17/04/2015 18h32
AS MULHERES POETAS...(59ª post)Claudia Alencar, Natália Barros,Vássia Silveira e Bianca Veloso
CLAUDIA ALENCAR (1950) poeta paulistana, atriz de teatro, cinema e tv, já publicou dois livros de pesquisas teatrais e lecionou artes cênicas. Publicou 4 livros de poemas: Maga Neón (1988), Sutil Felicidade (2001), 50 Poemas escolhidos pelo autor (2004) e Refinamento e Loucura(2013) Foi militante da ALN e em 1972 foi presa e torturada. MERA INQUILINA Não sou meu corpo apenas entrei nele para meu conforto e confronto Hoje senti esse modus vivendi
Sou mera inquilina Vejo através da retina mas ela não sou eu é simples janela na qual me debruço e estou
Casa não é inquilino Obra de arte não é museu Som não é violino Corpo é só reflexo do Eu
FRONTEIRAS Uma só boca para falar pouco Dois ouvidos para ouvir mais Uma só Alma para viver entre a paixão e o caixão
EVA Não tentes ouvir o que digo tenta escutar o que sou fica comigo ouve meu silêncio Extenso Não te levarei ao paraíso te levarei mais perto de ti ao teu profundo sorriso
A FOTO Mamãe, vestido de seda preto, luxo batom rosa, salto alto Linda Meu irmão, calça curta azul-marinho camisa branca, cabelo à escovinha Eu, vestido curto de florzinha rabo de cavalo, primeira sapatilha Nós três, em casa, no topo da escada Meu pai, embaixo, atrás da máquina Sorria NATÁLIA BARROS - (1963) poeta santista, é cantora, atriz e jardineira. Foi contemplada pelo Proac 2011 de literatura. Fez parte do grupo Luni como cantora e integrou o XPTO como atriz. Já foi reporter da TV Cultura e publicou apenas um livro com seus poemas, mini contos e ilustrações: Caligrafias, em 2012. Cada vez mais : indignada Cada vez mais : romântica Cada vez mais : o êxtase perfura Cada vez mais : a realidade dura
HUMANO Tudo teima em se alterar O de dentro quer sair O de fora quer entrar
Mas se eu não me engano Não seria isso Ser humano ?
IN PETTO Não estou nem sã nem salva Sou alvo sou rubra sou negra Com você fico pendular Confundo os vícios Piso em falso no precipício Inverto a Terra e o Céu Verto águas límpidas e turvas Escapo do cadafalso Feliz-para-sempre no início Fundo uma nova religião Onde o altar é meu ventre Nas minhas orações digo: entre Nas minhas relíquias Guardo saudades E entoando um mantra sagrado Te aguardo
LEPIDÓPTERA Sirvo para nada alguns dias, mas , mesmo nesses dias , estou encarregada de salvar vidas. Especializei-me em ouvir o chamado dos insetos, preferencialmente de borboletas Erráticas na janela, imaginam na vidraça múltiplas possibilidades sem saídas Asa mole em vidro duro, tanto bate até que morre. Se não sou eu. Senão sou eu, senão eu, a iludida. VÁSSIA SILVEIRA (1971) poeta paraense, nasceu em Belém, cresceu em Rio Branco e vive atualmente em Florianópolis. É jornalista, escreve cronicas, e literatura infantil. Febre terçã é seu primeiro livro de poemas(2013). PERGUNTAS Tu me perguntas, e eu digo sim. Deixemos, portanto, que esse orvalho (não precisamos mais que isso). Tu me perguntas, e eu digo sim: O CADERNO No caderno da menina lia-se: Há nas lesmas qualquer coisa de gente e nas pedras uma vontade de sono no caracol um desejo solitário de lar nas plantas rasteiras uma fome de terra e nos fins-de-tarde um cheiro de coisa velha – como velhas são minhas tias, minha avó, minha mãe. E sem saber mais da (i)mobilidade das coisas, a menina fechou o caderno... (ela desconhecia, mas sob seus pés, repousavam asas) FIM DE CENA Quando as luzes apagarem-se E eu ficar a sós, Dividirei com a dor Do instante A silenciosa lágrima Que teimou Em não ser vista.
E rasgarei, até o último fio, As vestes que encobriram Meu fracasso – empilhando, como peças de dominó, Sonho após sonho.
Quando as luzes apagarem-se E eu ficar a sós, Acenderei o cigarro, quebrarei os copos E andarei nua, Sob a tempestade.
TEMPESTADE A tempestade varreu os quatro cantos da casa deixou-a nua, despida das lembranças e dos cheiros.
Dos destroços da ilusão salvou apenas o fino frasco – aquele onde guardou a saudade e o amor tranquilo que arrasta para fora a lama e faz com que os telhados pareçam novamente um lar.
