27/11/2015 14h51
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (68ª POSTAGEM)
CLAIRE FELIZ REGINA (1928) poeta matogrossense, nasceu em Campo Grande e é funcionária pública aposentada. Aos 17 anos mudou-se para Bauru-SP, cidade onde se casou e teve os seus filhos. Posteriormente veio para São Paulo , onde reside atualmente. Quase aos oitenta anos passou a escrever poesia. Publicou 3 livros de poemas: Meu jeito de falar(2014), Poemas eróticos (2014) e Caquinhos de poemas(2014).
O MARIDO Antes ele fazia sexo demorado. Cheio de preliminares. Reclamou-me a vizinha, virou poeta de hai-kai, agora, só quer dar “uma rapidinha”
POEMA PARA UM AMOR MAIS JOVEM Você nãofez. Você é um poema, que pena... Por que só agora? Por que tanta demora? O que você escreveu é lindo, mas pra mim, fora de hora.
Eu nasci bem antes, eu tinha pressa, eu queria ver a vida, eu queria encontrar um poeta. Mas terminei desencontrando, pois na estrada da vida, você está na entrada, eu, na saída.
NOSSO AMOR Por que o nosso amor tem que ser assim? Te amo porque não posso viver sem você, mas te odeio porque você pode viver sem mim.
A ESTRADA DA VIDA A cidade onde eu nasci, as ruas por onde andei, os lugares que eu conheci e as paredes onde eu amei.
Deles eu nunca me esqueci.
São os lugares da minha vida, espaço da minha memória, se um dia eu for poeta, vou cantar em sua glória.
Ela pensa que se lembra de todos, mas há uma estrada que anda muito esquecida, justamente aquela, que foi a primeira por todos nós percorrida.
Nenhum poeta fez versos pra ela, nem você se lembra do nome dela.
Perereca, xoxota e até periquita, são nomes que dão para ela, mas você sabe, na verdade, o que ela é, ela é a porta de entrada da vida.
E se você não nasceu de cesariana, tenha mais carinho ainda com a
perseguida
Pois ela já foi, um dia, a sua única saída.
ROSANA CHRISPIM (19 ) poeta mineira de Carandaí, morou em Juiz de Fora até mudar-se para São Paulo em 1967 e, depois, em 1970 para São Bernardo do Campo. Formou-se em jornalismo e exerce a atividade de produtora gráfica até hoje. Publicou 2 livros de poemas: Semelhanças(1986) e Entretempo(2003) e teve trabalhos divulgados em revistas e suplementos literários. TRANSE A despeito do céu intoxicado de fumaças e resíduos do desvario arqueando o ombro da espada sobre a cabeça a alma está acintosamente clara espantosamente lirica
Os olhos aprisionados delatam sentidos esmiuçados desejos alvoroçados
A lua explode meu fim adiando-o
CONTRACULTURA às vezes me desajeito a palavra é minha arma e com ela me firo momento em que gesto/ voz/ verbo não são meus me desapropriam
Com quanta poesia se alinhava um verso
alma armadilha algaravia
o poema me desacata penetra/ fala fundo/ alto ve quando quer imperativo estio
Com quanta poesia se cala um verso
NAU confia ainda que há portos nas cartas dessa ímpar navegação
céu mar embarcação desfavoráveis mas há portos
prontos a receber as passageiras amarras pra restauro do casco cuidado da máquina retomada do leme
ao navegador (in)certeza e travessia
aos portos o quinhão da espera
ALENTO Bem devagar vem o desejo e cochila
Vem bem devagar um quase desejo em meu ombro e cochila
Vem bem devagar aquele quase desejo do seu ombro e cochilo
MARILIA KUBOTA (1964) poeta paranaense, é escritora e jornalista. Publicou poemas nos livros Pindorama (2000), Passagens (2002), 8 Femmes (2007), Antologia da Poesia Brasileira do Início do Terceiro Milénio (2008), Selva de Sentidos (2008), Blablablogue (2009) e Todo Começo é Involuntário - Poesia Brasileira no Início do Século 21 (2011). Seu livro, Esperando as Bárbaras, foi publicado em 2012.
LIKE A ROLLING STONE como ser pedra que rola no abismo ser desvario muitos gostariam não podem seguem programas temem desabe o céu
ser inocente — uma outra forma de fazer arte — pintar a parede
quase tudo morre de velhice ou mesmice
se houver um buraco para cavar avise
talvez haja fórmula para escrever rimas, x e y, se você quiser, mas o que irrompe é a onda elétrica além do blablablá
a eloquência arranca aplauso cobre o rap soluçado
jogar paciência com cadáver obedecer ordens não escritas o raio atinge em vez de rosa, cacto.
nem santo nem ator:
o poeta é perdedor.
ESTE SILÊNCIO este silêncio é pra ser ouvido como quem ouve um velho amigo
como quem põe sentido
e repercute o menor ruído
este silêncio é pra ser ouvido contra o motor do avião e placas de Proibido
pra ser ouvido como quem anda pra trás e acha divertido viver por um triz
este silêncio é pra ser cortado por um pé de vento e súbito cair abatido.
