02/01/2018 12h53
O POETA DE ZARATUSTRA
"A linguagem simbólica pode ter sido a forma que Nietzsche encontrou de escapar ao aprisionamento da gramática, de superar a pressão da linguagem, sair do círculo percorrido Sempre achei o Zaratustra um tremendo poema, desde a primeira vez que li, na adolescência.Voltei a ele infindáveis vezes e essa primeira impressão era sempre confirmada. Até hoje é assim. Esse bigodudo martelava a linguagem e transgredia princípios e valores. E fico feliz com a hipótese trabalhada por Ester: ela é coincidente com a minha percepção instintiva de que o Zaratustra é um livro escrito em linguagem simbólica, que é a linguagem dos criadores e dos poetas. E tem mais: nessa dissertação a autora sugere que esse processo utilizado por Nietzsche, no Zaratustra, é para espíritos não-gregários, uma vez que não foi escrito em uma linguagem gregária. Publicado por Rubens Jardim em 02/01/2018 às 12h53
01/01/2018 18h42
PASSAGEM DO ANO
Drummond já dizia que E eu ainda estou vivo .
Publicado por Rubens Jardim em 01/01/2018 às 18h42
15/11/2017 18h48
AS MULHERES POETAS...(101ª postagem)
ROSÁLIA MILSZJATN poeta carioca, é médica e psicanalista. Publicou cinco livros de poesias. O último, Esse Recorte(Patuá, 2014), conquistou o Prêmio Literário Nacional do Pen Clube do Brasil de 2016. Em 1999 venceu o Prêmio SESC de Poesia do Estado do Rio de Janeiro. Além de Antologias, seus poemas foram publicados em jornais e revistas como Poesia Sempre, Revista Agulha, Jalons (Nantes, França), revista CULT e outras. COMO DIZER Como dizer que é noite se dentro de mim é dia como dizer do frio se dentro de mim é fogo como dizer não sei se dentro de mim eu sei como dizer de ti
se dentro de mim sou eu
A PROVA Não fale tanto Cale-se enquanto A melodia quando pronta
QUANDO A NATUREZA FAZ AMOR A flor estremece O vento levanta O mar molha A lua cintila O sol se excita A floresta No orgasmo das nuvens Quando a natureza faz amor
MYRIAN ASFORA (19 ) poeta pernambucana, é advogada com mestrado em direito e professora universitária. Atualmente exerce funções como assessora da presidência do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira. Tem dois livros de poemas publicados : O Tempo das Canções de Amor e Canções do Amor sem tempo. DO PÁSSARO E DA ROSA Nem o pássaro testemunhou o sonho da rosa despedaçado em cor, pelo crepúsculo ****************************** A porta velha da casa antiga, dentro da noite perscruta o tempo. Impassível ao vento, desafia tudo menos a tristeza de não ser mais caminho.
********************** Pense um pouco em ti mesmo Um pouco, apenas, Verás, então Que lembras um vôo Na fragilidade do equilíbrio. ********************** Nem o vento trilhando o seu caminho deteve o vôo do pássaro sedento de infinito.
TATIANA ALVES (19 ) poeta carioca, contista e ensaísta. Participou de diversos concursos literários, tendo obtido vários prêmios. É colaboradora da Revista Samizdat e do site Escritoras Suicidas, já tendo escrito para os sites Anjos de Prata, Cronópios e Germina Literatura. É filiada à APPERJ, à Academia Cachoeirense de Letras e à AEILIJ. Possui quinze livros publicados. É Doutora em Letras e leciona Língua Portuguesa e Literatura no CEFET / RJ. ERA UMA VEZ E no final descobriu-se que o príncipe era um sapo Coacha e resmunga durante o dia Ronca feito porco à noite E a princesa, coitada, Rola na cama pensando na sua vida de conto de fadas Pobre princesa! Tivesse sabido antes, E teria ficado com o dragão...
HARPOESIA Minha língua viva e sedenta Saliva Maldita E roça em profanas palavras
Minhas mãos suadas e errantes Tateiam Malditas E tocam profanas palavras
Por entre línguas e mãos Toma forma a poesia Sádica Lúdica Lúbrica
No prazer do trava-língua No ardor de uma mão-boba A poesia se toca Harpoesia
MARIA GIULIA PINHEIRO (19 ) é autora do livro Da Poeta ao Inevitável (Ed. Patuá/13) e dramaturga dos espetáculos “Mais um Hamlet”, “Alteridade” e “Bruta Flor do Querer”, em que também assina a direção. É membro-fundadora do grupo teatral Companhia e Fúria, em que atua, dirige e escreve. TRILHA A calma dele versus a minha obsessão.
A cama dele, versos da minha sala.
A mania dele de consumir o amor como comida do natal que ainda passeia na geladeira em março contra consumado o meu desejo de chupar paixão feito miojo, sem nem louça pro dia seguinte.