BIANCA VELLOSO (1979) poeta gaúcha, cresceu e vive em Florianópolis. Optometrista por profissão, mãe por opção, escritora por paixão. É também programadora da Rádio Comunitária Campeche. Apresenta o “Sábado Arrastão”, um programa de entrevistas com foco em música e poesia. LEIS DE MERCADO não foi de uma vez só foi pouco a pouco
ela era tão viva tão bonita tão autêntica
espalhava por aí abraços, carícias sonhos, cores, beijos, fantasias e possibilidades
não suportavam vê-la tão leve, tão solta tão cheia de amor
no primeiro dia cortaram-lhe as asas
no segundo arrancaram-lhe as cordas vocais
no terceiro quebraram seus braços e pernas
no quarto perfuraram-lhe os tímpanos
no quinto furaram-lhe os olhos
no sexto invadiram seu território mais íntimo e mais sagrado : o sexo
no sétimo descansaram
agora é tarde a liberdade está morta
RESISTÊNCIA novembro de mil novecentos e setenta e nove primavera no hemisfério sul e era medo o que florescia no jardim lá de casa
diziam que o pior já havia passado mas a gente engolia ideais e vomitava escuridões a gente calava o que sentia
quando aqueles homens cinzas levaram meus pais deixaram no meu peito esta pústula acesa que carrego até hoje
criança exilada da infância : existo, resisto, insisto
O INDIZÍVEL linda feita de azuis
perto dela
o ar
é
r a r e f e i t o
deve ser mar o que ela carrega dentro
quando me abraça sinto o marulhar do mundo
o corpo inteiro vibra
e já não sei mais o que é meu e o que é dela
SOBRE O MEDO medo do escuro não tenho não de fantasma? também não! de corda bamba? precipício? não!
sei acender estrelas inventar sonhos alçar voos o que me mete medo - de verdade - é o mundo das certezas
Publicado por Rubens Jardim em 17/04/2015 às 18h32
25/02/2015 16h25
AS MULHERES POETAS...(58ª POSTAGEM)
KATYUSCIA CARVALHO (1977) poeta pernambucana de raízes e dialeto, nasceu com as águas de março de 1977. É formada em letras e lecionou todo o tempo em que viveu no Brasil, desenvolvendo projetos de inserção de saraus de poesia em salas de aula. Emigrou por amor. Hoje, em terras helvéticas, estuda idiomas e escreve porque não sabe cantar. Um dia encontrarão os fósseis rupestres de uma saliva já extinta
virão tradutores e ólogos e istas
capitalizarão:
[beijos cravejados na rocha]
e os poetas dirão: a fotossíntese da pedra!
as ortodoxias intoxicando tudo implorarão o milagre da obra de uma língua santa:
- uma palavra sua e seremos salvos!
pigmento inteligível para espécies vorazes corroendo caverna sanguinidade de sal
mas que lábios que línguas que linguística guerrilha deixa fendas na fala?
como corpo sem carne a linguagem não cala só o homem sucumbe à ausência de órgãos falência múltipla
na boca nunca insossa do tempo
MOLDURA PARA POEMA Escrevo quadros humanos quadros que não pinto E que não pairam : movimentos sem cenário - Quadris! Meu texto é sempre um corpo
PENUMBRA DA PONTE Não há tela que o prenda ou pincel que o retoque é um rio onde passa uma sede por cima :sede que afoga, e ninguém atravessa
é muito aquém de uma ponte que caia é para além é para longe a perder-se de vista :linha inimaginária
é o prenúncio daquela que não se represa que mora sem muros, mas tem trepadeiras :por onde subir para a copa de um sonho
o que ninguém vê é o exílio em seus olhos não demarca o caminho de volta com pedras :amnésia de mapas
vai ter com uma índia, reaprende a rezar e resigna os búzios às vezes reparte poesia entre monges :mas não se ajoelha
um nômade a ama, com ele copula e compõem heresias no alto da noite :arregalam-se estrelas
Nas duas orelhas adorna risadas e sabe ouvi-las até soluçar estende tapetes à beira de um charco :convite ao que é bento, batismo de barco
dá nome ao rio nomeia com seiva suas iniciais e sabe lhe ser sob a lua estuário :só por isso perene
cabeceira do mundo na margem de lá
FAGULHA DE ESTRELA úmidos, colhidos do sereno isadora duncan germina enxames de têmporas sobre seu corpo
ALE SAFRA( ) poeta paulista, nascida em Santa Fé, publicou em revistas eletrônicas e faz parte do e-book Geração em 140 caracteres. Também teve poemas incluídos no livro É que os Hussardos chegam hoje . Seu primeiro livro, Dedos não Brocham, foi publicado em 2012. Escreve constantemente no blog que deu origem ao livro: dedosnaobrocham.blogspot.com PARÊNTESES essa poesia no silêncio das mãos daquilo que toma, do gesto que suplica e espera
sob as unhas um misto de sangue e terra nos poros saltados dos ossos morros de saudades e linhas inconstantes
há lembranças nessas mãos nos caminhos de nós e atalhos afirmam: toda linha é uma utopia
(na dificuldade não segure nenhuma esperança)
as mãos não mentem mas apenas no que não dá
COISAS DE MENINA ENCERRADA quando a prisão não é real, ela é imaginária? então somos todos prisioneiros?
