21/09/2013 17h16
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (39ª POSTAGEM)
LILIAN MAIAL , poeta carioca nascida nos anos 60, é médica e escritora. Já teve poemas publicados em diversas antologias. Faz parte do movimento poetrix. Publicou Enfim, renasci (2000) SOMBRA Sou o estranho que mais conheço sem meio sem fim Sou meu recomeço. PAGO PRA VER Caminho sobre navalhas afiadas POEMA ESTÉTICO Preciso urgentemente de um poema estético CONFESSIONÁRIO Teus ruídos indecifráveis, teu despetalar, em versos, germinar esperas, fecundar lençóis.
Tua face de entrega, o dorso contorcido, expectativas.
Teu suor recende a pecado, teus olhos, profanação...
Abre a boca, confessa, eu te absorvo! DENIZIS TRINDADE (19 ) considera-se poeta bissexta, é atriz e já fez cinema, teatro e televisão. Desde os anos 80, Denizis é integrante da Gang (o bando poético-performático que segurava o pornô-poema e hoje se apresenta em eventos especiais) e da Dupla do Prazer. Têm 2 livros publicados, Sessão Cabacinho e Book New Look e o inédito Coisa de Pele. GRITO AO INFINITO Não venham me dizer o que sou, o que sinto, como eu devo viver e o que devo fazer.
Não venham condenar o meu modo de ser, de amar e de me expor. Eu faço o meu caminho.
Não venham me ensinar: eu sei errar sozinha. FIM DE CASO É estranho rever você e não reconhecer mais nada
É estranho tocar em você e não desejar mais nada
É estranho ter sentido tudo e não gozar mais nada
É estranho: muito mais que uma porrada: uma faca nas entranhas
mais nada
DISTÂNCIA eu em casa tu na rua
tu de gala eu tão nua
eu na cama tu na lua
tu em outra eu na tua
ANGEL OF LOVE anjo de olhar penetrante mãos divinas, mãos de amante
anjo de boca sedenta sabor de céu e de sexo
anjo de corpo fremente anjo-demônio-gente
pênis faminto, viril alma e voz de poeta
cara, você me liberta me leva ao desvario
e eu me sinto uma santa no cio
DANIELA DELIAS (1971) poeta gaúcha, é psicóloga e professora universitária. Tem poemas publicados no Livro da Tribo, em revistas literárias e no blog de poesia Do Lado de Cá. Publicou seu primeiro livro de poesia, Boneca Russa em Casa de Silêncios, em 2012. MADEIRA há rumores de que o tempo devastou paredes e cercas
que a película da noite não esconde a palidez das roupas e dos fios
há rumores de que as vidraças não contêm os motores tampouco os silêncios
que a madeira cansada contrai, range, geme estende aflita os seus nós
há rumores de que os pés não pesam mais que as partidas TEAR ela tece com fio lilás as rotas do seu olhar
mas quando ele chega ensaia outras cores inventa moda cobre-se de rendas
ele anseia por suas saias e rende-se às suas teias LABIRINTOS esqueço o guarda-chuva recolho os pratos, as flores gemem de frio as sandálias
tonta, invento labirintos nego as lonjuras da noite transito órbitas improváveis
nas curvas de um ideograma a musa estende o braço, a boca
há um nome dentro do meu nome uma palavra que chamo minha PÉROLAS das coisas breves, o peso de pés atados à pedra que tínhamos aqueles olhos de ir ao fundo existir entre mergulhos, querer pérolas
e como sangrássemos sem ver, permanecíamos eu ancorada ao seu silêncio vestida de distâncias e maresia
das coisas belas, o gozo da palavra a morte anunciada naquele estranho dialeto de corpos e poemas impossíveis:
eu quero morrer de amor, ele dizia seu verso atravessado em minha garganta À BEIRA tudo era quase: corpo, corte, lâmina tudo à beira se não distante tudo era perto de
estranha e bela substância em tela de cores decompostas e dores reviradas
tão bruta longe da palavra tão outra e você me lia
de que delicada matéria é feita a poesia? MARIANA IANELLI(1979) poeta paulistana, é mestre em literatura e crítica literária, e colabora como resenhista em alguns jornais. Publicou: Trajetória de antes (1999), Duas Chagas (2001), Passagens (2003), Fazer Silêncio (2005), Almádena (2007) e Treva Alvorada (2010), O Amor e depois (2012) TREVA ALVORADA Absurda leveza que te faz afundar E não é a morte.