CINZA estamos distantes do que éramos, estrelas, abelhas.
os pensamentos giram, monótonos, como zumbido entre orelhas.
rápido dizer. rápido chorar. por favor encante rapidamente para embarcar no trem sem volta.
métod, sísifo, me entrego ao erro cada vez mais.
enquanto homens se embriagam mulheres despencam nos lençóis o desespero é abafado com suavidade: amamos a voz dos pássaros sem ouvir seu canto.
GASTE TEMPO ghaste tempo correndo atrás do vento como um cego que emprega mal os dedos perseguindo
amar pra você é agradar pra mim soltar quando menos se espera encontrar a melhor forma pro desespero lutar contra a luminosidade do sol e fugir de qualquer altar.
bravo você tem jeito pra escrever versos eu só finjo minha ikebana tem flor de banana
FRANCESCA CRICELLI (1982) poeta paulista, nasceu em Ribeirao Preto, é tradutora e pesquisadora. Seu livro de poemas Repátria foi lançado recentemente, em agosto deste ano. Morou na Itália, na Espanha, na Malásia e, por alguns meses, na Índia e no México.
REMOVER DO CORPO AS CROSTAS DO SILÊNCIO No se puede contemplar sin pasión. (Borges)
Remover do corpo as crostas do silêncio tudo que é vivo e exposto grita e gira, pela avenida a dor se junta ao rumor.
Para chegar à clarividência procura-se um ritmo, qualquer um, que descompasse as artérias —
a vida enverga sobre a avenida no peito só a voragem do eterno, a fração do abalo sísmico, desenha na mão cataclismos.
RUA ABÍLIO SOARES A casa caiu e o vazio fisga fundo a ferida.
A rua muda, a sombra nua espraia o sol, meus passos passam
CATEDRAIS Força sutil e estrondosa a nossa catedral erguida no peito vazio –
no silêncio dos olhos, sós e incessantes construímos um penhasco, ponte de uma dor a outra.
Como todo ser vivo, hoje estamos cada um com seu vício.
É O NASCER DO DIA QUE RASGA O PEITO DOS AMANTES É o nascer do dia que rasga o peito dos amantes, como o verde que colore ois olhos, na mesma diagonal, o desenho de um milagre.
Plantar na terra pés com o coração e não ir mais embora agora que colocaste o mar no céu.
Enquanto na gargante brota-se a línguia dos antepassados navegadores meu olhar permanece no horizonte.
Publicado por Rubens Jardim em 27/11/2015 às 14h51
03/11/2015 19h35
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (67ª POSTAGEM)
THAIS GUIMARÃES(1962) poeta mineira, nasceu no Ceará. Autora dos livros Jogo de cintura (1983), Dez pretextos para uma noite de solidão (1983) e Bom dia, Ana Maria (1987, Prêmio Jabuti de Melhor Produção Editorial Infantil e/ou Juvenil). Tem poemas publicados em diversos jornais, revistas e antologias. O anjo combalido nada sente, nada vê DA SÉRIE PAISAGENS santiago, 1984 noite de calmaria a praça vigia nosso amor de artilharia NOTURNA A flor dos meus seios Aguarda A tua língua O gosto da fala Intraduzível Em minha carne SOBREVIVENTES Não há mais país, pátria, amigos, tudo é virtual silêncio correndo no dia ao encontro do precário, essencial sentido de seguir. Por que não parar num declive qualquer da memória?
Perdi bondes, trens, caronas, agora olhando o céu tão perto das nuvens busco referências na ausência das distâncias, dos limites, das cidades, e em velocidade supersônica meu coração pode parar em um segundo, desconectar geral , em busca de uma sala de amigos, casa sem móveis, violão, cachaça, agito, joão, barreto, sônia, tião, carlinhos, tempo sem pressa. Imprescindível.
Não há tristeza, desamparo, amargura. Estamos todos seguros nessa aldeia protegida, da morte vivemos, particulares, produzindo, acessando a palavra inexorável, agora plena de sentido, vigora.
Nomeamos os que morreram, enlouqueceram ou apenas partiram, sem dizer adeus seguimos. Alguns lançam garrafas ao mar.
Outro dia, encontrei uma mensagem criptografada. Poesia! ANA MOTTIN (19 )poeta gaúcha, formou-se em direito pela UFRGS. Publicou em 2006 o livro de poemas Olhos de cadela, finalista do Prêmio Açorianos. Em 2011 foi finalista do premio Fato Literário realização do Grupo RBS. Seu primeiro romance Atado de ervas foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura – Melhor livro do ano Autor Estreante. CANÇÃO PARA ARRUMAR A MESA De minha mãe, eu sei, herdei a calma, os pés no chão, a luz dos candelabros Mas quem plantou em mim essa semente a cada outono florescendo em dálias? Era tão certa a casa em que vivíamos. Seu lúcido equador, as costas largas, Sobre a toalha o rol de cicatrizes: à esquerda os garfos, à direita as facas, no centro o prato e dentro o guardanapo . Bonança horizontal, pompa e decoro.