quis saber mariquinha engaiolada
mas da minha língua presa, da minha falta de entendimento não voou palavra
PERGUNTE AOS PÉS sapatos covas de paisagens memória esquecida do pé pisoteado coração na planta não pulsa, marcha, sem pele
atos bárbaros no rasto sapato enterra. calo cegueira do laço
cada sapato adorna a feiura do trajeto nas rachaduras parede dos pés
do sentir, da razão ninguém perguntou aos pés: onde está sua vontade? em silêncio, lateja deformidades do hábito
na caixa dos sapatos um rascunho da mesma história subserviente
areias repelem sapatos alinhamento raro mente, coração e passo
MAIORIA DA MINORIA sou mulher, negra, gay, árabe, ateia tenho meu rosto desfigurado por ácido, agora, passado e futuro
PRISCILA MERIZZIO (1985) poeta paranaense, é formada em comunicação social, trabalhou como redatora em agências de propaganda e em jornalismo. Colabora com a Germina, Zunái, Eutomia, Mallarmagens, Jornal RelevO, Escritoras Suicidas e PoesiAudível. Publicou recentemente seu primeiro livro: Mínimoabismo, pela Patuá. L’ENFANT TERRIBLE HIGHER THAN ANY OTHER Ouço Lana Del Rey compactuo com espíritos adolescentes que nunca saíram de mim axé de um corpo que não envelhece
o ventilador ricocheteia o ar quente de Francisco Beltrão, Marmeleiro, Dois Vizinhos, Londrina, Maringá, Foz do Iguaçu, Coronel Vivida Presidente Prudente, Camboriú
O interior esmaece a paciência de quem nasceu cosmopolita obriga a fingir que é conivente com o arreio das carolas de corpo gatas velhas d’alma
Anões antropofágicos me cercam sufocam-me com os bracinhos e dentinhos cerrados envolvem os próprios corpinhos em lençóis brancos de OMO
apagam a chave geral de luz caminham por meu apartamento relincham de tanto rir pequenos cavalos de Tróia
Cauterizo as verrugas dos dedos fetos malformados da astronomia unhas pintadas de azul cintilante dichavo diversão e fuga
Lana Del Rey canta Blue Jeans você beberica minha bílis num copo de café pingado intoxica sua asma e úlcera nervosa no estado de São Paulo
os anões praticam nado aquático na caixa d’água do prédio
No Candói um piá despreocupado engravida uma guria de 16 anos
balzaquiana, chupo um picolé de coco e salto do interbairros
REFÚGIO os deuses protegem meu corpo como o tapume circunscreve a catedral gótica
múmias apoteóticas via régia de papiros a.C. refúgio do bardo pagão
na abóbada longe das trincheiras da revolução francesa homens verdes urinam
de mármore, rezas, artilharia e gana faz-se o caos
os deuses protegem meu corpo irrevogavelmente politeísta como os índios costuram palmeiras nas ocas
espectros melífluos batizados no círculo mágico desmistificação de aporias jesuítas poluíram rios amazônicos com água benta botos-cor-de-rosa engravidaram índias com sêmen europeu
os deuses protegem meu corpo com o apetite irascível dos elefantes africanos que acossam as fêmeas
avançam com peso e presas estraçalham carros e pessoas trombas bramindo: “afastem-se do que é meu”.
D. R. Miles Davis incentiva-me a seguir adiante
quanto pensei em você pobre diaba acreditando em palavras que mentem o dia inteiro
esta pequena mesa ao ar livre em que faço, solitária, minha refeição poderia ser um bistrô francês
no lugar dos velhos tarados da vizinhança eu estaria cercada de jovens inexperientes com os cabelos cheirando a cigarro
minha eterna alma de puta velha canta Bethânia enquanto faz peeling e aplica ácido retinoico no rosto
bebo suco de uva como se fosse vinho não posso me render ao álcool nem a outro vício qualquer
foi assim que meu tio morreu navalha de quenga nas costas fingindo fazer amor
falso vinho falso sexo
por puro desânimo adoecemos no pão mofo de cada dia
PEIXE FOR A D’ÁGUA com a facilidade de um soldado que esmaga a queratina de um louva-deus você pisoteou as promessas
chegou a hora de atinar e despedir-me da entressafra de crises existenciais
puxo o fôlego de uma travessia no Canal da Mancha e nado contra a maré
finger-me de boi para pertencer ao rebanho me exaure
MAR BECKER(1986) poeta gaúcha, é formada em filosofia, cursa especialização em epistemologia e metafísica e trabalha como professora. Publicou poemas nas revistas Zunái, Germina, Pausa e Eutomia, no Portal Cronópios e em diversos blogs. Participou da Miniantologia Poética do Centro Cultural de São Paulo, organizada por Claudio Daniel, e publicou Perséfone, plaquete da coleção Poesia Viva. ABREM-SE AS ASAS DOS CABELOS abrem-se as asas dos cabelos, digo-te: rosa (uma trança a se desfazer) -dos- ventos. que mãos bordaram-na?, (o que tu sangras, sussurro. digo-te, ave escarlate, ao pé das pétalas que encalham nos meus ombros como se fossem coágulos de areia, conchas: as pérolas dos brincos). é outono, meu bem; ouve, todas as peles rangem.