Cumpres tua descida calado (Uma palavra por descuido Seria amputar a verdade).
Náufrago do tempo, Tuas horas transbordam. Dentro da lágrima, Imensidão, já não choras.
Estrelas e estrelas, Copulam a sede e o engenho De que te alimentas Como nunca te alimentou O gosto da carne.
Tua face atónita Se existisse uma face, Tuas costas nuas, Se a nudez fosse do corpo.
Um sorvedouro Onde a paz dos contrários, Treva alvorada.
Fecundado, flutuas. É a lei da graça. O AMOR E DEPOIS Era esperado que aos poucos Definhasse, fosse desaparecendo Naturalmente levado pelo sono. Era suposto que por abandono Morresse –
E não teria o vento nenhum sentido De ventura, seria apenas A passagem de uma hora branca, Entre outras tantas, Para um coração manso Que já nada espera nem recorda –
Como se o tempo não devorasse Também o desconsolo, E dele fizesse exsudar um leve perfume, Como se não arrastasse Cada corpo uma penumbra, Como se fosse possível Em vida a paz dos mortos. PIETÁ Por delicadeza Devia cada um resolver seu vestígio, Não deixar o corpo a esmo, Atravessado na passagem, Sem desejo, sem enigma.
Mas se me fica o teu corpo Eu te arrepanho nos braços Com a maternidade do ofício E lavo os teus ombros De quanto pesou sobre eles, O teu sexo, que a nenhum afago responde, Lavo os teus pés, o ato mais santo.
Eu te arremato, eu te limpo da vida, Faço com que desapareças, Que o teu equívoco me abasteça Da razão dos humildes.
Fardo ensoalhado, esse, De amparar o meu próprio destino O ENCONTRO Dá-me um acontecimento E eu nada direi sobre isso. O crime perfeito Será meu segredo Fechado por dentro Em silêncio Como um vício. Face à justiça dos homens Há de me salvar A vida rotineira Entre mil outras tão parecidas. Irei mansamente, Azul sobre azul, Sem que desconfiem. (Quase diurna, eu diria, Não me turvasse o delírio.) E no passeio dos lobos, Teu sangue meu sangue, Para o chão Águas e limites. Repleta do terceiro corpo, Em asa de luz Nada direi sobre isso. De línguas mortas E um tempo morto Farei caixa de guardar Minha fé ilícita.
Publicado por Rubens Jardim em 21/09/2013 às 17h16
03/09/2013 16h39
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA( 38ª POSTAGEM)
LUÍZA MENDES FURIA(1961) poeta paulista, jornalista e tradutora. Publicou seu primeiro livro ainda menina, com 16 anos: Madrugada e Outros Poemas (1978). Participou de diversas antologias coletivas e tem poemas em diversos jornais e revistas. Outros livros de sua lavra: Inventário da Solidão (1998) e Vênus em Escorpião(2001). POEMA-1 Esculpir conchas tão delicadas e diversas é um segredo do mar e dos moluscos.
Fazer versos como quem esculpe conchas um desafio interminável ininterrupto.
XXI Tua língua é chama e pétala na minha boca
Uma orquídea rósea e fulva se alastra no meu ventre
Selvagem e pura no meu corpo te enraízas. .................................................................... Deus é o Poema que todo dia não lemos
Todo dia avançamos uma página
e outra começa assim que a noite se cala.
Deus canta e um pássaro salmodia.
Ensurdecidos passamos em meio a esta babel de algaravias.
Ele escreve certo por linhas tortas.
O texto está em ti.
