28/01/2013 21h22
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (29ª postagem)
GRAÇA VILHENA poeta piauiense, de Terezina, é professora de língua portuguesa pela UFPI e leciona literatura clássica. Integrou a chamada “geração do mimeógrafo” (anos 70), participou da Antologia de poetas piauienses e cearenses e publicou Em todo canto(1997) e Baião de Todos (1996). GUARDADOS Do tio que não conheci coisas que me olham RECADO Não velarei teu sono A noite não é silenciosa FIM DE MUNDO Dentro das casas cadeiras obedientes MONARK aquele menino e sua monark um craque
andava soltando as mãos só com a roda traseira um pé na sela e os olhos em mim
foram as primeiras lições sobre os perigos do amor O SINO DOS SINOS Foi o cafuné VITÓRIA LIMA (1946) poeta recifense, mora em João Pessoa e leciona na UEPB, em Campina Grande. É especialista em literatura de língua inglesa, grande estudiosa de Shakespeare. Seus primeiros poemas apareceram tarde, em 1995, na Antologia Contemporânea da Poesia Paraibana. Dois anos depois publicou o volume-solo Anos Bissextos e, em 2007, o livro Fúcsia. CIGANO DESEJO Meu desejo A pé, descalço, Meu desejo Pega carona no vento, Meu desejo
FANTASIA PARA UMA VISITA AO SUPERMERCADO OPUS 42 São 42 uns passados outros outros os melhores: A PÁTINA DO TEMPO
QUE NEM JAMES DEAN Veio VERA LÚCIA DE OLIVEIRA (1958) poeta paulista, formou-se em letras pela UNESP, ganhou bolsa de estudo para especializar-se na Itália e hoje é professora de literatura na Università degli Studi di Lecce. Publicou os livros A porta range no fim do corredor, (1983). Geografie d’Ombra, (1989). Pedaços/Pezzi, (1992). Tempo de doer/Tempo di soffrire,(1998), La guarigione (2000), Uccelli convulsi (2001)e No coração da boca/Nel cuore della parola(2003). O DIREITO AO ESQUERDO Até prova em contrário Não amassem o corpo de pegadas Não agucem a espera da morte Não contaminem a propensão à luz Naão passem rolo compressor Nas palavras da alma Não decretem que não existe Até prova em contrário O direito ao esquerdo. RUA DE COMÉRCIO Sou poeta da cidade magra TEM PALAVRAS tem palavras que têm cicatrizes GÊNESE DE MIRÓ para Miró o mundo voltou a ser no húmus da tela INFÂNCIA perdi-me em funduras de juntas perdi bichos nas moitas, rastros no escuro perdi mormaços, brisas fui gerando meu pisado vagaroso nas fraturas das coisas A POESIA DÓI DENTRO DE MIM A poesia dói dentro de mim como quando meu pai podava a parreira eu ia vendo caírem e ninguém sabia
GRETA BENITEZ (1971) poeta curitibana, é pós-graduada em marketing e trabalha como redatora publicitária. Tem poemas publicados nas revistas literárias eletrônicas Zunái, Oroboro e Et Cetera. Participou de várias antologias, entre elas Todo começo é involuntário. Publicou os livros de poemas Rosas Embutidas(1999) e Café Expresso Blackbird (2006). BRECHÓ Como me sentia muito entediada, vazia e só fui comprar um coração usado num brechó. Encontrei de vários tipos: lantejoulas, renda, pelúcia, corações de vó (ao lado do pinguim de geladeira) cristal, vidro e madeira corações de freira e um em especial que já havia sido apertado por espartilhos. E foi bem esse que me disse: "Vá em frente, moça. Tudo que você precisa é de um pouco de fé"
CÃES DOS JARDINS Lindos cães dos Jardins Deitados sob as mesas Onde seus donos estão sentados Olhando a cidade que se move Línguas ondulam em caimento perfeito Olhar feito de puro ensinamento Dignidade Honestidade Tudo isso mora Dentro dos cães dos Jardins E sobre a mesa Um café preto, água mineral E um jornal Que contém todo horror do mundo.