AGOSTO – I respinguei no vidro da palavra que fechaste, da janela que em tão pouco, tão perto, se calou dentro de ti. agosto, ainda. muita chuva, (mas nenhuma fresta nos lábios, um sopro, que fosse, nenhum silêncio entreaberto para que à noite meu nome adormeça no teu). respinguei no vidro, no para- peito, o coração logo atrás.
[COMEÇARIA DIZENDO...] começaria dizendo o que não posso que teus suores formam hieróglifos de sal na pele e que um rosário misterioso se enrola a teus pulsos quando me amas começaria dizendo que tua respiração tem vista para o mar e que à noite me debruço ali, silenciosamente meus cabelos de água-viva minha língua de virgem madrepérola e que à noite e que me debruço e morro em tua respiração
O LIVRO ESCURO (I)
Publicado por Rubens Jardim em 25/02/2015 às 16h25
30/01/2015 01h34
AS MULHERES POETAS...(57ª POSTAGEM)
ANA RUSCHE (1979) poeta paulistana, formada em letras e direito pela Universidade de São Paulo. É mestre em direito internacional e doutoranda em estudos lingüísticos e literários em Inglês, ambos pela USP. Publicou os livros Rasgada (2005), Sarabanda (2007) e Nós que Adoramos um Documentário (2010). pq se vc tem o coração de osso o meu é de carne e sangue e se vc tem receio de te roubarem um rim azar pq tenho é dois e eu vou cavalgar vou cavalgar nos relinchos sem focinho pq a noite é monstra é ruminante é soturna e está bem longe de acabar
ANORÉXICAS emagrecer extirpar a última gordura, devolver as costelas emprestadas e desintegrar-se em luz.
OS PAPÉIS e assim ficamos como tudo, como sempre esse ever unfinished business sem a coragem dum chefe da máfia pra te aprontar na rua as vias de facto como tudo e como sempre with so much love esse isso tão difícil, a kind of rush um compromisso com algo mais terrível do que o amor o arrastado passar dos dias
O CORPO É UM CORPO o corpo é um campo de batalha se diz faca diz faça se diz toque diz toca esconde encolhe esconde meu campo é um campo de batalha de apanhadores e quando se dirá amanhecer flauta águas-vivas líquens piratas areia quente e cavalos grávidos de mar? : mais que nada se dirá quando um corpo for um corpo um corpo for um corpo um corpo é um corpo um corpo é um corpo BRUNA BEBER (1984) poeta carioca, nascida em Duque de Caxias e morando em São João do Meriti, sempre afastada dos centros do Rio. Desde 2007 vive em São Paulo. Publicou quatro livros de poemas:A fila sem fim dos demônios descontentes (2006), Balés(2009) , Rapapés & apupos (2010) e Rua da Padaria(2013). SAISON EM ENFER mlle verlaine vai com estranhos como vão as crianças
perturbar os médicos para saber o que é um estetoscópio
mlle verlaine me ama infinito como amam as crianças
mas não quer me ver nem pintado de Londres em 1872
quer me ver dormindo doce debaixo da terra.
NEIGHBORHOODS se o mundo não fosse esse aterro de máquinas barbas pilhas
débitos prazos e canetas marca-texto
medos dúvidas e embalagens tetrapak
se o mundo não fosse um aterro de babacas ou se o mundo não fosse um abrangente e resumido aterro de sinônimos
e se essa rua se essa rua fosse tua eu ia me mudar pra lá.
LUDIBRIO vou enterrar cada parte junto ao rasto impreciso dos mínimos sinais
e sobre cada indício construir um cemitério de notícias
qualquer dia apareça de surpresa como um soluço.
AMARO RIO amar uma cidade é como amar uma mulher
os anéis e os nós de suas raízes arrancados a pente
o tamanho do sorriso e os dentes sujos de feijão
o cheiro e os olhos cor de queimada na estrada num dia de calor
e depois da chuva amar as águas cinzas, depois azuis e as águas mudas
as mãos hoje macias as mãos amanhã secas o doce veneno da convivência
é amar sua natureza completa e só por isso conseguir separar o lixo
amar uma cidade é como amar uma mulher
e esperar que ela acorde viva todos os dias.