INFÂNCIA – 3 Porque tudo na vida é passado rebusco-te nas fotos da infância o vestidinho pregueado alguma trança que se desfez ao vento cariciando seus cabelos frios Porque agora é também ontem habitando esparsas latitudes em contração e espasmo o pensamento delineia a sempre mesma busca Ainda hoje um raio claro povoou teu rosto, fragmentou-se em sombras efêmeros detalhes e em teus olhos se firmou como um sorriso frágil a serenar-se em fugaz arquitetura Revisito tua imagem cotidianamente e assim o meu amor se expande em tessituras de voo e altura Porque o passado é um presente que perdura
PAULA GLENADEL (1964) poeta carioca, é professora de literatura francesa na UFF. Teve poemas publicados em antologias no Brasil e Exterior e textos críticos em jornais e revistas. Publicou três livros: A vida espiralada (1999), Quase uma arte (2005), A fábrica do feminino (2008). CRISÁLIDA Agora já não pedes meus nervos em pasto
agora já te afastas crescida em beleza
agora me contas piadas que aprendes ou inventas
agora pressinto tuas asas
QUASE UMA ARTE grande amor tenho por seus membros ombros pescoço braços pernas o viril mais forte do que tudo a mão que estendo sem cessar parece que pede mas oferece nada ou quase uma arte: joga nos dados o olho por olho o dente por dente
O OUTRO, O MESMO é do outro, ventríloqua a voz que articulo mal
flui de mim, vampirizada uma seiva que não volta
em lugar da epifania entra a aparição
sobe ao palco o outro, o indesejado
nem vivo nem morto vestido com minha pele mesmerizada
AÍLA MARIA LEITE SAMPAIO (1965) poeta cearense, é professora universitária. Desde adolescente participa de movimentos literários. Escreve contos, crônicas, poemas e ensaios, que vem publicando esparsamente em jornais, revistas e blogs. Publicou dois livros de poemas: Desesperadamente Nua (1987) e Amálgama (2001) SEPARAÇÃO Deixo teu corpo como quem deixa a pele e em carne viva se expõe ao sol.
Como o filho que deixa a casa, deixo teu corpo em silêncio sem itinerário e só.
Deixo teu corpo como quem abandona o cais e perde-se mar adentro sem medo de não voltar.
Como quem naufraga, deixo teu corpo e minha alma nele nua a dardejar. Como quem se mutila, deixo teu corpo como quem deixa a vida.
AUSÊNCIAS O que me habita é feito de ausências: a casa perdida nos abismos da memória, o amor feito lembranças do que poderia ter sido, a criança que insiste em rasgar o tecido do tempo em que borda sua história. O que tenho são metades, nunca inteiros. Sou feita assim, dessa argamassa vil dos crédulos que sonham sem medo dos interditos e dos desesperos.
NUNCA MAIS Jaz teu corpo. Nunca mais tua boca fará de mim teu alimento.
És um homem morto.
Nunca mais tuas mãos tocarão meu corpo; nunca mais nossos olhos se beijarão em silêncio.
Só o tempo nos unirá um ao outro quando enterrados estivermos na indiferença, no esquecimento.
EM OUTRO TEMPO Há em mim uma casa desabitada perdida no abandono dos ventos que sopram sem direção há portas que batem silenciosas atrás de um adeus sem data, lágrimas nas paredes retintas e trancas enferrujadas nos portais há hera entranhada nas vigas, nos muros e em minha alma, fechando porteiras, lacrando janelas misturando-se ao musgo que no jardim cresceu. Há em mim um silêncio quase sagrado e a memória de um tempo que não é o meu.
CARMEN MORENO (19 ) poeta e escritora carioca, recebeu prêmios em diversos gêneros literários. É contista, romancista, poeta e dramaturga. Está presente em diversas antologias e participa de recitais desde a década de 80. Publicou De Cama e Cortes (1993) e Lojas de Amores Usados (2010). AMPARO Meu pai e sua cela Cotovelos cravados no mármore: vislumbrava o já visto. Vistas revistando a vida como um inspetor insone. Nos ombros, o norte o não e a culpa. Meu pai: calvície e calvário. Frases verticais: chicotes sobre minhas certezas. Meu pai morava no desamparo. Sorte que a casa amparava sorrisos nas frestas da cal - Nas tréguas do caos. E havia alegrias resistentes nos cantos dos quartos, nas rosas das janelas... E havia o movimento dos irmãos, E as mãos da mulher partindo pedaços de pão Para não perdermos o caminho. E havia a vida, avessa à loucura, sendo urdida para nós, Por minha mãe.