Onde coloco, mãe, o desconforto, essa vontade de afiar as garras? ANDARILHA Feridas marcando meu rosto? Isso é coisa nenhuma a vida me dói é lá dentro, onde estou corrompida em vinte mil fragmentos.
Procuro a reza perdida, um cheiro, um sei lá o que. À noite, reluzem besouros e sinos soam tristonhos. Batem por mim alguém disse. Difícil acreditar, a corte já tem o seu bobo. Sou tudo menos que nada.
Sob essa luz que esmerilha a dureza do concreto fazendo nascer no asfalto olhos de boitatá me defendo como posso. Olhos voltados pra trás quero rever a árvore, caverna, beira de poço onde pousavam pardais.
Minto ao oficial da alfândega dizendo que tudo é meu. Não sei o que levo nas malas de outros as recebi .
Chego mais perto e o que grita o que no interno sussurra gravado na minha pele, vira matéria de sonho, nuvem gerando pedra, e esta fome abstrata que não cabe no meu lenço.
Quem me dera ter agora a velha taça lascada onde bebia meu pai. Seu chapéu de gabardine tinha uma sombra macia capaz de coar o mundo.
Chega de assombrações, o meu destino é partir. É tarde, o mundo se acalma, feito paisagem da Holanda onde há sempre uma ameaça, um afogar-se de vez.
Andar é coisa sagrada. Não ser feliz justifica. HELENA A vida que atravessava o seu peito tão escasso de segunda a sexta-feira (sopa rala, prato raso) passava sem perceber. Mas era ainda domingo e o seu homem aos domingos montava nela apressado esparramando o cinzeiro e a raiva surda, salário. Helena não reclamava. Amor talvez fosse isso a casa limpa, arrumada, os restos de uma esperança e os filhos dormindo ao lado. Um dia, talvez, quem sabe, se o calor não fosse tanto cinza cimento pesado o mesmo homem de sempre com boca nua beijasse e Helena (corpo pequeno) e Helena (peito apertado) no lençol de todo dia estampadinho passado seria uma outra Helena, por uma vez demasiada POEMA DE AMOR SEM NINGUÉM Este poema de amor é bilhete sem destino Não sei a quem entregá-lo Não há nome no envelope nem rua, nem direção Ternura jogada fora saudade apenas, sem fatos que se possam recordar este poema de amor reincidente e insano joga sal no oceano transpira lençóis de insônia esboça os traços de um rosto traceja a forma de um corpo apaga, torna a fazer. Vento vago que levanta e logo depois deposita palavras soltas, papel este poema (eu mesma) este poema é ninguém. MARIANA TEIXEIRA (1984) poeta goiana, morou em mais de uma dezena de cidades. Em 2014, participou do Festipoa declamando poemas. Publicou os livros Inversos Paralelos (2013) e O que tirei da mala (2015). Também é criadora do projeto ‘Gota a gota’, com a artista plástica Shirley Soares CRIME tenho tendências assassinas
mato saudades com golpes de falta de ar ENCOMENDA Hoje um trecho do mar chegou em casa.
Tem dias que não chega nada. Tem dias que chega o óbvio. Tem dias, como hoje, que chegam coisas grandes. Mar, montanha, onça. Às vezes, cidades inteiras vistas de cima.
O vão entre a porta e o chão é uma espécie de portal
DOAÇÃO tirou do armário o que não servia não queria e nem sabia que tinha
tirou tudo e colocou de volta só o que usaria
o par de asas ficaria ótimo com os pés descalços DESORDEM Passava uma mão nos cabelos domando os fios que brigavam com o vento
Com a outra mão domava a saia que subia e descia causando vergonha nas coxas brancas
Com menos mãos do que queria domava o que dava e seguia ELLEN MARIA DE VASCONCELLOS(1987) poeta santista, é formada em letras e vive em São Paulo. Atua como revisora, preparadora e tradutora de textos. Já teve pomeas publicados em varias antologias e marcou presença nas revistas Zunái e Mallarmargens. Seu livro bilíngue Chacharitas & Gambuzinos foi publicado este ano, em agosto. BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA
SINTOMAS Lavávamos tudo junto Pendurávamos entre os dois eu passava minha mão no seu cabelo você me passava o vestido Saíamos cheirando gostoso de casa Sempre com vontade de ficarmos você encharcando lençóis eu mordendo almofadas Depois discutimos por um xampu Ou era condicionador? Anti caspa você se foi com a cama achei melhor tirar a corda Já viu quanto cabe num varal de teto? Da nossa casa fechei as janelas pra não molhar os retratos e um ano depois me mudei Acabou que nunca mais pedi a ninguém que tirasse a roupa porque ia começar a chover. DO CLAUSTRO A PIA Não dá pra por o filho de novo no ventre Não dá pra por o vômito de novo pra dentro Não dá pra expor o íntimo e sair isento Tinha que sair, saiu a tempo: o filho morto, o gosto fétido, o sentimento. LUGAR DE ESPERA Ser mãe e contar nos dedos quantos anos faltam para colocá-los pra fora. Mas não tenho pressa tenho tempo e dentro de mim todos os filhos do mundo.