RYANA GABECH (1985) poeta paulista, morou em Itajaí e vive em Florianópolis. Artista visual, é formada em Artes Plásticas pela Udesc e mestra em literatura pela UFSC, onde desenvolve trabalhos em poéticas sonora e visual. Publicou seu primeiro livro aos 15 anos: Mar e Avelãs (2001). Vieram depois: A data invisível do poema(2006) Trêmulo(livro-CD, 2008) e Álbum Vermelho (2010). AGUARDE Perto da roupa que mofou
uma ausência
pronta para vestir a incerteza
da sua volta
AVISO Não sou esta perna manchada de sensualidade
Não sou essa mulher que quer pegar você
Não sou a mulher que quer ser consumida por ninguém eu não disse que um dia seria
Não sou a bandida que quer roubar aquilo que veio com você justamente com você de outrem
Não sou essa mulher de batom vermelho e seios e nádegas a mostra
Não quero nada que eu não queira com o meu corpo
Não quero que ninguém me queira por nada por me comprar por me pagar, não sou essa mulher não sei se sou mulher não sei se escolhi estar na vitrine não quero ser amostra
Não sou esta que coloca o zíper na garganta pra alguém vir abrir
se eu quero eu abro
Não sou essa mulher que quer a mais do que quer eu apenas ponho os pontos nos “ is” é você quem não leu direito meu último contexto é você que não entendeu nada porque não quis entender, é você quem não viu porque eu estava presente.
E eu lá posso ser julgada se eu escolhi bem aquele caminho que você jamais traçaria, sem culpa?
eu não sou isto eu sou aquilo que você acha que não pode acreditar que sou
e eu falei muitas vezes, e eu assinei muitas vezes o contrato da verdade
quando errei eu também confessei e eu lá tenho culpa que você tem medo de eu
ser
eu?
BOMBA RELÓGIO Clarice, você removeu apenas uma muleta
Eu, joguei todas as minhas pernas em uma janela folheada a ouro no 12º andar
Estou nua na vida sem corrimão, acesso, botão de desliga bluetooth apple
com apenas algumas aspirações deixo a vida me atravessar
ancorei no deserto e tudo me marcou tanto que fiquei com medo de dizer seu nome
troquei o carro pela moto convenci meu coração a desamar por ser um coração muito viciado deixei a minha própria casa fiquei familiarmente conhecida como louca e braba um bicho solto sorridente e perigoso
Há um vago para onde fujo mas é onde absolutamente já estou
Há anos venho tentando remover as marcas de luta no meu braço
E a agressividade dos meus gestos definem o meu escudo esse mesmo que me impedirá para sempre de cruzar o portal da leveza
o vácuo não há remédio para o vazio
o eco não há respostas para as perguntas que as paredes fazem
para onde não sorri? por onde escapar no caos sem estancar a minha força?
Se é pra viver eu tenho que sonhar
Só isso aqui não me basta.
Virei uma bomba relógio e tenho medo do meu silêncio
implodir.
ONÍRICA Eu sonho tanto penso que estou dormindo.
LARA AMARAL (1986) poeta brasiliense, é jornalista. Publicou alguns poemas na coletânea Maria Clara: universos femininos. Inúmeros poemas de sua autoria têm circulado em espaços das redes sociais: Revista Zunái, Musa Rara, Mallarmargens, Ellenismos, Germina, entre outros. Seus textos podem ser encontrados em http://laramaral-teatrodavida.blogspot.com/ SEM FACE Quando parte alguém que te viu de dentro, finda a possibilidade de um amor
[há poucas, quase nenhuma delas.]
Se resolve ir-se para sempre, rui a promessa: um beijo em cada pálpebra
[não estive perto o bastante.]
Conjurei o instante de roçar os cílios... escapam agora entre meus dedos
[seus cachos sem textura.] LETARGIA Amo como quem morre Não de tanta entrega Mas de deixar-se corroer Para restar o silêncio de um corpo E a falta do sentir
Escrevo como quem vive Reencarnando personagens Possivelmente mais tristes Até que eu seja só partícula De algo que não me reconheça
TESSITURA acomodação têxtil somos um o sofá e eu
anca encaixada em um dos braços de apoio
somos o mesmo na direção a fitar até nesse sentir avesso ao tampar-se com a manta
não de dormir, de assistir ao teto ao rodapé
onde pousa fácil a vista na filigrana raspada da parede
amanhã eu emasso e pinto e saio daqui não enquanto ele e eu cobertos
dos dias evitando o empoeiramento
VERSO INTRAGÁVEL Numa hora dessas eu abriria a porta da rua sentaria ao sereno e fumaria um cigarro
no entanto, sofro de outro vício
acendo um poema
mas ele não me traga nem me larga
deixo-o queimar.