CARÍCIA OU DESAMPARO Pedra ou ponte entre nós, a palavra costura, ou aparta-me do próximo. No papel, deitada sobre a página, deflagra-me o Universo. O meu e o do outro. No livro, a palavra não é ímpeto, como no improviso da fala. No livro, revisada, escolhida, oferece-me apenas o perigo da beleza. Que já é bárbaro! O perigo de me impelir à ousada viagem de ver. Ver-me, ver aquele que me escreve, ver aqueles que são criados por quem me escreve. O perigo de ver os mundos fervilhados nas folhas... E não ser mais a mesma. No livro, a palavra só ameaça porque me convida a sair do lugar - a mover-me. A palavra, estirada na página, só pode me oferecer o risco do vôo. E o risco de toda viagem, por mar, terra ou verbo, é sempre o vôo. Portanto, a palavra burilada do poeta, a verve vertida em sílabas, do escritor, é sempre bem-vinda, mesmo quando ameaça. Sobretudo quando ameaça! É brinquedo, mesmo quando bélica. Plástica, mesmo quando revela a feiúra do mundo. Salvadora, mesmo quando mata. A palavra, pregada nas páginas dos livros, em aparente imobilidade, está viva.
Contudo, proferida, às vezes agrupa-se tão ágil que não há tempo de retocar-lhe o rosto. E a verdade brota, abrupta. E a mentira enfeita-se, convicta. Quando proferida, sua ameaça tem natureza diversa da que deleitamos no leito da página. Falada, a palavra encorpa-se, cálida ou bélica. E é carícia ou desamparo. No entanto, uma vez expelida, segue seu curso reto, irrevogável. E atira, sem revólver, talha sem sangue... mata sem vestígios. Mas também tem o poder de socorrer, com sua saliva salvadora, qualquer um de nós que, na dor, encontre alguém com o dom de usá-la como abraço. Qualquer um de nós que saiba valer-se de sua sonoridade para adoçar a língua e salvar alguém. Para salvar-se.
A palavra quando fala, expulsa da boca um corpo invisível. Quando fala, a palavra é carne, é gesto. Mas quando cala, também é forma viva. Disfarçada de silêncio, no fundo do pensamento, às vezes grita seu medo de exprimir-se, parir-se. Grita seus segredos, seu lixo orgânico e suas benfeitorias. Viva, no caos do pensamento, a palavra inventa o futuro, retoca o passado, e ensaia o presente - para vivê-lo. Mas neste trajeto do falar ao ouvir, pode gerar breu ou brilho, conforme o berço preparado para acolhê-la. Quem ouve é sempre co-autor do que é dito. A tradução de quem ouve, seu universo de significados e imagens, sempre ajuda a escrever paz ou guerra. No entanto, há de chegar o dia em que, libertos de escrúpulos e medos, domados pelo afeto, usaremos bem mais a palavra como beijo
AINDA Dizer urgente do amor Ao amante Antes que se quebre O tempo E os ouvidos – Dissolvidos na terra Não apreciem mais A carícia das sílabas
Antes que as mãos Tímidas de dar Cessem de vez Os movimentos E todos os gestos Virem ossos
Dizer urgente ao amigo O valor do vínculo Que só o amigo costura Só o amigo cozeduras Cozimentos cerziduras Que só o amigo estanca Os sangramentos
Dizer urgente do amor Sem resistências Antes que a língua De súbito se cale E o amor – Preso por reticências Maledicências Medos mágoas Role pelos ralos
Antes que o amor Quedado pela foice Faça da palavra não dita Eterno açoite
DESTINO O morto não mora onde o corpo se expõe No último traje Não cessa ali - sob o assédio dos olhos na caixa fria. Jaz, na derradeira vitrine do rito, Apenas a casca oca (que seus sonhos e medos já não guarda). Inútil pranteá-lo, em flores e confissões, Na masmorra de mármore. Sob a lápide, apenas pele e destroços. Sua dor volátil migrou para o invisível, rumo ao sol.
O morto não mora no ossário, Na urna de cinzas prometida ao mar, Nos tesouros que guardava, No quarto que o aguardava. Não cessa no tiro, no corte, Ou quando, amorosa, a morte o elege No sossego da noite.
O morto não morre.
Publicado por Rubens Jardim em 03/09/2013 às 16h39
15/08/2013 13h25
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (37ª POSTAGEM)
ADÉLIA MARIA (1940) poeta paranaense, advogada e professora universitária. Participou de diversas antologias. Estreou em livro em 1963 com a Balada do Amor Que Se Foi. Seguiram-se Nhanduti(1964), Poesia Trilógica(1972), Encontro Maior e Avesso Meu(1990), Infinito em Mim (2000) e Sons do Silêncio(2004). Algumas coletâneas de seus poemas, em edição de bolso, tiveram tiragens raras (tratando-se de poesia): 20, 40 e 120 mil exemplares. POESIA Pássaro arisco, INDAGAÇÃO Vida: jogo de xadrez. Deverei aceitar, resignada, o limitado espaço que me foi r eservado nesse tabuleiro?