MEU HERÓI Pinto as unhas HELSINKI Tudo o que nos une Não é nada óbvio Porém bastante sério O livro sobre o crime A foto tirada em Helsinki Folhas de louro Um sofá de couro (que eu detesto) Lembra do resto? Analgésicos A sorte lida pelo anão Laços de gorgorão E a consumação do incesto. Publicado por Rubens Jardim em 28/01/2013 às 21h22
21/11/2012 14h19
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA(28ª)
LUCIA FONSECA (1940) poeta carioca, formou-se em história natural e trabalhou como pesquisadora em genética. Começou a escrever regularmente no início da década de 70, publicando poemas em suplementos literários de alguns jornais. Invenções do Silêncio (1980) é seu primeiro livro de poemas. Rede Fluvial (1983) veio na sequência e recebeu o prêmio Emílio Moura da Sec. de Cultura do Estado de Minas Gerais. O Paraíso era Antes(2008) é seu último livro. Antes dele, publicou em 2007, Cantares.
Trânsito "Vim para morrer. Trago comigo
NOTURNO II Eu creio em noites RAINER MARIA RILKE Aqui é noite. Definitiva noite como dentro de um fruto. Um peixe que se percebesse só no oceano talvez sentisse medo. E no entanto é só que ele nada o mais das vezes. Aqui é noite. Apalpo sementes no ventre escuro do sono. Tudo é tão quieto, calado, enrodilhado em pelúcia. Que longas, as gestações! O mendigo, o palhaço, o príncipe, o bêbado, o triste se fazem assim, no escuro — só mais tarde, sob as luzes serão coroados. Nessa hora, entre todas, a mais silenciosa, imóveis dormem sonhos e poemas — sementes na bruma. Ouvir-lhes o silêncio, o sono, confiar — eis tudo.
VINHAS DE MAIO Vinhas de maio — de quando madrugam as rosas. Vinhas do fundo mar, de pensamentos de neblina e azul. De neblina e azul teus gestos, as pequenas mãos submarinas. Em vermelho abriste caminho para o mundo, em vermelho te cortaram o cordão. E chegastes do fundo da caverna com uns restos de treva colados à pele, expondo no ventre, por cicatrizar, o sinal selvagem da tua impureza.
Depois ainda te vi lavado, ungido de óleos e essências e vestido de branco, como para secretos ritos. E do berço agitavas os braços como de uma barca pedindo que te salvassem. Mas porque cheiravas a sono e cólica, como um dia cheiraram teu pai e tua mãe, isento ainda do leite, desligado mesmo do nome, porque eras coberto de penugem e tinhas uns restos de asas — eras tu — ah, eras tu salvavas.
ANA MARIA LOPES (1948) embora carioca, a poeta considera-se brasiliense. Jornalista, trabalhou nas TVs Nacional e Alvorada, sucursal de O Globo e TV Câmara. Foi premiada como poeta em 1967(concurso literário patrocinado pela Embaixada de Portugal) e 1981(concurso de poesia promovido pela Editora Abril). Publicou poemas na antologia Poetas Brasileiros Hoje(1995) e lançou o livro de poemas Conversas com Verso(2006).
.COM Eu estou aqui você está aí Se acaso eu vou para aí Você vem para cá Há entre nós, inconteste, um computador – barricada – que nos serve de atalho para a fuga do contato
é o desamor.com
LUA E CORPO Uma lua incerta batia quando em quando seu claro no meu corpo Queria me despir de sua luz procurando o breu. Mas com grande mestria a lua investia seus dedos luminados procurando meus pelos explorando minhas cavernas e sem nenhum barulho dava seu mergulho em águas mucosas. Seus punhais, seus raios jorravam o clarão e pouco a pouco a lua incerta e meu corpo nu se amalgamaram - assim como fazem os astros - e reinventamos a luz.
NÃO ME ACORDE Se eu estiver sonhando não me acorde porque basta uma noite para me manter rediviva uma noite para gerar meu espanto e espantar minha rotina.
Mas se por acaso estiver tecendo as tramas do matutar ou colchoeira enchendo de paina a retina não me chame porque basta um gemido para me acordar.
A PALAVRA Ninguém percebeu a palavra pendurada por um fio Ninguém atinou para seu sentido nem notou que pairava muda sob todas as cabeças. Carregava seus mistérios cheio de sílabas. Ninguém a queria nem (a) prendia E a palavra ficou balançando em postura de enforcado sem traço esclarecedor para perplexidade de todos.
DANIELA GALDINO ( ) poeta de Itabuna, mestre em literatura e diversidade cultural, é professora de literatura na UNEB. Organizou os livros Tessitura Azeviche: diálogo entre as literaturas africanas e a literatura afro-brasileira(2008) e Levando a Raça a Sério(2004), participou de várias antologias e publicou Vinte Poemas Caleidoscópicos (2005) e Inúmera(2012).