Publicado por Rubens Jardim em 30/01/2015 às 01h34
16/12/2014 19h42
AS MULHERES POETAS...(56ª POSTAGEM)
ANGELA MORAES SOUZA (1955) - poeta carioca, é arquiteta, artista plástica e vive em Florianópolis desde 1979. Participou de Antologias da Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses, do Projeto Literário Delicatta V e das Antologias Digitais: Sociedade dos Poetas Vivos 8 e Poesia para Mudar o Mundo 1. Publicou dois livros de poemas: Palavras Nuas(2002) e Um Fio de Seiva (2009). VIVO SEM CASCA Vivo sem casca e sem tempero. Crua. Sinto meu sabor natural. Sem mel nem sal. Deliciosamente crua.
QUANDO LEMBRO Quando lembro ontem tua mão doce afagando minha face, pergunto: Onde em todos esses anos tu a guardaste?
É LÁ É lá,
JUSTO AGORA Justo agora quando a minha confiança dá as mãos à coragem e caminha a passos certos, pois libertos, tu não me acreditas. E no entanto, um novo rumo está sendo aberto, embora, como tudo, incerto. ROSANA BANHAROLLI (1960) poeta paulista, é jornalista, já foi membro da Comissão de Literatura de Santo André (2011) e trabalha com coordenação e difusão de projetos culturais. Participa de várias antologias e já teve poemas e microcontos publicados na revista Piauí, Portal Literal, Caderno Pragmatha e outros. Foi uma das responsáveis pela criação e realização do 1º Fliparanapiacaba. Publicou Ventos de Chuva (2011) e o livro digital 3h30 ou quase isso (2013). sei das bruxas mas medro vampiros e fogueiras sou mulher e sangro inquisiçoes ..................................................................................... Num mundo ausente De espelhos abismos Labirintos absintos Minha dor é pimenta
Sem dó e devaneios
Minha fuga é no travesseiro Meu sonho é transpiração Troquei a fé pelo remédio
Sou teimosa em pé.
RADIOGRAFIA Tenho no desenho meu avesso
Ele vaza Ele sempre escapa E quando vejo o fosso Me reconheço outrora Do lado de fora
(OR) AÇÃO Vertigens dogmáticas Me levam ao chão Onde lavo meus pecados Em genuflexão ........................................................................................................ No auge de tempestuosa disputa entre o corpo e a alma, o baú, antes só visto através da imagem refletida no espelho, é finalmente aberto e a luz começa a entrar.
A alma quer ser desvelada, e o corpo hesita. IRACEMA MACEDO(1970) poeta potiguar, formou-se em filosofia na UFRN e concluiu mestrado na mesma área na UFPB. Doutoramento foi feito na Unicamp. Alguns anos viveu em Ouro Preto e trabalhou na UFMG. Atualmente, é professora no Instituto Federal Fluminense, em Cabo Frio. Publicou Lance de Dardos(2000), Invenção de Eurídice (2004) e Poemas Inéditos e Outros Escolhidos ( 2010). RÙSTICOS cercas de arame farpado sob a chuva alegria nas pedras do lajedo e nos alpendres fogueira mítica acesa entre escritos rupestres meninos e meninas nus dançando ao redor coice de cavalo, vela acesa dentro da geladeira à gás, açudes de água morna, cactos, carroças estávamos todos lá antes da luz elétrica preparados para perdas e recomeços
UM POMAR NO ESCURO Marimbondos estalando pelo corpo cacos de vidro verde sobre o muro mínimos guardiões desse desejo de furtar teus frutos e desabotoar essas paredes, calhas, luzes, rochedos que dividem e separam minhas chamas das tuas
DANDARA Eu só acreditava em Drummond: O amor chega tarde Não conhecia o amor que fulgura sem aviso esse que se sabe proibido o amor que já se sabe perdido desde o início Eu não acreditava no impossível vinha tão sóbria, tão cheia de medidas não conhecia o esplendor da queda nem a violência dos abismos
IDÍLIO Entre notícias antigas e muralhas construí com você um amor feito alucinadamente de palavras Meus versos seduzem os seus seus versos aliciam os meus Coloquei nossos livros juntos na estante para que se toquem e se amem clandestinamente durante as madrugadas MARIANA BOTELHO( 1984 ) poeta mineira, nasceu na pequena Padre Paraíso, Vale Jequitinhonha. Abandonou o curso de letras “por temer conhecer demais tudo aquilo que amava” e se formou em educação física. Escreve poesia desde os 12 anos e publica seus escritos no blog suave coisa. Estreou em livro em 2010, com O silêncio Tange o Sino, com apresentação do poeta Carlos Vogt. NASCENTE córrego cachoeira ribeirão
eu choro pra pertencer à paisagem
CASARÃO no corredor o vai vem das saias onde eu me agarrei
no quintal o fantasma da mangueira
no canto da sala a cadeira da minha avó onde um dia a dor me esperará
INTIMIDADE um pequeno itinerário de passos uma claustrofobia acariciada gente que todo dia me bate à porta e entrega-me os cílios meus que encontraram na calçada...
o dedinho de uma linda preta com quem dividir os cílios caídos com quem dividir o medo de não sobreviver e de sofrer a violência das crianças na escola.
aquela voz grave todas as manhãs todas as manhãs aquele cheiro só aquele cheiro de capim chovido os olhos negros do meu pai e uma cidade íntima soluçando dentro de mim.