Ele é noir, eu sou Klimt.
Um dia a gente se encontra num meio fio da vida, na Vila. Ele de havaianas, eu de alto coque.
Ele diz qualquer coisa sobre escolhas, eu faço um roque, e, devagarinho, o crédito sobe.
FIM DE NOITE Doze discos, Doze discos são aquilo que não vivemos: O jantar, A lua, o que A carona, sua parte nesta noite: PASSAGEM Tão bonito o ressuscitar. É que a morte,
THAÍS BRAVO(19 ) poeta carioca, é escritora e tradutora. Autora do livro digital Todos os meus (ex) heróis são machistas, é uma das criadoras e editoras da Mulheres que Escrevem. Co-fundadora da revista Capitolina, desde 2014, escreve para veículos como a revista Ovelha e a Alpaca Press.
o motorista me responde que sim é direto é uma satisfação poupar alguns minutos em trânsito tenho um pé na escada e outro no chão na hora que pego o impulso reparo a Central molhada sem proteção nesse instante desejo: ser amada aqui nesse lugar nessa língua pela vibração em que respondo obrigada e saco meu Bilhete Único uma sério de gestos que domino sem hesitar tento te ver nesse contexto desarmado o amor talvez seja sempre quebrar os hábitos no entanto sustentam um rumo disponível às vezes a repetição não é monotonia não é falta pode ser um guia pode ser desenhar um mapa com a carne dos dedos toco as teclas sem enxergar suas letras formo palavra passos de dança memória física a história é um sopro encarnado entre as paredes e línguas e peles ser amada aqui em uma cidade que exige que sua que avacalha que muda as linhas a cada 3 meses e sufoca a rotina e gargalha da estabilidade quando subo no 315 Central – Recreio é uma vitória porque sabe-se lá até quando sabe-se lá quantas novas linhas a extinguir narrativas então quando subo no 315 Central – Recreio enxergo que grande parte do meu ser não é feito de sublimações e essencias grande parte do meu ser se faz entre essas linhas que traço e apago diariamente pela cidade Alvorada – Del Castilho – Cinelândia Rua da lapa – Cinelândia – Central – Recreio grande parte do meu ser é deslocamento automático como meus dedos a dançar palavras sobre as teclas quase porque às vezes faísca espera trânsito barracos e desencontros hoje no 614 Alvorada – Del Castilho vi um rapaz confuso e o motorista indisposto vi uma garota se aproximar talvez oferecendo ajuda eles conversam claramente ele não é daqui ela parece mais certa do que faz imagino se pela ajuda vão iniciar um contato trocar contato marcar uma cerveja começar algo então entendo que na verdade já existe são algo um casal nesses tempos nunca se sabe o termo certo mas são algo ela só foi ajudar depois de um tempo porque está magoada com algo depois dos minutos em que se explicam passam o resto da viagem em silêncio um ao lado do outro pelo silêncio compartilhado vejo que são algo na hora de descer a fila se forma com antecedência ele se aproxima muito com indiferença ela permite ela desce em passos rápidos ela sabe pra onde ir ele segue afobado caso a perca não sabe para onde seguir em Del Castilho eles ficam na fila para comprar um bilhete eu sigo em passos de quem sabe o caminho mais do que gostaria
então quando subi com certeza no 315 –EXPRESSO a repetição do impulso sem hesitar o amor é sempre quebrar hábitos se fazer estrangeira em terras sem raiz é atalho no mais íntimo dos movimentos guardados de cor entre a língua a pele e as paredes desejo laço que faz dos pontos de passagem escolha ............................................................................................................. eu lembro de esbarrar com você quando brigava com outro garoto que acabou se tornando meu amigo próximo ou não tanto (por que quem tem amigos próximos aos 25 anos?) ali era um ponto de ônibus desses que desapareceu de um dia para o outro a linha do ônibus também mudou de 2016 para 318 e o ponto mudou outras três vezes até se tornar Central
eu pareço ser a única que carrega esses rearranjos em cada trajeto um novo garoto passeia pelas minhas coxas se encontra as rasuras em alto relevo
quando atravesso temendo facadas a Rio Branco ainda adormecida talvez já desponte a próxima linha
por enquanto faço sinal à casca que arranco só para deixar sua marca
CHANTAL CASTELLI (19 ) poeta paulistana, é fotógrafa, professora de literatura e ensaísta. Participou do livro Drummond Revisitado (2002), que reúne análises de vários autores sobre a obra do poeta itabirano. Publicou os livros de poemas Memória Prévia (2000) e Os cães de que desistimos(2016)
CONSTELAÇÃO Para Carlos Drummond de Andrade
saltavam, dois olhos de vidro opaco.
Contemplo-os agora na janela da memória — ou serão também espelho, reflexo de mim mesmo?