Publicado por Rubens Jardim em 03/11/2015 às 19h35
29/09/2015 12h32
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (66ª POSTAGEM)
MÁRCIA RÚBIA( 1957) poeta baiana, é graduada em letras e pós-graduada em planejamento educacional. Participou de várias antologias e concursos literários e já foi premiada várias vezes. Colaborou com os jornais Sudoeste, Et Cetera, O Rascunho e Jequié, escrevendo matérias, crônicas e poemas. Atualmente é membro da Academia de Letras de Jequié. Publicou seu primeiro livro no ano passado: Procura-se a Poesia. DOIDA VARRIDA Por que não fugir Dessa tempestade que arrebata Fantasia insana, labaredas O meu corpo em chamas. Vivo num mar sem fundo Náufrago em uma ilha Personagem sombria e louca Aprisionada em martírios. Por que não afugento Os fantasmas do meu duplo? Repousa uma montanha russa No vale do meu delírio. E por ser a eremita Da gruta dos caminhos Anjos, bruxas e duendes Farão um banquete de redemoinhos. E por não demolir Paredes de solidão A santa e profana amordaça Os papas da Inquisição.
A SHALLENGER Subiam a vidas na chama do desconhecido ansiosas felizes quase deuses! Mergulharam em sonhos e nuvens flutuando infantis dentro do ônibus qual pássaros. Era tão fácil transpor fronteiras fazer valer canhões em guerras ou capitalismo (onde também o orgulhoso olho de Reagan alçava vôo com os ícaros alado). A mente humana palmilha os céus em futurismo exótico quando a coragem acasala-se com o infinito. É tão fácil desafiar os céus de artifícios... Sem anacronismo respiramos o avanço: são prodígios do homem e da tecnologia. O que poluiu o universo foi a morte sem poesia...
OS LIVROS Existem coisas que se aprendem com a Natureza: respirar ar puro caminhar pelas manhãs abraçar um sonho lutar pela vida e ter sentimentos em forma de estrelas. Existe algo bonito: olhar para os lados e encontrar amigos vestidos de papel esperando ser folheados. É um hábito gratificante: brincar com as letras correr atrás dos sentimentos que escapam das páginas brincar de amarelinha com as ideias torcer por um final feliz ou conhecer de perto o lado cinza da existência... A leitura é um banho maravilhoso na alma é vestido novo por dentro é laço bonito de cultura é disciplinar os momentos Criança aperte a mão do livro na aprendizagem da vida. LEIA! Os livros são bons amigos!
SONIA BARROS (1968) poeta paulista, nasceu em Monte Mor e desde a infância mora em Santa Bárbara d´Oeste (SP). Formada em letras, fez teatro, dança e canto. Publicou 17 obras para de literatura infanto juvenil, dentre eles: Coisa boa, O gato que comia couve-flor, Asas de dentro . Em poesia, 3 livros: Mezzo Voo (2007 ), Fios (2014) e Tempo de dentro , estes dois últimos vencedores do Prêmio Paraná de Literatura, na categoria poesia. em 2014 e 2017 respectivamente. NOVELO Ao descer do palco, desejava carregar cada personagem, feito um sapo colado às costas: pele, carne, vísceras de outra pessoa ou bicho para poder não ser. Príncipe-marionete guiado por fios fantasmas não queria — nem no palco — só se pudesse encenar-encarnar Teseu e o real deixasse de ser labirinto para tornar-se caminho: Ariadne a resgatá-lo por um (único) fio.
SEM LUGAR (a partir do poema “vida minúscula” de Donizete Galvão) para quem nasceu destinado não à enxada mas a trabalhar em casa alheia, repetindo a lida materna, o desejo do voo – mesmo rasteiro – fazendo da palavra seu meio de vida é quase uma afronta ao imutável destino: casulo-mordaça sempre a lembrar o devido lugar
da menina lagarta.
HERANÇA PATERNA Não nasci sem pai: ele esperou até que eu nascesse.
Depois, ao constatar o sexo frágil de sua quarta frágil-filha-mulher, ele, o homem forte, se foi.
Como herança, deixou-me esta aptidão para vôos interrompidos:
eterno fugir de onde nunca estivemos.