CONQUISTA Joguei o laço, ajustei o nó; apertei o espaço e segurei o tempo.
Onde e quando agora não existem.
Basto-me eu só, na insistência em viver...
MEMÓRIA ATÁVICA Em algum lugar deste infinito mistério - que é meu ser -, a emoção primitiva brilha e reflete a memória de todas as eras.
ALINE DE MELLO BRANDÃO(1947) poeta paraense, é médica-neurologista e professora universitária. Já teve alguns de seus poemas musicados e tem colaborado com jornais e revistas do Pará e de outros Estados. Publicou os livros de poemas: Cantiga Geral de Amor (1984 - com o nome de Aline Carreira); Viola d’Água (1986); As Mãos do Tempo (1989) ABSTINÊNCIA Abstenho-me do pão FÊNIX Renascida das cinzas dos vestígios das horas, CAMINHO, SEMPRE CAMINHO Caminho, sempre caminho por velhas novas palavras por grandes pequenos feitos, retalhos do dia-a-dia Atalhos, sempre evitados como recuso calçados. Os pés – desnudos – no chão. Letras brotando na mão. CENA o povo empresta o nome e o pretexto o povo exibe o prato e a fome nua o povo enreda o tema para um samba, o povo aprisionado nos decretos do complicado jogo de esticar mas sendo gente, sangue insubmisso, MIRIAM PORTELA (1954) poeta catarinense, ficcionista e jornalista. Vive em São Paulo desde 1973, é formada pela ECA e durante muito tempo trabalhou em televisão, nas mais diversas funções. Atualmente produz vídeos e documentaries para empresas e tevês. Publicou mais de vinte livros. Eis alguns títulos: O Continente Possuído(1987), No Fundo dos Olhos(1993), Nos Mares de Vênus(2002). LOUCURA Ela olhou-me no fundo dos olhos
GOLES LÚCIDOS ANUNCIANDO ETERNIDADES… Bebo da vida goles basta de alucinações não tenho tempo para embriaguez. Quero restar Sóbria Para não ofender Os instantes. Os anos passam Passaram Eu não os vi Outros gastei-os Com dores fúteis. Assim Transportando Idades Que não vivi. Da vida Apenas goles Lúcidos Anunciando Eternidades.
JURAMENTO Juro nunca mais Resistir à poesia Mesmo que ela Crave suas unhas Em minha pele branca E me abandone Em noite alta Insana e nua. Juro nunca mais Desistir da poesia Mesmo que ela Cubra meu colo De palavras E me obrigue A bordar com elas: Anêmonas Plânctons Cósmicas Redondilhas. Juro nunca mais Me negar à poesia Mesmo que ela dispa da minha alma a lucidez e me deixe infante e tola a rodar. a rodar, a rodar alegremente.
O HÓSPEDE Mora em minha casa MÁRCIA PELTIER (1958) poeta carioca, jornalista, tornou-se conhecida como apresentadora de TV (Manchete, Globo, SBT). Já publicou livros infanto-juvenis, crônicas e poesia. Estreou em 1986 com Poética(mente)-Vida e sobrevida de um poeta. Seguiram-se As Garras do Mel(1989) e As Ilhas de Betacam(1991). TV-VIDA Queria se editar na vida. Tirar os maus pedaços. Enxugar as passagens mal resolvidas. E Fazer a vida em contraplanos perfeitos.
Não deu.
A vida é Ao vivo.
CORDILHEIRA Essa cordilheira que se estende pelo meu corpo Já virou mar.
Como o sertão, Vivo afogada em meus ossos.
INSOLÚVEL Não quero ser ímpar Nem par. Par tem sempre o outro Ímpar não tem ninguém.
Não quero ser direita Nem avesso. Direita exige costuras certas Avesso, costuras corretas.
Não quero brilho Nem opacidade. Brilho fere. Opacidade emburrece.
Não quero nada que me transtorne Nem me torne. Nem cá, nem lá.
Sou assim. Algo meio sem jeito, IN-BETWEEN, No meio do eu e do mim.