A tarde parecia eterna nos pés do menino junto à horta, na caixa d’água que era berço e túmulo, na coleção de cacos e suas flores mínimas, resumo de conversas na cozinha, tinidos, subentendidos...
Tento recompor a memória prévia, o tempo duplo, a casa em chiaroscuro, no papel que (mesmo querendo) não posso rasgar.
SEM TÍTULO Não um poema que descrevesse o desenho de tua mão procurando-me esta manhã; sendo que é de impalpável fibra esse aceno.
Mas um poema que soubesse dizer ao menos da perfeita mudez dessa hora, do primeiro esboço de luz saudando o entendimento de nossos corpos.
REVELAÇÃO Tento decifrar uma foto que não há: ao lado da janela meu pai e eu e nosso reflexo no vidro de uma tarde morta.
O retrato impossível me fita, imagem-lembrança de desejo, provando mudo que o que resta não é jamais o uso dos melhores sonhos, mas apenas a idéia viajando na carne: os pés sobre os quais não dancei, a mão que não retive, os lábios que não marcaram minha face.
Somente o olhar espiritual-imperfeito alcança-me agora dessa tarde morta e sem registro.
RITA ISADORA PESSOA(1984) poeta carioca, é graduada em psicologia. Estudou a poeta Sylvia Plath no mestrado em Teoria Psicanalítica e é atualmente doutoranda em Literatura Comparada (UFF), Trabalha como tradutora, revisora, astróloga, taróloga, figurinista. Seu primeiro livro de poesia A VIDA NOS VULCÕES foi publicado em 2016.
ESCREVO TEU NOME NO GRÃO por tudo o que tomba sem se reerguer sem sequer lembrar da queda pela sombra que nunca é proporcional à luz pela sombra que não é proporcional de maneira alguma à luz te escrevo o nome onde se escondem as montanhas onde o sinal do celular n ã o pega nãopega nãopega n-ã-o pe-ga escrevo ainda com a tinta que extraio dos moluscos que aparecem mortos pela praia no inicinho da manhã
pelo esquecimento compulsório da q u e d a
“escrevo o teu nome no grão de arroz”
porque saturno retorna fora de hora e a sombra não é proporcional ao facho de luz que te acompanha [e é um absurdo que a luz produza tantos monstros com tamanha facilidade] porque há sim pulsação nos vasos altamente periculosos das minhas pernas e por tudo aquilo que tomba sem levantar-se: toma este grão luminoso onde te escrevo o nome devidamente instalada
na virada invisível do rio
DOS RUMORES QUE SE INSTALAM não posso dizer que ignoro com seriedade a consciência do medo nas gengivas e a eletricidade que alimenta o corpo venoso brutal da vergonha porcamente equilibrada nos joelhos. como é possível que a despeito de tudo as gentes sejam? que sejam com pavor, e dentes caninos a mostra, mas que sejam. a mim, é impossível deslizar com graça por essa existência de pequenos naufrágios de impossibilidades rotundas de quebra-mares. ouço um fino assovio que assegura o cativeiro de muitas feras nos porões deste navio e sei dos rumores instalados, pesando sobre grossas cordas e velas içadas: o coração batendo vivo no fundo desta caixa.
LILIAN SAIS (19 ) poeta paulistana, é doutora em letras, pesquisadora e tradutora da área de grego antigo e coeditora da Revista Libertinagem. Participa da organização de diferentes Saraus espalhados pela Pauliceia. CREMAÇÃO tenho dois cinzeiros e um quarto de cinzas: sobre o casaco, o chão, a escrivaninha, a cadeira, os remédios, o batente da janela,
- tragada útil porque vírgula, pausa, hiato, fenda, precipício, xingamento calado, suspiro disfarçado, locomotiva descarrilhada da necessidade de ainda ser gente –
o que o vento leva a chuva fixa, cinzas simplesmente cinzas, feitas de erupção portátil e dispersas pelo hálito, sopro, pelo vento, feito eu.
TRITONO (Para Teofilo Tostes Daniel) porque grávida de ausência
urge o sorriso grávido de alguma falta,
ruído grave, gestando o impronunciável,
urgem lábios, margens obscenas da inundação
possível, sorriso discreto, palavras impressas,
parto, farol de ruas sem esquinas, ruas-rio,
(quero morar numa cidade sem esquinas, meus olhos ardem, tenho uma pasta de artigos urgentes dentro de uma pasta de artigos urgentes dentro de uma pasta de artigos urgentes, o corinthians foi campeão, o preço dos tomates & a crise política & a meteorologia)
há meses
(são apenas dois olhos duas pernas e dez dedos para tantas urgências no mundo que,)
transbordo.
