O AMOR É
1 Procuro entender os sinais da tua ausëncia: teus sapatos imóveis no guarda-roupa, tuas calcinhas indiscretas na gaveta. Busco compreender essa falta e aceitar essa carência. Mas olho para os lados e não decifro nenhum dos teus inquestionáveis enigmas. O amor é a perdição de achar. 2 Não te guardo em cofre, nem quero escondê-la ou trancá-la. Também não quero te perder de vista. Quero continuar aguardando em sigilo absoluto o teu corpo neste espelho. O amor é a única invalidez sublime. 3 Os espelhos não guardam teus gestos. Tampouco refletem a tua alma. Os espelhos não te aprisionam. Nem te libertam. Os espelhos apenas te incorporam. ao corpo das horas que passam. O amor é a presentificação absoluta. 4 Não estás aqui diante de mim Nem do outro lado do espelho. Não consigo enxergar direito Nem perceber o absurdo: tua falta. Vocë é um vício que construí Para lamentar fevereiros, Para me fingir de poeta. Tenha certeza: não sou isso. Não ligo pra essas coisas. Sou o contrário de tudo. A verdadeira contrariedade É uma afirmação da vida. O avesso daquilo que eu vivo Essa mornidão quase suicida Rubens Jardim
Enviado por Rubens Jardim em 26/07/2006
Alterado em 03/07/2009 |