformador e revolucionário da palavra. Principalmente da palavra poética que pode induzir tanto à subversão como ao encantamento. Ele sabia que a palavra é a melhor e mais imprecisa forma de representar o real. Nada é tão único, direto e simples quanto à palavra --e nada é tão pantanoso, nada é tão areia movediça.
Tudo isso sem falar de seu entendimento de que a poesia não é uma atividade supérflua, um babado, um acessório da cultura. Bell sabia que a poesia é uma necessidade concreta de todo ser humano. Ninguém consegue viver sem poesia. Aliás, é preciso levar em conta que a poesia esteve presente em todas as sociedades. E o simples fato dela ser tão antiga já sugere sua importância e o seu enraizamento em nossa alma.
Mais ainda: Bell sempre acreditou que a poesia não é só habilidade de lidar com palavras e escrever poemas. É também –e principalmente – um modo de viver. Uma atitude-- diante e dentro da vida. Algo exatamente igual aquilo que Octavio Paz percebeu e formulou como sendo a outra voz: a voz das paixões e das visões; é do outro mundo e é deste mundo, é antiga e é de hoje mesmo ; é sua e é alheia, é de ninguém e é de todos nós.
E pra finalizar, alguém pode deixar de se emocionar quando Lindolf Bell se diz hóspede da terra e passageiro do mundo ? Ou quando profeticamente diz “procuro a palavra fóssil, a palavra antes da palavra. Esta que me antecede e se antecede na aurora e na origem do homem. E porque o minifúndio se faz na terra da palavra, Enterrem-me na palavra.”  




Publicado por Rubens Jardim em 22/10/2010 às 18h39



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