- porque grávida de alguma ausência
que o CID não gera
entre as margens absurdas da normalidade
o abismo
fere e confunde, meu bem
PRAZOS digo sexta porque soa longe, digo sexta como quem diz
outra vida, porque essa semana já é bastante,
como a anterior, a outra, a próxima, a existência percorrida,
esse correr inexorável de existir, ser gente e não criado-mudo,
cômoda de três gavetas, capa de chuva, porta-níquel,
- desenho na parede -,
digo sexta porque não é hoje, e isso, se não me basta,
já me serve um bom tanto: apenas hoje,
não.
Publicado por Rubens Jardim em 15/11/2017 às 18h48
23/10/2017 19h30
AS MULHERES POETAS...(100ª postagem)
LEILA FERRAZ (1944). Poeta paulistana, ensaísta, tradutora, fotógrafa e artista plástica. Participou ativamente do Movimento Surrealista em São Paulo de 1965 a 1970. Em 1968 vai para Paris onde estreita contatos com o Movimento Surrealista Internacional. Em 1977 lança seu primeiro livro de poemas: Cometas . Em 1980 seu segundo livro : Poemas Plásticos. Em 1998 publica poema e ensaio em Surrealist Women - An International Anthology editada pela University of Texas – Austin . OLHOS BOIANDO Aquarelados olhos teus e meus atravessam o mar em cristas Passando pelas pernas das pontes Me olho então E perco meu olhar de vista
Aquarelados morros meus e teus De indefinidos contornos devorando céus Colando os ouvidos em nossos ventres a escuta de tempestades eternas Jamais despencadas Profetizando a ameaça dos sonhos e das ideias
Aquarelados olhos nossos De portas abertas E peitos e ventres a mostra na superfície do mar Boiamos uma relação de serpentes Numa sedução muda e fraterna Entre as algas de um mesmo conhecimento Nas verdades veladas das chapas de cobre riscadas e nos papéis queimados
Paisagens pela centésima vez repintadas
Perco meu olhar de vista Desfoco todos os contornos de afogada Disfarço minha morte E quando nua pelo avesso sou mais nua
Acelerada enrosco-me entre árvores Em curvas infinitas de passado infinito Onde minha boca abocanha minha cauda
Boiando Velocidades se deslocam em minha direção na superfície do plano mole Aberta Do centro de meu umbigo se estendem os pontos de fuga Projetando já o início e o fim do meu trajeto
Deitada sobre o mar balanço num círculo de imagens disfarçadas
Vermelhos escondidos Bocas murmurando palavras de cerejas Palavras lidas entre nossas bocas
Quero aportar-me lá Mesmo Sim Sem talvez Lá onde perco meu olhar de vista E o sentido é um telhado de vidro E o poeta o último pedaço possível Para reconstruir um frágil nome Indivíduo.
ONDINAS Ainda bêbada de sono no limbo dos sonhos li uma a uma as tuas palavras Rasguei-as de seus sentidos e colei-as pela extensão do meu corpo Desenhos sem geometria adornaram meus quatro cantos e as ondas dos desejos perderam suas marés Vozes de espumas vorazes arrebentavam seus significados nas praias Águas primordiais lambiam por entre tuas pernas e esquecias teu corpo no enlace das Ondinas Cruzando-as e perdendo todos os vestígios da sensatez Bocas cheias de espumas brancas beijavam as solas descalças de meus pés em conchas e me desfaleciam de prazer Como impedir uma inspiração na umidade de Thalassa? Não sucumbir ao naufragar pelos pudores de tuas conchas? Deixei-me fustigar até verter sangue e dele te alimentei sem saber o que fazia Anfíbios seres do mar devoluto ultrapassam símbolos sagrados E em quedas sublimes uma vez mais em nós mergulhamos
OS PRISIONEIROS Usei o negro como ponta de lança E o vermelho como razão agonizante Silenciei anarquicamente as portas Das mãos entrelaçadas Cobri montanhas traficadas e Infanta Escutei as histórias que nunca ouvi Abri os braços em revoluções do nada E mais alto subi abrindo o céu a unhadas Porque sou jovem Tresloucada Gêmea e apaixonada Gritando palavras de ordem Tirando panfletos da pedra Numa corrente de mãos e construindo barricadas
Entrevi um pedaço da história arrancada a palmadas Das ruas de Paris E se Não dormi e se não comi Fui corpo só pulsando sensitivo entre matracas Que tentavam impedir a melhor das trepadas A trepada do cio A trepada fecundada A trepada inesquecível A trepada que funde Viva a vida e viva a morte A trepada do corpo A trepada menstruada A trepada que para o tempo A trepada sem idades A trepada de todas as gentes A trepada sem pátria A trepada bastarda (esta trepada com a vida foi plenamente gozada em maio de 1968, em Paris)
PRIMEIRO MESTRE-O MAGO Meu rosto desfigurado e manchado pelas sobras dos tempos Me contempla no palco iluminado apenas. Centenas de velas acesas derretem em meus sonhos e perco Meu carro em um baralho de tarô. Subo e desço as ladeiras sem fim no labirinto do meu sonho Até encontrar você. Meu primeiro mago, meu bruxo de milhões de instantes. Meu dia de Ulisses chegando a Ítaca. Subo as escadas inexistentes do teu atelier mágico. Quero pronunciar teu nome Mas me tapam a boca mil mãos de pais e mães inexistentes. Lá no teu quarto samurai te vejo sobre o leito desfeito De braços abertos e o sorriso pronunciando meu nome. Venha e cole teu corpo nu ao meu Olimpo. Sintamos a colagem perfeita construída milímetro a milímetro. Grudados estamos e minha boca se derrete em tua saliva. Somos a mistura carnal do prazer amoroso. Nos queremos como fogo fátuo e nos tocamos como tocha e brasa. Ardem as nossas peles em desfigurados olhares. Eu te beijo e tu me beijas. Eu ainda viva e tu vivo apenas e para sempre neste meu sonho. Amigo e primeiro mestre que saudades tenho de ti.