INÚMERA Eu tenho a síndrome de Tim Maia. Eu tenho as varizes de Clara Nunes. Eu tenho os vícios de Piaf. Eu tenho a orelha de Van Gogh. Eu tenho a perna que falta ao Saci.
Eu tenho o olfato de Freud. Eu tenho o cansaço de Amélia. Eu tenho o peso de Maria. Eu tenho as dermatoses de Macabéa. Eu tenho a cusparada de Sofará.
Eu sou a linha tênue que une os xipófagos. Eu sou uma interrogação vagando com pressa. Eu sou um insulto atirado à queima roupa.
Eu tenho atalhos ainda não percorridos. Eu tenho palavras desgastadas e nulas. Eu tenho uma voz penífera e cortante.
Eu confesso: sou intrusa, sou inúbil, sou inúmera.
MULHER ABJETA Não sei desenhar não sei fazer conta só entendo de assustar palavras.
Puxo o verbo pelo rabo finco dente no dorso.
Quero des-edificar lares provocar divórcio entre significante e significado.
Aí será o oco da linguagem varrido pelo avesso...
Encosto a boca na orelha dos vocábulos e sussurro: “Deus é a nossa criação necessária”. Eles habitam pântanos de pânicos. Estão prontos para representar meus terrores.
Eu não espero pelo dia em que o meu nome flutuará nas páginas de uma hagiografia.
Não sei qual evangelho rege as impurezas da minha arte.
Eu transbordo excrescências, dúvidas, luminosidades. E... só entendo de assustar palavras.
SAUDADE AMANHECIDA meus pés contêm mapas
ALVORECIDA Acordei com um sol enorme dentro de mim
abrasaram-se os órgãos vitais raios trafegaram minhas veias
borbulharam pensamentos de lama nos lençóis freáticos da memória
o sol tomou conta de tudo expandiu felonias esquecidas
ergueu-se um centenário baobá no terreiro inabitado de mim
o frêmito deste nascimento alimentou espetáculo frondoso:
sombra nas costas do dia vertigem na borboleta.
MARIZE DE CASTRO (1962) poeta potiguar, é formada em Comunicação Social e exerce a profissão de jornalista. Autora dos livros Esperado Ouro(2005), Poço, Festim, Mosaico (1996) e Marrons crepons marfins (1984). Tem textos publicados em revistas nacionais e internacionais e já publicou poemas no Jornal do Brasil, Estadão e revista Poesia Sempre. Foi elogiada por Haroldo de Campos. Néctar A verdade aproxima-se. Não sou a mulher Sou todas elas. – toda quimera. Erma Recolho-me tão profundamente Recostada ao rosto de Deus Ele me deu o mar no nome Solar Muralha Porque me abasteci, estou de volta. Retorno alimentada. Perigosa. Hoje descobri que quando estou dormindo Uma muralha que sempre desejou ser flor. Publicado por Rubens Jardim em 21/11/2012 às 14h19
22/10/2012 11h49
AAS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (27ª)
Mais uma vez, saímos fora do esquema de reunir aqui os poemas de 4 poetas brasileiras. Mas temos boas razões pra isso: Helena Kolody, como tantas outras vozes da poesia brasileira, merece esse tratamento especial. Além disso, está sendo comemorado, este ano, o seu centenário. HELENA KOLODY (1912-2004) poeta paranaense, professora e presença atuante no meio cultural, foi a primeira mulher brasileira a publicar haicais. No seu primeiro livro, Paisagem Interior(1941), entre os 45 poemas estavam 3 haicais. O mais conhecido era este: Arco-íris/ Arco-íris no céu./Está sorrindo o menino/Que há pouco chorou/. Já nesse livro de estréia, com poemas voltados aquilo que está mais oculto em cada ser, Helena conquista o prêmio de poesia no Concurso Nacional dos Homens de Letras do Brasil. Admirada por Drummond e Leminski, deixou vasta e expressiva obra poética, que merece ser conhecida e divulgada. São mais de dezoito livros que foram reconhecidos e aplaudidos por poetas e críticos como Tasso da Silveira, Walmir Ayala, Andrade Muricy e muitos outros. Pra se ter uma idéia da importância e da dimensão da linguagem dessa poeta, ai vai o depoimento de Paulo Leminski, em artigo que aborda o lançamento de Sempre Palavra(1985): “Santa Helena Kolody –padroeira da poesia em Curitiba—acaba de fazer mais um milagre. Chama-se Sempre Palavra; tem apenas cinquenta páginas e uns quarenta pequenos poemas. Mas tem luz para iluminar esta cidade por todo um ano...Helena passou esses anos todos meio intocada pelas novidades que fervilham no eixo Rio-São Paulo, alquimista mergulhando sozinha até a essência do seu livro, até o momento em que, como diz, o carbono acorda diamante”. Felizmente, neste ano de 2012 em que se celebra seu centenário de nascimento, uma série