MAHLER MONUMENTAL Ouvir com todos os sentidos: espírito absorto peito a expandir-se paz e desconforto nostalgia e angústia na mais profunda, nua solidão. Desintegrar-se ao som de sopros, sonhos, saltos por entre escombros de vidro e veludo: espírito partido disforme sempre suspenso sobrevoando pântanos e colinas à exaustão – sôfrego percurso de toda a humanidade num só homem perdido em céus
de impossível redenção. CLARISSA MAIORINO ZELADA (1970) poeta paulista, nasceu no interior de São Paulo: São José dos Campos. É formada em psicologia pela USP e atualmente é graduanda em letras na mesma universidade. Publicou o livro Tatu Inverso (2013), Seu próximo livro se intitula Fugacidade. Escreve regularmente no seu blog www.tatuinverso.com PUDIM Meu seio na concha da tua mão pousado lembra uma colherada de pudim roubado num assalto à geladeira
no meio da madrugada balança sem pratos desequilibra-se transgride a lambida nas costas da colher mulher adormecida.
FALTA No mundo dos excessos sinto apenas falta sinto pelas minhas faltas sinto pelos meus excessos sinto pelo mundo a tua falta tão una tão simples a duras penas a tua, apenas.
CONFESSO-TE Confesso-te intimamente: te roubo.
Hoje, ontem, desde que te conheci te roubo antes mesmo antes de nascer, antes de existir pois te roubo a memória daquilo que não vivi.
Persigo-te incansavelmente o sonho, a pele enquanto dormes aproprio-me dos teus contornos e desnudando-te, ocultando-me vou em tuas vestes.
Que saibas que te roubo o gesto o rastro, teu prato predileto e quanto mais o faço mais és novo, mais és outro renasces em mim em sonhos como flores que me brotam da perna ramos, folhas rebentam de uma forma singela e tão docemente me colhes que pareces saber que o faço desde sempre e sem importar-te, deitas mais tantas outras vezes em meu ventre a tua semente.
CIGARRO No carro ao lado ao volante vai queimando um cigarro enquanto espera o sinal vermelho na ponta em brasa estático o tempo passa consumido no papel.
Espera, me deu vontade de conversar com a fumaça do teu cigarro, confusa, sinuosa uma conversa feita de silêncios ascendentes espirais de pensamentos perder-me na fumaça, esfumar-me lua arredondada no céu da boca soprada, escapar-me por narinas, olhos lacrimejados ser este cigarro que tragas queimar-me na brasa abraçar o tempo consumido nas cinzas da vida palpável.
No verde me disperso acelero, me despeço.
SIMONE DE ANDRADE NEVES (1974) poeta mineira, é advogada e teve poemas publicados no Suplemento Literário de Minas Gerais, Poesia Sempre, Revistas Mininas e Polichinelo. Em 2006 participou, como convidada, do projeto arte no ônibus e da pelada poética, 2010 e 2013. Publicou os livros Coração como engrenagem(1994) e Corpos em marcha(2015). O TEMPO ABRANDA AS COISAS O Sol fez branco o terço rosa deixado sobre o túmulo.
O GADO Os bois Cessado o réquiem
MARULHO
DUCHAMP ARDIDO O aposto e o hermetismo Tal urina, urinol um coração expande amorfo a decompor dejetos metafísicos cavo, calva, a cova. Publicado por Rubens Jardim em 29/09/2015 às 12h32
02/09/2015 19h55
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (65ª POSTAGEM)
RIZOLETE FERNANDES (1949) poeta potiguar, é socióloga e militante dos movimentos sociais. Nesse caminho publicou o livro “A história oficial omite, eu conto: Mulheres em Luta no RN”. Reside em Natal desde 1971 e já foi agraciada com as medalhas Nísia Floresta e Auta de Souza. Publicou os livros de poemas Luas Nuas(2006) e Canções de Abril(2010). Participa de várias antologias e é membro da UBE. DIÁLOGO COM FANTASMAS a Margareth Felipe Ensinou-me um anjo a não temer fantasmas descobrir de onde vêm por que motivo saber portar-me em sua companhia sem os expor à-toa ou ocultá-los no sótão embaixo da cama ou sob o travesseiro
Às vezes por falta de hábito o ciciar de uma asa-invisível ainda espanta noutras são minhas desassossegadas atitudes que os assustam
Na maioria das tardes os recebo para um chá no apartamento e frente à frente entre uma torrada e uma confidência vamos estabelecendo uma civilizada convivência MOSAICOS a Amaro Bezerra Qual mosaico mal posto no tabuleiro do assoalho o encaixe da palavra no texto às vezes soa exíguo
Inda que ajustado a malho (igual ao desnível do piso no contexto da sala) resta ambíguo
Mas o resolver-se que a momento silencia noutro estala FAZ DE CONTA Te esperei durante oito uísques três visitas inesperadas quatro maços de cigarro enquanto um copo suado aguardava o brinde a dois
E compus frases de efeito para bem te impressionar fiz promessas em versos castelos para te abrigar mas tu não vieste na hora marcada nem depois
Madrugada em meu peito nicotinumedecido realça o claro escuro do sonho subtraído ao dia que vai nascer ESTRABISMO Estrabismo olhar atravessado tudo eufemisno para mudar de lado ANA CAETANO(1960) poeta mineira, é médica e professora da UFMG. Foi co-editora da revista Fahrenheit 451 e do jornal de poesia Dez Faces. Participou da coordenação dos projetos Temporada de Poesia (1994) - em comemoração aos 100 anos de Belo Horizonte, Poesia Orbital (1997) – coleção de livros de 60 poetas de Belo Horizonte, e do CD Cacograma (2001). Publicou os livros de poemas: Levianas (1984), Babel (1994) com Levi Carneiro, e Quatorze (1997). Quase tudo pode ser descrito menos o escuro Quase tudo pode ser proscrito menos o que eu juro Quase tudo pode ser previsto menos o futuro ANATOMIA Qual a matéria do poema? A fúria do tempo com suas unhas e algemas? Qual a semente do poema? A fornalha da alma com os seus divinos dilemas? Qual a paisagem do poema? A selva da língua com suas feras e fonemas? Qual o destino do poema? O poço da página com suas pedras e gemas? Qual o sentido do poema? O sol da semântica com suas sombras pequenas? Qual a pátria do poema? O caos da vida e a vida apenas?