LUCIANE LOPES (1971) poeta paulista, nasceu e vive em Mirassol. É letrista e raramente passa um dia sem escrever algum poema. Estudou publicidade e propaganda na UNIRP, São José do Rio Preto e possui uma empresa de RH.Seu primeiro livro, O miolo do mundo é macio,será lançado brevemente, talvez ainda neste ano. O AMOR QUANDO É ANTIGO O amor sim é bicho estranho atrevido Se veste de monstro marinho, faz carinho nas minhas nádegas. Arrebenta ondas nas ancas -um pescador – de baixo dessas anáguas
PIRÃO Alguns diálogos ainda me estupram, enfiam sua peixeira nas minhas tripas. Nunca fui avessa aos maus tratos [da minha própria cabeça]
Se bem temperados sou capaz de lamber os falos.
ON THE ROAD Por favor: um amor pra viagem e um suco de eternidade
INTERVENÇÃO CELESTE minha oração é mais subversiva [do que a tua] enquanto suporta a salve rainha te mordo as mãos postas e o osso sacro ISABELA PENOV(1986) poeta, atriz e fotógrafa. Dedica-se à poesia falada e escrita. Seu trabalho em poesia falada pode ser visto na crescente cena paulista de slam (campeonatos de poesia autoral falada,) no seu canal no Youtube e também nos vídeos “Cuidado: Inflamável” e “Mal Menor”, ambos lançados no ano de 2015. Mantém o blog Semeaduras (isabelapenov.blogspot.com) POEMA PRO MUNDO Olhar o mundo como se visto de uma estrela (o passado espia o futuro): um pequeno ponto em movimento num infinito em movimento - como fosse uma bailarina no fundo do mar. Olhar o mundo como se visto da plateia: no silêncio do espaço ecoa a voz de La Negra: “cambia, todo cambia cambia, todo cambia...” enquanto elas giram - elas: a Terra, La Negra, a bailarina. Olhar o mundo como se visto de um satélite: porção água, porção nuvem, porção terra. Azul, branca, multicor flutua.
Olhar o mundo como visto num sonho (o de dentro espia o de fora): nada falta. Sua beleza está completa e a gente vendo como quem nunca viu um mapa: o mundo como veio ao mundo: nu em sangue, vérnix, silêncio e nenhuma, nenhuma ínfima fronteira.
POEMA EM PREFIXO Basta. Desisto do verso. Agora eu quero o in- verso. Ou o reverso. Eu quero agora o anti verso. O diverso. Quero o pluri, o multi, o uni verso.
E depois depois eu quero o que vem antes. Eu quero, eu quero, eu quero muito mais, além e sobretudo eu quero o sub verso.
o verso subnutrido o verso subempregado o verso subestimado, subjugado sub entendido ? o verso subdesenvolvido, um tanto subordinado (mas insubornável) ordinário, mas sub versivo.
Subversivo verbo: ação: miragem: ver só: distr- ação: paisagem.
Subatômico. Supersônico. Parido na noite insone, na voz dos sem-nome, no cancro, na peste, no corte, no pulso da veia do homem, na fome.
O subverso supérfluo e super fluido. O verso lido no vagão superlotado e sublinhado (a linha trêmula partindo as palavras) mudo, entalado, apertado e (next station) superlativo.
Verso que sub verta verso que sub leve verso que sub merja.
Subliterário, um verso que para, fica, segue sub vertendo lágrimas moendo vértebras.
Vendável, mas não vendido. Verdade, mas não verídico. Superado, mas invencível. Surgido no vendaval.
Sub verso sub merso em mil.
Sublingual: profana hóstia, calmante, anti ácido. Nascido no submundo perdido no subsolo esquecido no sobretudo. Subterrâneo etéreo Suburbano convicto, invicto, inviolável. O subverso suprassumo do suplício. Um precipício página adentro. Um início após o fim.