de comemorações e ações culturais procuram resgatar o seu nome e dar visibilidade ao seu trabalho poético. Muitas dessas ações foram desenvolvidas pelas secretarias de cultura e de educação do Paraná. Esse trabalho envolveu a rede de bibliotecas, as escolas e os alunos que puderam realizar atividades de declamação e interpretação de poemas. Foram produzidos, também, livros e cadernos ilustrados com poesias, haicais e frases da autora, murais e trabalhos artísticos utilizando materiais alternativos. Enriqueceu o panorama de homenagens a exposição Helena Kolody 100 Anos, com fotografias, poemas e depoimentos da autora que foram dispostos nas escadas no prédio da biblioteca pública do Paraná. Essa mostra ainda pode ser vista, pois fica em cartaz até o dia 26 de outubro. Outra homenagem foi a apresentação da peça Helena, inspirada na obra da poeta, e que reuniu o dramaturgo Edson Bueno e o Grupo Delírio Cia. De Teatro. Edson teve a oportunidade de conhecer a escritora pessoalmente, e diz que retomou a leitura da obra literária para a montagem. “Fizemos com a preocupação de ser algo lindo e interessante, passar a ideia de quem era ela. Eu a conheci quando ainda trabalhava na Gibiteca, ela tinha um olho brilhante, que parecia de criança. E seu texto tem a simplicidade dos sábios.” Segundo o diretor da Biblioteca Pública do Paraná, Rogério Pereira, “A obra dela tem muita importância, mas é pouco discutida e lida. A imagem foi o que ficou de mais forte, o que de certa forma acabou ofuscando a sua obra, que é muito rica. Ela não era uma professorinha, era uma poeta que se preocupava com as questões da literatura. Temos de desmistificar essa figura romântica que existe sobre ela.” O jornal Cândido, publicado pela BPP, também dedicou capa e parte significativa da edição de outubro ao percurso da autora, com reportagens, depoimentos, poemas, ilustrações, fotos e um importante resgate da participação de Helena no projeto Um Escritor na Biblioteca. No primeiro semestre deste ano, a secretaria de estado da cultura do Paraná lançou a revista Helena, com periodicidade trimestral, que além de fazer referência à civilização helênica, homenageia o centenário de Helena Kolody, talvez a mais importante poeta da história do Paraná, mas que não teve grande destaque nacional. E três escolas de educação especial, no bairro de Santa Felicidade, inauguraram este mês o Circuito Helena Kolody, um trajeto em um pequeno bosque onde foram distribuídos poemas e haicais da poeta paranaense. Está na programação, ainda, a exibição do curta-metragem A Babel da Luz, do cineasta Sylvio Back, feito em comemoração aos 80 anos da poeta. OBRA POÉTICA - Paisagem Interior (1941);Música Submersa (1945);A Sombra no Rio (1951);Poesias Completas (1961);Vida Breve (1965);Era Espacial e Trilha Sonora (1966);Antologia Poética (1967);Tempo (1970);Correnteza (1977, seleção de poemas publicados até esta data);Infinito Presente (1980);Poesias Escolhidas (1983, traduções de seus poemas para o ucraniano);Sempre Palavra (1985);Poesia Mínima (1986);Viagem no Espelho (1988, reunião de vários livros já publicados);Ontem, Agora (1991);Reika (1993);Sempre Poesia (1994,antologia poética);Caixinha de Música (1996);Luz Infinita (1997, edição bilíngüe);Sinfonia da Vida (1997, antologia poética com depoimentos da poetisa);Helena Kolody por Helena Kolody (1997, CD gravado para a coleção Poesia Falada);Poemas do Amor Impossível (2002, antologia poética) PRÊMIOS E HOMENAGENS -- 1985 - Recebe o "Diploma de Mérito Literário da Prefeitura de Curitiba".1987 - Recebe o título de "Cidadã Honorária de Curitiba".1988 - Criação do "Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody", realizado anualmente pela Secretaria da Cultura do Paraná, em sua homenagem.1989 - Gravação e publicação de seu depoimento para o Museu da Imagem e do Som do Paraná.1991 - Eleita para a Academia Paranaense de Letras.1992 - O filme A Babel de Luz, do cineasta Sylvio Back, homenageia os 80 anos da poetisa, tendo recebido o prêmio de melhor curta-metragem e melhor montagem, do 25° Festival de Brasília.2002 - Exposição em homenagem aos 90 anos da poetisa, na Biblioteca Pública do Paraná.2003 - Recebe o título de "Doutora Honoris Causa" pela Universidade Federal do Paraná. POETA O poeta nasce no poema, inventa-se em palavras.