NATUREZA O mais espantoso em Betacam É a solidão da natureza. Ilhas com apenas uma palmeira eletrônica Tão longe umas das outras Que não se consegue colocar uma rede! Publicado por Rubens Jardim em 15/08/2013 às 13h25
21/07/2013 11h38
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (36ª POSTAGEM)
ANNITA COSTA MALUFE –(1975) poeta paulistana, jornalista, é mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo e doutora em teoria literária pela Unicamp, onde estuda poesia contemporânea e filosofia. Publicou Quando não estou por perto (2012), Como se caísse devagar, (2008); Nesta cidade e abaixo de teus olhos, (2007); Fundos para dias de chuva, (2004) Quero de volta os pretextos
para lavar as superfícies encardidas
não acredito mais no que dão por feito os outros
prefiro eu mesma laçar
usuras da imperfeição
viver dá nisso
uma certa arrogância necessária
desisto de entediar as palavras
com o gesto monótono da caneta
perco o medo dos abstratos e sigo dizendo
vida amor solidão
e catando as horas
como quem rasga papéis antigos
como quem verte um copo de groselha
na toalha branca de linho da avó
Nêsperas
O que foi que aconteceu conosco?
O que é
que agora
tão distantes
miramos neste casto horizonte
nesperado
que montanhas foram estas que cruzamos
quais foram os andaimes
quais os versos que nos mantêm tão perto
como se os raios de sol no apogeu
pudessem ser capturados
por um instante
só por um
instante
paro
e retomo as pastas de papéis coloridos
de papéis passados
e retomo os panos os enganos
(Poderíamos ter sido
algo
e não fomos?
Poderíamos?
O que poderíamos tanto?
O que tanto quisemos juntas?)
Paro
um instante
diante de teu armazém
e contemplo as rugas de um tempo
imenso
esse que nunca é nosso
e torço para que possamos sempre
nos encontrar aí
neste puro instante sem ponteiros
que tão poucos
- tão poucos mesmo -
sabem onde fica
a verdade é que as malas já estavam prontas
na véspera
ela seguiu junto com ele
uma espécie de viagem sem volta
só a passagem de ida
era a busca por um outro mundo a busca por
algum lugar possível
o mais distante que pudessem ir
apenas a passagem de ida a pouca bagagem
decidir depois onde ficar
as malas já estavam prontas e eles seguiram
sem pressa
eu fiquei olhando de longe
achando bonito aquilo
aquele casal sumindo na neblina
caminhando lentamente
como num filme que não me lembro o nome
como as cenas finais de um filme cobertas pelo letreiro
dois corpos da mesma estatura abraçados
empurrando duas pequenas bagagens
os rostos sorrindo
mesmo de costas
era o que se via mesmo de costas
os rostos sorrindo nos contornos que iam perdendo a nitidez
à medida que avançavam
dos fios desta separação, abre-se uma porta discreta, pequena
quase imperceptível
economizar uma ou outra palavra não faz diferença
são fios longos
um emaranhado de ondas e feixes de luz
não faz grande diferença a geografia das frases
falamos articulando tons e gestos apenas
nada transcorre de fato nas frases
nada nas palavras ou no entre-sílabas
mas fios
um emaranhado que às vezes transparece
às vezes some
um calar de expressões e olhares
a boca entreaberta
um fechar de pálpebras
ao alcance das mãos a maçaneta a porta
uma pequena porta que às vezes transparece
às vezes some
nesse longo emaranhado
de fios
em que se buscam e se perdem
nossas vozes nossos vãos
fios
e uma longa separação
a porta entreaberta
já não posso me conter
as curvas transparecem em meus dedos
a curvatura da maçaneta e a porta
tão pequena, ao fundo
a porta que se abre
a porta e a passagem para fora
ANA ELISA RIBEIRO(1975) poeta mineira, é doutora em Linguística Aplicada e mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais onde também se bacharelou e licenciou em Letras/Português.Publicou Poesinha (1997) e Perversa (2002), além de minicontos e poemas em revistas e jornais, no Brasil e em Portugal. É cronista do site Digestivo Cultural (www.digestivocultural.com).
Peças de madeira em pau-marfim
A linha dos olhos
faz flechas da cor de futuros
As mãos formam conchas
de pegar contentamentos
Os pés são grandes como
as telas holandesas realistas
O corpo inteiro é um tabuleiro
de jogar jogos de azar
As costas quadriculadas
As coxas quadriculadas
A boca quadriculada
Onde eu me finjo
de dama
Antigüidade d’onde viemos
Péricles disse que a maior virtude de uma mulher
Era ficar calada.