Sub, super, hiper, infra, intra, entre. Entre.
O verso sem superego. A gota da superdose. O verso na superfície de dentro. O verso sem sobreaviso. O verso do sobrevoo. Um dia de sobrevida - perverso.
O verso sob. Ele sobe. Versa sobre. Conversa.
Substantivo e substância e subsistência e susto. E súbito. E tanto, tanto.
Destruído, substituído, violado, ignorado, impossível. Impossível. Festejado, sussurrado, entoado, preciso. Subalterno. Preciso. Eu quero. Eu quero, eu quero, eu quero, sobretudo e mais do que o di, re, anti, pluri, multi, trans, universo eu quero o sub, apenas. Esqueçam perfeições, cumes, topos, ignorem o sublime e cuspam na estrela da manhã: eu quero o sub verso. Eterno.
MAL MENOR Mas o que o menino merece? O menor. Aquele sinal de menos, aquele fora de prumo que perambula tão próximo. O que merece o menor, o menos, o zero à esquerda de deus pai? Merece pai?, merece pão?, merece ser peão?, ser campeão? O que o menino merece? Dois anos a menos, dois anos a mais, tanto faz, nunca mais? O que o menino merece? O menino da desmemória, na ladeira. O que te desmerece. O que ele merece? O que esmorece de fomes e dores na guia. Merece alegria?, da mais barata?, vapor barato? Merece um trato ou dormir com os ratos, ao relento? Merece o vento no cabelo ralo? ou merece descer pelo ralo? o menino franzino da borda do mundo que acorda imundo no meio da sua tranquila madrugada.
Merece morada?, namorada?, moradia?, mordida ou lambida de bicho, o menino? Merece entrar mais cedo no inferno? merece um terno cortado? um pescoço cortado? um corte?, uma morte?, um trote a galope?
Já está estragado, o menino? Já é podre maçã?, pobre maçã?, febre malsã no teu corpo exposto nas ruas? Não merece moças nuas, sumo de fruta, duas luas? A podre maçã, pobre maçã, o menino malsão que apodrece vai contaminar os outros meninos da caixa, da cesta, da sexta-feira? Será que você vai morder essa fruta bichada, e acabar sozinho no meio do nada, tremendo de medo na calçada igual o menino faz em toda madrugada, será?
O que o menino merece? O que aquele menino merece? E o teu menino, o que merece? Merece ser menino? Ou cada vez mais cedo, calado, logo merece ser gerido e gerado entre grades e correntes umbilicais, no caos, caindo no abismo do noticiário diário? Não merece um canário?, um algodão doce?, uma chance?, o que ele disse que merece?
E você, que já foi menino? E o teu menino o que merece?
A CONCEPÇÃO Ela já tinha engolido sapos, risos, esperma e palavras. Gritaram-lhe: “Engole esse choro!” Engoliu e ele choveu dentro dela. De madrugada procurou um papel: tinha lhe brotado um poema.
CARLA CARBATTI (1977 ) poeta mineira, é doutoranda em estudos da literatura e da cultura pela USC. Já teve poemas publicados na Germina, Mallarmagens, Alagunas, Diversos Afins, Escritoras Suicidas, Zunái, Jornal Relevo, Contratiempo. Estreou recentemente com o livro de poemas Cadencia do Caos.(2016) [ ] o poema não tem nenhuma missão ulterior que conduza a uma explicação da vida
o poema é só esta mosca triste girando em volta de uma ferida
SOPRO minha espécie tem anatomia para o escuro para a palavra perecedeira cheia de vermelho nas bordas para as roseiras e os pensamentos ao vento para a solidão que enxerga pregos, lesmas, gatos para os fatos não corroboráveis e horizonte alongados de garças tudo que se ajeita ao devir ao movimento mas estamos obrigadas a viver os acontecimentos e as metamorfoses sob a forma da Lei nós, que mordemos a maçã, sabemos o território da boca evoca outras gravidades, gradientes, densidades, potências, realidades outra linguagem :fome: sede: sopro: salivas: mares minha espécie permanece até o último gole até na garganta pousar um pássaro e no poema o silêncio
e plá de fato o voo das borboletas advinha a dança do caos se trata de uma síntese de silêncio e movimento está em tudo a leoa quando ruge a vaca quando muge o cavalo quando relincha o balão quando incha e plá estoura no ar faz circular pequenas dimensões de acontecimentos então, pode ocorrer de alguém ver o balão, a vaca, a leoa ou cavalo e escrever um verso
alguém ler o verso e compor uma música alguém escutar a música e dançar pode acontecer não quer dizer que aconteça a combinação dos elementos é caótica a síntese é disjuntiva já sucedeu de eu dizer amor e nenhuma estrela acender no céu
MU...DANÇA dance for love p. bausch danço tuas palavras a cada sílaba a cada fonema as reticências também é preciso ir a menos encontrar o silêncio os estilhaços do que não há vou até o limiar catar estrelas no céu da tua boca não são poucas as esquinas onde me des-dobro como diante de mil espelhos perco as origens
encontro na falta a multiplicidade a possibilidade de não ser uma a soma dos átomos é infinita porque infinito o vazio duas os átomos não possuem uma fronteira definida como o amor o desejo o m o v i m e n t o danço sem coreografia
a palavra é instantânea
Publicado por Rubens Jardim em 23/10/2017 às 19h30
02/10/2017 20h14
AS MULHERES POETAS...99ª POSTAGEM
MALU VERDI ( ) poeta gaúcha, é formada em letras, mestre em literatura brasileira e doutora em teoria literária pela Universidade de Brasília. Possui muitos textos musicados por autores italianos, seja de música experimental, seja erudita. Publicou Personagem possível (1984), Matéria sem nome (1987), Falas (1988) e Este fruto outro/Questo frutto altro (ltália, 1994). “O caractere do sono – entre Oriente e Ocidente” e “Coito com o real”.