RETRATO ANTIGO Quem é essa
LIÇÃO A luz da lamparina dançava
POESIA MÍNIMA Pintou estrelas no muro e teve o céu ao alcance das mãos.
AREIA Da estátua de areia, nada restará, depois da maré cheia.
PÂNICO Não há mais lugar no mundo. Não há mais lugar. Aranhas do medo fiam ciladas no escuro Nos longes, pesam tormentas. Rolam soturnos ribombos. Súbito, precipita-se nos desfiladeiros a vida em pânico.
JOVEM Suporta o peso do mundo. E resiste. Protesta na praça. Contesta. Explode em aplausos. Escreve recados nos muros do tempo. E assina. Compete no jogo incerto da vida. Existe.
GRAFITE Meu nome, desenho a giz no muro de tempo. Choveu, sumiu.
MERGULHO Almejo mergulhar na solidão e no silêncio, para encontrar-me e despojar-me de mim, até que a Eterna Presença seja a minha plenitude.
JORNADA Tão longa a jornada!
LOUCURA LÚCIDA Pairo, de súbito, noutra dimensão
Alucina-me a poesia, loucura lúcida.
SEM AVISO Sem aviso, o vento vira
uma página da vida
Publicado por Rubens Jardim em 22/10/2012 às 11h49
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. 03/10/2012 13h10
AS POETAS MULHERES NA LITERATURA BRASILEIRA(26)
RITA DE CÁSSIA CAVALCANTE, poeta gaúcha, é professora de literatura em Porto Alegre. Escreve na revista Argumento e no blog pessoal Poética. Participou, em 2008, do concurso literário off flip e foi publicada na coletânea junto de autores já conhecidos como Tanussi Cardoso, Márcia Maia, Mônica de Aquino e Sonia Pereira.
Chega uma hora em que olha no espelho e não encontra mais o avesso
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tudo previsível como uma penteadeira
beijos gastaram todo o batom mas restou o sangue volúpia ardente na página daquele livro respiro o teu perfume quando a noite insiste em se fazer inteira
(gavetas também não escolhem as lembranças)
Bossa
******************************************************* ligação de cobrança caminhão de gás torneira mal fechada construção no quintal ao lado de casa dança mendigo pedindo moeda na calçada corpo pedindo água cachaça música ruim no rádio do vizinho telefone ocupado tu tu tu
A vida é um disco riscado
CLAUDIA CORBISIER , poeta e psicanalista carioca, com pós-graduação em psiquiatria no Instituto de Psiquiatria da UFRJ e na Sorbonne, Paris V, Université René Descartes. Atualmente doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Psicologia da PUC, Rio de Janeiro. Pesquisadora associada do LIPIS. Escreve no blog umdiaumgato.
Quero a vida assim
O SEGREDO APENAS SE ESBOÇA, ******************************************************************** Sou chão. Sangue. Cabelo em pé. Ouvidos roucos. Voz estalada que nem ôvo. Sou pé na estrada. Mão na contra-mão. Moleca de rua. Do olhar atento. Da alma rasgada. Da saia plissada. Do sinal aberto. Do bambolê rodando. Sou mulher comum. Média. Com pão e manteiga.
ADRIANA ZAPPAROLI (1969) poeta paulista, nasceu em Campinas, fez doutorado em farmacologia pela UNICAMP e, em 2007, lançou seu livro de estréia, A flor-da-Abissínia, já tendo publicado seus poemas em revistas impressas, como Etcetera, A Cigarra e Poesia Sempre, e eletrônicas, como Zunái e Mnemozine. Escreveu o e-book de poesia: Erótica. Mantém o blogue Zênite. Rubro cântico
Num momento
Tatue um poema
O olho do tigre
Pisando o chão novamente
VIRNA TEIXEIRA (1971) poeta cearense, nasceu em Fortaleza e reside em São Paulo. Publicou três livros de poemas Visita (2000), Distância (2005), e Trânsitos(2009), participou da antologia Fin de Siècle (2007) e traduziu os poetas Edwin Morgan(escocês), Richard Price (inglês).