ERRATA Nem tudo que foi dito é crédito digno de estória
Nem tudo que foi mito é inédito repouso da memória
Nem tudo que eu repito é mérito ou grito de vitória DILEMAS DE GUERRA Acertar na mosca é fácil O difícil é atirar na sorte
Confiar na sorte é fácil O difícil é evitar tempestades
Colher tempestades é fácil O difícil é planejar o naufrágio
Sobreviver ao naufrágio é fácil O difícil é encontrar companhia
Ser companhia é fácil O difícil é acompanhar a batalha
Vencer a batalha é fácil O difícil é descobrir o inimigo
Enterrar o inimigo é fácil O difícil exumar os ossos
Destruir o império é fácil O difícil é recolher os destroços. PAULA AUTRAN (1974) poeta paulistana, é historiadora, jornalista e mestre em artes cênicas pela ECA. Já teve seis peças encenadas e é integrante do Centro de Dramaturgia Contemporânea. É autora do livro infantil Vovó Rock and Roll e do relato jornalístico A Volta dos Mutantes. Publicou o livro de poemas Manifesto de mim mesma (2014). Meu corpo que já emprestei meu corpo com o qual caminhei meu corpo apartado de mim meu corpo que clamou no deserto Meu corpo para o qual olhei meu corpo, Meu corpo: MANIFESTO DE MIM MESMA Ficam revogadas todas as ideias contrárias a mim mesma. (Ideias minhas, que fique claro).
A partir de hoje poderei livremente exercer a mim mesma, por aqui reinará a mais completa auto-indulgência.
Poderei gostar livremente da língua portuguesa. Poderei amar livremente as palavras sôfrega, irrefreável, consubstanciosa e soslaio.
Poderei livremente renegar o rock, o fim da poesia dos ônibus de janelas abertas e o fim do silêncio nos salões de cabeleireiro.
Poderei livremente renegar o uso irritante da tecnologia. Poderei, inclusive, ser muito, muito incoerente e postar isso no Facebook.
Poderei livremente gostar só de músicas de mulherzinhas da nova safra da MPB que cantam baixinho e usam vestidos floridos. E em seguida morrer de tesão ouvindo o Mick Jagger cantar Angie.
Poderei livremente fritar ao sol sem medo de raios UVA e UVB. Poderei proibir meu filho de comer chocolate e ver desenho na televisão,
e imediatamente dar a ele café com leite, e rir com ele vendo Alien X O Predador. Posso não gostar de gibi, nem de textos pós-dramáticos e morrer de sono e tédio ao ver uma peça sem narrativa.
Posso ensinar o hino do Corinthians ao meu filho, dizer a ele que esmalte é coisa de mulher e depois deixá-lo usar meu batom e andar com meus sapatos de salto alto.
Posso olhar para um homem e dizer: quero te beijar agora e chorar como uma virgem em casa de solidão e saudade.
Posso não prestar continência a ninguém. Posso não ter medo de nada, só do meu desassombro.
Posso tudo o que eu quiser do jeito que eu quiser na hora que eu quiser.
Porque quando eu atravessar a rua amanhã de manhã ou agora mesmo bem daqui a pouquinho,
diferente de você, tenho certeza de que um caminhão bem grande, bem veloz, bem veloz mesmo e desgovernado pode acabar com qualquer certeza, medo, raiva, tédio ou rancor. ALGUMA EPIFANIA E sendo a noite o final do dia deveria trazer alguma epifania para rimar, para fazer sentido, mas não traz.
Os desafios auto impostos crescem gigantes à minha frente
como as bocas dos dragões que meu filho coleciona e que no escuro das horas insones ( perdidas) me metem medo de verdade.
Mas fé é para ser tirada do bolso nesses momentos. Para que lembremos com destemor que o mistério é a matéria que habitamos todos os dias.
E que ir e vir é só o que podemos fazer entre nascer ( vindos de um lugar que não conhecemos) e morrer ( indo para um lugar que não sabemos se existe).
Então, parece mesmo que não há jeito: o mistério é estar aqui agora.