MISTÉRIOS (para Marcus, seu sorriso eventual) Arrumar malas mais uma vez arrumar, sentir o canto, o arrulhar o novo rumo de objetos sós precários, movidos de um lado para outro repartidos, classificados, ensacados coisas que buscam seu lugar buscam como se seres fossem pensantes: - caber num espaço exíguo, a repartição dos pães ao contrário (todo o vivido em algum tempo, lugar na verdade, tempos multiplicados lugares exponenciais) tudo que se retorce, aperta, ensaca para caber numa mala
GOTA Folha de forma perfeita cai De um verde verde não se retrai (é puro abandono) vem ao chão sem ser este o tempo da queda (a estação não é o outono) Uma gota verde bordada geometricamente com amarelos veios ( teia ) A folha se abre em linhas letras finas desenham o território da folha escasso e aberto (veredas esboçadas) Aranha-folha Artista traça bifurcações repetidas (destinos) Tudo cabe no espaço da folha caída
pousada na perna
MAS HÁ O SOL, HÁ A LUA Aqui escuta aqui observa aqui aguarda Erma desarmada escuta os cantos os incontáveis pássaros Nem sei o que observa ela, serva do nada, olhar frouxo a anotar o dia as águas que correm e as que em minhas costas escorrem, morrem Corro do que me arma do que não me ama, diz, desarmada de tudo o flanco ensangüentado a anca de égua parada inobservada galopando na noite Observa o ser o seu, o de cada um e cala Mas há o sol, há a lua, digo, e essa certeza pode bastar Aguarda, escuta, observa percebe a cada dia uma diferença
na luz
REVISITANDO a mesma luz o mesmo ângulo a igualdade da desigualdade
TATIANA PEQUENO (1979 ) poeta carioca, é doutora em Letras Vernáculas (Literaturas Portuguesa e Africanas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com tese sobre Maria Gabriela Llansol. Professora Adjunta de Literaturas Portuguesa e Africanas da Universidade Federal Fluminense (UFF). Publicou os livros de poemas:, Réplica das Urtigas(2009) e Aceno(2014). 1) A urna avermelhada que trago por dentro da costura deixa aberta a poça que me sai do baixo e o ventre é de onde partem os naufrágios quando mudas as viagens trazem o mar e finados são os filhos as luas todas as mulheres são cruzes punhos vapor e sentinelas acordam várias lâminas de passagem sobre o chão e a pedra – fêmeas criam estirpes de fria couraça e também preparam a dura e lenta sorte dos que perdem o medo e a parte sedada de si. nas urnas não adoecem mais as aves lançam elas o corpo trançado das labaredas. queimam os obituários e as lapelas tidas como cimento para o amor e para os nomes. 2) zona norte não era adeus era uma forma mais bruta de se cansar da vida não era perder porque perdido muito já se sentia tampouco era verão no que seguia o curso de uma avenida éramos só nós duas selando um arremesso como se eu só pedisse clemência e abrisse o sinal para outra curva. não foi distância. foi um corpo abaixo da sombra, entre o suor temperado de carne e a direção que não pude indicar ao motorista quando tomei aquele táxi e te deixei ali para que voasses para o retorno em que exatamente te perdi. 3) tantas vezes fui à igreja matriz para pedir dinheiro, vagas e depois a tua ida. na escadaria da penha os degraus são calçados pelo peso de quem carrega velas, dores e fitas e nessa sorte sempre te levei comigo. foram anos de longo subir. não sei como se volta ao cimo duma pedra depois que se sai da espera. lembro apenas do nascimento de uma montanha dessa imagem de paciência e calor no seu núcleo. os pés dos peregrinos são um retrato exato do que pedem: sobre ti nunca ultrapassei a nave dos mortos. e o que inventei mesmo foi uma passagem sem guia. algo como o que o orixás e os santos levam nas mãos: um espelho uma adaga uma rosa por vezes uma chave sem rituais ou aquilo que atravessa o corpo depois da lança.