NOITE
HYDRA Nas margens da ilha, rochosa redemoinhos de água
onde o monstro marinho?
Havia um banco de frente para o mar Egeu.
A luz tênue ao entardecer outono uma igreja deserta e a fileira de casas, brancas ao longe.
(tinha nove cabeças a serpente)
Na colina, balidos despertam meus pensamentos.
As hidras internas se recolhem.
Um pastor acena.
CHINATOWN da bolsa de mão deixa cair a arma a dupla identidade da assassina
suspense na sala de espelho disparos na sombra, estilhaços
'em shanghai é preciso mais que sorte'
na costa do atlântico um vórtice de tubarões feridos tinge de sangue o oceano
o sol evanesce no poente
RÉQUIEM onze meses depois:
Publicado por Rubens Jardim em 03/10/2012 às 13h10
23/08/2012 13h12
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (25)
LÚCIA SANTOS (1964) poeta maranhense, cursou teatro e ao lado de atores, músicos e poetas, roteirizou e apresentou vários recitais performáticos, como: Batom Vermelho, Eros&Escrachos, Ménage à Trois, Papas na Língua e Nu Frontal com Tarja. Participou de algumas coletâneas e publicou Quase Azul Quanto Blue(1992) Batom Vermelho (1998) e Uma Gueixa pra Bashô (2006), livro de haicais com apresentação da poeta Alice Ruiz. CILADA
EQUAÇÃO
LINGUAGEM
DOMESTICA
SANDRA SANTOS (1964) nascida no Rio Grande do Sul, estreou cedo: com 15 anos publicou o primeiro livro (1º lugar Concurso Literário Centenário SLG, “Crônicas de Minha Cidade” 1979). Desde então, vem espalhando crônicas, contos ou poemas pela web, em antologias, sites ou revistas literárias. Costuma dizer que sua biografia “está na memória de quem esteve comigo”. Métrica meu verso não tem pé não é prece nem lamento
não é tese nem testamento nem tanca nem haicai nem copla nem rubai
nem soneto nem barroco nem balada nem barcarola nem beira-mar
não é satírico nem dramático não é heróico nem didático
não é sáfico não é silva mas é dos santos: batológico bestialógico a brasileirar
O Capote o capote testemunhava o capote vestia um prego enferrujado o capote em luto mudo e o general ................................................................... um anjo soletra meus versos
ao pé, duvido .......................................................................... O melhor poema Ainda será escrito
Não será de luto Nem será de amor
Em tinto sangue Penderá das vinhas
Notas de cabeça Em pergaminhos nus
CHRISTINA RAMALHO (1964) poeta carioca, artista plástica, professora universitária e ensaísta. Estréia em livro com Musa Carmesim(1998) poemas de sondagem do universo feminino. Tem participado de antologias (Versos Diversos e Caleidoscópio), congressos e publicado artigos em revistas especializadas. Outro título de sua obra poética: Laço e Nó (2000). Palco
Oboé O corpo apalpa Mas, de repente, A carne branca Derrama música
CANTO I - CORPO VIAJANTE Aconchego Minha língua me lambe todos os dias gata que me banha de sossego entre sotaques e já sem medos me aninho nas cores de seu aconchego ROSANE CARNEIRO poeta carioca, é redatora, mestre em Literatura Brasileira e integrou diversas antologias.Coordenou encontros poéticos (Ponte de Versos e Poema Expresso) e teve poemas publicados na revista Poesia Sempre. Já publicou Excesso (1999), Prova(2004) e Corpo Estranho (2009). Plataforma Entre a realidade e o que se gosta, toda e qualquer faixa se mostra morta. Não há sentidos nas zonas subterrâneas. Ultrapasse. Esse é o destino. ............................................................................... DO CORPO fazer miséria Corpo e Catedral Vidro que não se restringe ao frágil encontro fosse eu de aço e tudo estaria pronto mas sou areia sólida em puro magma depois daquele gosto estilhacei e só quero a pedra, a pedra, a pedra : meu criminoso
Publicado por Rubens Jardim em 23/08/2012 às 13h12
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