E disso tiremos o melhor: procuremos sem descanso o abismo que melhor nos apraz para sentarmos em sua beira e balançarmos os pés despreocupadamente,
pois para isso é necessário que eles não estejam fincados com segurança em terra firme alguma.
POR TÃO POUCO... Olho para o sabonete na pia. Ele está no final. Gosto de usar os sabonetes até o finalzinho. E pensar o que acontece com eles.
Sobram sempre alguns pedaços. Eles não se extinguem por completo. Nem o shampoo, a pasta de dente ou o perfume.
Há sempre uma gota no final do frasco, do recipiente, da embalagem. Como os grãos de arroz, o pó do café.
Nós é que desistimos deles. Desistimos de apertar o tubo, de catar migalhas, de bater no fundo do frasco.
Um dia cansamos de nos esforçar por tão pouco. MARIA REZENDE (1978) é poeta carioca, atriz e montadora de cinema e televisão. Aprendeu a dizer poemas aos 18 anos com a poeta e atriz Elisa Lucinda. Em 2012, não sendo juiza, nem celebrante religiosa, celebrou alguns casamentos com sua poesia. Publicou 3 livros de poemas : Substantivo feminino(2003), Bendita Palavra(2008) e Carne do Umbigo(2014). Os dois primeiros vinham acompanhados de CDs. PAU MOLE Adoro pau mole. Assim mesmo. Não bebo mate não gosto de água de coco não ando de bicicleta não vi ET e a-d-o-r-o pau mole.
Adoro pau mole pelo que ele expõe de vulnerável e pelo que encerra de possibilidade.
Adoro pau mole porque tocar um pressupõe a existência de uma intimidade e uma liberdade que eu prezo e quero, sempre.
Porque ele é ícone do pós-sexo (que é intrínseca e automaticamente - ainda que talvez um pouco antecipadamente) sempre um pré-sexo também.
Um pau mole é uma promessa de felicidade sussurrada baixinho ao pé do ouvido.
É dentro dele, em toda a sua moleza sacudinte de massa de modelar, que mora o pau duro e firme com que meu homem me come.
ECLIPSES EM ESCORPIÃO mudança revolução
Eu estou trocando de pele e isso não é uma metáfora
Feito cobra nas vigas de outra casa feito um feto quebrando cromossomos
Eu sou de outra galáxia sou invenção de passarinhos eu não existo exatamente eu estou de onda com a sua cara
Eu sou exuberante eu sou exagerada sou a morena peituda com que você sempre sonhou
Sou uma célula tronco carne do umbigo sou minha própria cura drama discreto lua em Leão
Eu não morro eu vivo eu sou a regeneração ORIGEM Uma mulher é uma mulher ainda que. Palavras e formas não comportam o conteúdo. Uma mulher pode ser um jeito Uma costela, um defeito. Uma mulher transborda pelos cantos Enche as medidas Contorna o desafino. Toca punheta e toca sino. Uma mulher pode ser um grito Uma barriga Um precipício. Uma mulher pode um abismo ou um porto E pode ser os dois E é. MORRER PODIA SER SÓ UM POUQUINHO podia ser um passeio viagem pela noite que acaba num café Morrer como uma aventura uma montanha andar o deserto a pé e depois voltar Como dançar de olho fechado se perder em outro corpo como uísque bom, um sono inteiro um prazer, um cheiro Morrer podia até ser um castigo porta fechada com prazo de fim mas não esse buraco, esse abismo seu riso pra sempre ausente sua música soando e mim Publicado por Rubens Jardim em 02/09/2015 às 19h55
14/08/2015 00h43
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (64ª POSTAGEM)
MARGA CENDÓN (1959) poeta gaúcha, é também artista plástica, cronista, contista e assina, atualmente, coluna na revista Viapampa (edição impressa) na cidade de Uruguaiana, onde reside. Participou de várias antologias (Os Cem Melhores Poemas do Twitter 2013) e publicou dois livros de poemas: Lonjuras(2013) e Sal e Trigo(2014). POEMA 3 Não há fim. Tudo em mim é recomeço. POEMA 21 Sou enraizada no pampa. Quando um pássaro me habita sou uma árvore que canta. POEMA 39 Asa... Palavra que Remete às lonjuras
Desenraíza-me.