as fotografias de meses atrás acovardam uma lápide sobre nós. e na volta estavam lá os calçados azuis ao lado da cama como se você estivesse sempre para chegar. 4) quem me tomou a casa sabia da lamparina de fogo no seu centro e desconfiava que dos utensílios fossem traçadas quimeras de sabre. quem me tomou a casa deixou apenas a desconfiança das magas antes da partida das ovelhas outra vez em guarda para quebrar o sinal dos cofres que ornei com folhas. quem me tomou a casa encontrou os dentes entre a carne e forjou na hematose a janela sem vista a jaula com fera descolorida. quem me tomou a casa violou o amor sobre as mesas porque me trouxe um veneno para as orquídeas. que me tomou a casa levou o seu tamanho dividido entre caixas e rasgou o meu membro pelos dias. e como há tanto de pele nestas paredes onde minha casa não está que não deixo mais móveis, resguardos ou queixas. quem me tomou a casa foi ao encontro dos muros. lá condicionou-se ao concreto. CRIS DE SOUZA (19 ) poeta capixaba, estudou na Universidade Federal do Espírito Santo e vive em Vila Velha. Lançou este ano, em março, seu primeiro livro de poemas: Na Frente da Loucomotiva. ELÉTRICA Estou meio Louca
Estou meio Emotiva
Estou toda Loucomotiva
PRETEXTO Basta uma lua E vira uivo O verso
Basta um vinho E vira verso A uva
Basta um verso E vira vasto O resto
PRESCRIÇÃO Não consegui Livrar-me Dos internos Sintomas
Segui Inflamando Os devidos Idiomas
De noite Entre bulas E bocas
Salvou-me Um poema Em coma
EM ÓRBITA O poeta Gira
Em torno Da pauta
Feito Espaçonauta
SIMBÓLICO bilhete para um sonho: a sombra só pode ser sonâmbula YASMIN NIGRI(1990) poeta carioca, crítica de arte, bacharel em filosofia pela UFF, onde atualmente cursa o mestrado na linha de estética e filosofia da arte. Trabalha com mediação educativa, artes visuais, oficinas de criação poética e performance. Escreve muito, lê mais ainda e é obcecada por documentários de arte. Além disso, é colaboradora da revista caliban e co-fundadora e integrante da disk musa. CID 10 - S91.3 Em delírio fui copo À espera do teu juízo Fui esquecida Largada no quarto Durante sua festa Virei cinzeiro Estive imóvel e atenta À espera do seu chute Cortei seu pé Fiz sangrar Causei toda sorte de infortúnios Da dor Ao tétano Nem cruzes ou credos puderam dar cabo Até seu pé ser amputado
MANUAIS A gente sabe que está vencendo no capitalismo Quando nos procuram pra falar só de trabalho
Você me diria ah, mas qual a necessidade disso tudo que fazemos vira poesia, tem eco
Ao passo que eu ué, você fez uma panela enorme de lentilhas essa semana qual a necessidade de toda essa lentilha?
Essa desistência é provisória Tudo será superado Domingos transgênicos tabagismo danças húngaras
Talvez seja mesmo de aceitar Que a toda hora há alguém traduzindo — mal traduzido Uma obra do Nietzsche
UM POEMA PARA OS ROLLING STONES Quatro anos de graduação Dois anos de mestrado Seis anos de alemão E quando vejo essa porta vermelha Ainda quero pintá-la de preto
Não tenho mais paciência para amar Talvez devesse praticar o zen budismo em Copacabana Custa vinte reais a sessão de zen budismo em Copacabana Eu não poderia praticar o zen budismo em Copacabana sendo mesquinha Deixa pra lá começa sete da manhã o zen budismo em Copacabana Não é que eu seja mesquinha é que eu não tenho pra dar mesmo Tudo é uma questão de logística
Ando refletindo sobre estreitar relações com minha espiritualidade e Fora da faixa de pedestres um carro em alta velocidade quase me atropela —Tá maluca, quer morrer? —Talvez eu queira sim, seu idiota!
Às vezes perguntas tolas me vêm à cabeça Como assim você é fã dos Beatles E atravessa fora da faixa
Às vezes pensamentos malignos me vêm à cabeça Sabe o que cairia bem agora Você de um prédio
MWAUHAUHAU Eu queria evitar a fadiga e não pensar em você Respeitar seu desejo de não poetizar mais você Porque aqui você sai efetivamente diferente de quem você intenciona ser A minha vingança é que todos os poemas de amor que te escrevi são ruins Inclusive esse E minha vontade é reunir todos eles e publicar com o título Minha vingança será nunca te escrever um poema bom
Publicado por Rubens Jardim em 02/10/2017 às 20h14
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