ESTAÇÃO tenho um outono no corpo de onde as coisas caem
vejo doçura nas roupas espalhadas pelo chão Publicado por Rubens Jardim em 16/12/2014 às 19h42
28/10/2014 13h06
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA(55ª postagem)
LUIZA OLIVEIRA ( ) ,poeta baiana, advogada, atriz, bailarina e socióloga. No teatro, já trabalhou com diretores como Antunes Filho e Naum Alves de Souza. Em 2011 lançou seu primeiro livro de poesias, Afetos Transgressores. O segundo, que deve se chamar Da menina que virou bicho está em fase de negociação com editoras. Luiza vive em São Paulo. SEM GARANTIAS pescoço duro febres amarelas sem dinheiro no bolso amarga o dia que chega
roleta russa e os meninos despencam dos morros mato o jacaré engulo o leãozinho
e sou fuzilado em praça pública
AMO... Amo os loucos em suas santidades petrificadas, submersos em mistérios e alucinações. Primitivos, inocentes, sem as cabeças amordaçadas. Desfilam em pontes esgarçadas, sem egos. Como meros figurantes num mundo de estrelas obscuras, decadentes. Em seu vazio ensurdecedor, batem asas salpicadas de louvor. Mágicos da realidade, metamorfoseiam suas dores obscuras em espasmos solitários, dormem em berços enferrujados da hostilidade e do inconformismo.
Amo os inseguros, os deprimidos, os anoréxicos, os medrosos [perdedores, fracos... Enfim, os que não se compactuam com o brilho efêmero, não se deslumbram com as luzes da ribalta, ficam no seu canto, [em sussurros e meditação... únicos! Em suas dores! Sem o vômito azedo do social... Despedidos das luzes da ribalta, se encaminham para a [cachoeira dos solitários, em busca do banho da individuação... Sem persona, sem caricaturas, se espremem na dor, para irrigar o inusitado do acaso, buscando intensidades que se cruzam no acontecer.
Amo a vida. Na sua androginia e bipolaridade... em todas as [suas intensidades. No seu frenesi orgiástico, em seus fluxos insanos e desdita, em sua desesperança e ócio, em sua magia e desencanto, em suas disfunções, na sua escassez de vitórias e em amargas [derrotas, nos seus surtos psicodélicos, em sua desesperança e [ambiguidade, com todas as suas nuances e matizes, como ramalhetes de [flores desfeitos. Na sua cumplicidade e desafetos, com seus enigmas e embates, amo sobretudo, pela sua finitude e infinita generosidade.
VIRA-LATA Chega das caretices e dos puxa saquismos das divindades caídas dos reinos unidos fragmentados dessa porra desse computador
Ai que saudades
das simplicidades sem vistorias de águas paradas, porém, livres e libertas da negra do cachimbo do sertão agreste sem veredas das tabernas de Máximo Gorki
da merda sem parasitas do homem do humano que escarrou e sujou o tempo embaçou os vidros com seu hálito fétido
medidas inexpressivas fazem essa espécie híbrida, incapaz, sonolenta, sorrir. com seus dentes amarelados, cheio de cáries...