E já não cabe a solidão das gaiolas. Sou um verso que voa. CLASSIFICADOS DE CARNAVAL Eu, Colombina, procuro o Arlequim que chorou por mim no meio da multidão. Quem souber informar, favor contatar um dos mil palhaços no salão. DORA RIBEIRO(1960) poeta matogrossense, nasceu em Campo Grande, viveu mais de 20 anos em Portugal e mudou recentemente para a China. Estreou com Ladrilhos de Palavras (1984) e publicou os livros de poemas Começar e o fim (1990), Bicho do Mato (2000), Taquara Rachada (2002), A teoria do jardim (2009), Olho empírico (2011). quero falar uma língua nova principiada na carta do teu corpo sem escrita lúcida nem modos genitivos quero uma língua já gasta gentilizada versada em todos os paganismos sórdidos e elegantes imagino-a já enciclopédica ruminante e devoradora de esperas língua sem contenção musa de labirintos MEU CINEMA o plano está bastante inclinado e nós estamos lá simples e molhados
(há ovelhas à volta e as árvores são esculturas feitas de ventania)
o chão olha debaixo da minha saia
e você vê ali o céu descoberto
eu finjo distração e morro por segundos nos seus braços NA POESIA... Na poesia a palavra só ressoa depois primeiro fala para dentro numa fidelidade própria das coisas sem começo nem fim
aqui como nas Ruas há caos e transparência poucas saídas e uma só entrada. BEIJING toda destruição deixa alguma espécie de marca caras queimadas braços vazios fios elétricos pendurados no ar
reescrever não tem lastro silencioso todos os paus do corpo gritam pedem justiça para a sua pele nada mais teatral do que a morte disse ashbery mesmo a morte do acabado
o reescritor porém ignora a propagação do desejo de destruir não destruir e convencido da história constrói não constrói ..................................................................................... osso oráculo osso de tanto se repetir a língua vibra em estilhas e mergulha em novos significados palavras escuras nascem já divinatórias para fazer morrer em mulheres e homens as suas primeiras imagens sob manhãs moventes pensar os arredores e seus sexos é obra de demolição CRISTINA OHANA (1961) poeta mineira, fez numerosas performances teatrais nas décadas de 80 e 90. Hoje, faz filosofia na UFSC, mantêm três blogues ligados à literatura e filosofia. Publicou 3 livros de poemas: Senhor S (1980). Fausto sem Rugas(2013) e Pele dos Dias (2014). Seu poema A Bíblia negra de Chamberlain foi vencedor do Prêmio Moacyr Scliar, em 2008. MIMESIS DA CAL Todas as palavras morreram pá de cal assombrosamente falamos, agora, sem falar pá de cal a escuta em cemitérios de línguas mortas pá de cal poemas mudos a andar por estradas brancas pá de cal a mulher sem nome que mata nomes pá de cal legiões de surdos mudos adentram palácios pá de cal os poetas ungidos em sânscrito já não falam mais pá de cal. UM POEMA SEM HERÓIS E era tão grave o dia que não se compreendia
e era tão grave a palavra que custava sangue
e era tão grave a menina que chamaram-na poesia
foram os faróis que nunca teve os pais sem direção
a nudez de afetos ruas a dentro
ao longe as ferrovias do avô acenavam sorte
é que já andava a observar vizinhos vestida de poema
verdes foram os anos em que não nasceu
o resto cacos de poesia
e era tão grave ser
que inexistiu. POEMA VERMELHO Sangue no pano da cena Uma navalha risca a arena Homens castigam a terra que os castiga em omissão de águas Cactos suspiram mortos em paisagem assada ao sol de Granada Aqui jaz poeta e personagens Três atos sete quadros vinte e uma covas em matemática andaluz Depois, retirou sutilmente a pele de todos antes de os enterrar Ele os pariu orientou-os em tragédia por tanto pode assassiná-los Espanha anunciada no suicídio vermelho de Lorca CEMITÉRIO DE POETAS Frio azulado o cemitério dos poetas
molha-me os ossos uma chuva ácida cáustica
na terra, Edgar Allan Poe Rimbaud Omar Kayan
um réquiem exausto executa-se por si só no parque
foram anjos foram nada para o barro molhado
o fim dos versos pesa por sobre a bruma em lamentos de Mallarmé
sou vizinha de Lorca posso ler ainda no epitáfio de fumaça
a palavra sangue que cobre a cena em coreografia arrítmica
lá onde dorme Camões onde mar é idioma
onde Dante descansa infernos e propõe silêncio inerte
na tumba de Baudelaire não nascem flores na palavra flor
e eu? apenas bailarino palavras
onde poetas não mais precisam delas. ELKE LUBITZ (1981) poeta catarinense , é pedagoga e escreve nas redes sociais e em alguns sites e blogues. Já foi premiada duas vezes pela academia de letras de Jacareí: em 2013 e 2014. Participa com dois poemas de uma antologia publicada por essa academia. Atualmente atua como empresária e reside em Jacareí, interior de São Paulo. ALINHAVO Na linha da tarde O fio da esperança Costura os vazios. O OUTRO LADO Construo poemas Para ser Lida Do outro Lado: O de Dentro. NUVEM segurei forte tua mão de nuvem até o céu se abrir no entre sopro, - pálpebras do sonho - alisei os vincos, dorso imóvel do teu braço solto na agonia dos dias deambulei em giros, toda ave muda que me calava a espinha ora dor, ora sono... me guardei em ventos - folhas - sobras - ciscos e galguei os prantos, “Os lagos meus, São Tantos “ FOTOGRAFIA Não era Lua, Nem flor... Aquarelas mágicas - Mar e nuvens Tudo ela tinha Nas areias do seu quarto. _ auto retrato Publicado por Rubens Jardim em 14/08/2015 às 00h43
|