eu vou pra Tucumã aliciar meus tormentos dormir com as cabras e fuder com os jumentos
O LEGADO DE MEU PAI um canivete uma calçadeira e uma caixa de moedas antigas
um sonho
no boteco, o seu truco com amigos em boemias
seu brilho no jogo de bilhar sua integridade e seus bigodes a la Bievenido Granda
seus sapatos engrachados suas gravatas listradas e sua amorosidade ímpar
simplicidade, humanidade trejeitos no caminhar suas costas arcadas
pai! pai! eu estou aqui
visto sua camisa e me sinto acolhida em seu abraço e sua candura TELMA SCHERER (1979 ) poeta gaúcha, é mestra em literatura e graduada em filosofia. Atua nas áreas de formação de escritores, criação literária e performance com adultos e crianças. Coordenou o Espaço Educativo da 6ª Bienal do Mercosul. Com o grupo Teia de Poesia, realiza saraus e oficinas de literatura. Publicou Desconjunto (2002),Rumor da Casa(2008) e Depois da Água (2014).Vive em Florianópolis. Onisciente quer dizer: aquele que sabe a ciência de olhar no escuro. Escuro de brumas divisórias, escuro da sombra. Seta que reluz pra dentro. O gozo de se ver nesse espelhjo turvo. E ser sem saber, prque é tateando que se conhece um nascer para saber ter sido. Então clareira. Onisciente quer dizer; nunca esbarrar com uma porta. Abri-la. NÃO SOU CATÓLICA Minha alma vem de outros ancestrais. E são tais, os meus companheiros, que não nos dizemos nada. Nem ais, nem mágoas, nem vaidades e nem anseios. Entendemo-nos. Bater portas, fazer gritos, verter brita no fundo dos olhos, isso não é comigo. Não sou católica, mas minha alma é cheia de Palavras. São elas que brilham depois da escavação. Estar certo não adianta nada. Escavem o certo e o errado, mesquinhos aos olhos de Deus. Deus esquece das mágoas vãs. Porque Deus é maior que o mundo, e menor. Ele sabe de toda a história. Não precisa contar piadas. Deus não precisa levantar a voz.
FRANCIS E A FUGA carrego a pedra de gelo, o paralelepípedo, quase todos os dias. só não sou sincera em momentos de diversão quando juntos difundimos os papeis, partilhamos as publicações, damos pulos no vácuo. durante o resto do tempo sou fria como linhas sobre linhas sobre linhas quase sem espaço em branco. são absurdos os abusos desses ângulos retos a levar pelas calçadas muito comportadamente. francis propõe a fuga pela frase: tudo é ensaio, e às vezes conduzir a nada é que é um algo. faço tanto e tento tudo justo porque os tornados me coabitam e não fujo ................................................................................................................ um aperto de hora e meia pode ser dia inteiro
o sol se intermezza só nos meios
só quem se interessa está inteiro
onde tanto dentro se desmorona ao mínimo vento ALESSANDRA CANTERO(1980) poeta paulista, (nasceu em São Vicente), é licenciada em letras pela Universidade Paulista con Máster em Filologia Hispânica pela Universidade de Sevilha, Espanha. Publicou o livro de poesia Deslocamentos Líricos (2012). sob o peito sombra um som ínfimo fissurando ao infinito gelo dum azul distante e marinho depois de um tempo de mar anzol é âncora
ARGAMASSA pedra sobre lado a lado pedra entalhe desigual atrito ruído encaixe à força de conflito sobre, sob lado a lado frente a frente pedras queda livre noit solta castelo construído pedras firmes frágeis como vidro
ALZHEIMER a casa envelheceu
era imensa qdo pequena
agora não tem cabimento
é toda estreitura e pó
mas foi sim, um dia, e eu me lembro
a casa com todos dentro da minha vó ................................................................................. útil para o desuso eu ñ conservo o pote vazio bonito do iogurte recém consumido me recuso a reutilizar
eu ñ reciclo o lixo eu me reduzo a cultivar sicômoros
eu ñ aguardo eu me recluso em meio a versos livres sem socialidades dialogo com o escuro sujo do mundo perecível sem consertvantes inaproveitável para a próxima e mais perene geração futura com a qual ñ contribuo
pq me salvo como rascunho ANGELA CASTELO BRANCO (1977) mora em São Paulo, é mestre em Educação e membro do Atelier do Centro- SP (espaço interdisciplinar de formação em arte), atua na formação de educadores e artistas. Publicou 3 livros “Orações” (2008) “Oferenda” (2008) e “O que digo, O que me diz” (2009). Desenvolveu a Bolsa de Criação Literária Funarte em 2011. Foi contemplada pelo Proac 2011 de Publicação de Livros pela Secretaria Estadual de Cultura. uma palavra em baixo da outra
página a página
aos poucos a parte de cima distancia-se da parte de baixo
verticaliza-se a fala o pensamento -ascese-
e o sonho corre solto nos braços da horizontalidade
4. Do Inabordável eu já era Nos alicerces da casa de batismo Na maçaneta que destravava os dias a procura pelo fio — o desejo de amar o mundo — 5. Da acídia na encosta da mulher fios desencapados soldam a ligadura Destravo a fome e o fogo se instala em carne viva sou beirada
ESFORÇO Saber o tamanho de um pássaro disponível andar sob a linha de pesca deitar os olhos nas larvas que se enrolam e o que se tem
Adequar o vestido para a ocasião de nascer Nascer agora, sob uma espécie de ventania Empurrando os mortos para os muros, murmúrios
Ócio divino do existir Estudo as horas que se cercam de círculos Ando com o pó de flor cingindo as ruas e sei como duas orelhas se tocam no amor
Era por minha conta: raspar os restos de uma fome real e devolver no cio qualquer prato de abelha quente
Publicado por Rubens Jardim em 28/10/2014 às 13h06
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