Péricles se fodeu.
Péricles, hoje, levaria uma surra
dada por mil mulheres como eu.
Ciuminho básico
escuta
calado
a proposta rude
deste meu
ciúme:
vou cercar tua boca
com arame farpado
pôr cerca elétrica
ao redor dos braços
na envergadura
pra bloquear o abraço
vou serrar teus sorrisos
deixar apenas os sisos
esculhambar com teus olhos
furá-los com farpas
queimar os cabelos
no pau acendo uma tocha
que se apague apenas
ao sinal da minha xota
finco no cu uma placa
“não há vagas, vagabundas”
na bunda ponho uma cerca
proíbo os arrepios
exceto os de medo
e marco no lombo, a brasa,
a impressão única do meu dedo.
ANA MARTINS MARQUES(1977) poeta mineira, é mestre em Literatura Brasileira e doutora em Literatura Comparada pelã UFMG .Em 2007, ganhou o Prêmio Cidade de Belo Horizonte, na categoria “Poesia — autor estreante”, e, em 2008, recebeu novamente o mesmo prêmio, na categoria “Poesia”. Publicou dois livros de poemas: A vida Submarina(2009) e Da Arte das Armadilhas(2011).
ESPELHO
Dentro do armário
do seu quarto de dormir
deve haver um espelho.
Se você sai
e deixa o armário aberto
durante todo o dia
o espelho reflete
um pedaço da sua cama
desfeita.
Se você sai
e deixa a porta fechada
durante todo o dia
o espelho reflete o escuro
do seu armário de roupas,
a luz contida dos vidros
de perfume.
Do outro lado do poema
não há nada.
PAPEL DE ARROZ
Mira:
as coisas construídas oscilam
numa frágil arquitetura
(os papéis cultivados
em campos
guardarão sempre a memória seca
dos dias alagados).
Também as palavras revelam somente o que escondem:
eis a solução de uma questão
delicada.
VASO
Moldar em torno do nada
uma forma
aberta e fechada.
Palavra por palavra
o poema circunscreve seu vazio.
A VIDA SUBMARINA
Eu precisava te dizer.
Tenho quase trinta anos
e uma vida marítima, que não vês,
que não se pode contar.
Começa assim: foi engendrada na espuma,
como uma Vênus ainda sem beleza,
sobre a pele nasciam os corais,
pele de baleia, calcária e dura.
Ou assim: a luz marítima trabalha lentamente,
os peixes começam a consumir por dentro
o sal do desejo,
estão habituados ao sal.
Quando vês, a água inundou os pulmões,
neles crescem algas íntimas,
os olhos voltam-se para dentro,
para o sono infinito do mar.
As mãos se movem num ritmo submerso,
os pensamentos guiam-se pela noite
do Oceano, uma noite maior que a noite.
Tenho quase trinta anos e uma vida antiga,
anterior a mim.
Daí meu silêncio, daí meu alheamento,
daí minha recusa da promessa desse dia
que você me oferece,
esse dia que é como uma cama
que se oferece ao peixe
(você não haveria de querer
um peixe em sua cama).
Quem atribuiria ao mar
a culpa pela solidão dos corais
pelas vidas imperfeitas
dos peixes habituados ao abismo,
monstros quietos
só de sal silêncio e sono?
Eu precisava te dizer,
enquanto as palavras ainda resistem,
antes de se tornarem moluscos
nas espinhas da noite,
antes de se perderam de vez
no esplendor da vida
submarina
DILÁ GALVÃO ( ) poeta amazonense, jornalista e professora da FAAP. Foi repórter, apresentadora e diretora em 1994 e 95 na TV Cultura do Amazonas. Atuou, também, como colaboradora do jornal Folha de São Paulo, de 1997 a 99. É autora do livro de poemas DUVIDA DIVIDA DADIVA(2009).
JAZ
Não me interessa
a poesia, nem
que seja essa:
escrita sem
nada que a valha;
corta-me — não por
dentro — a navalha,
sem contar a dor —
não essa — mas
aquela outra mais
funda que jaz
perene por detrás.
Eurídice 1
Um caminho tão
longo
a perseguir
e depois dizer:
foi tudo
pra
você,
e você
dizer:
eu não
estava ali.
ESQUIVANÇA
Tropeçava primeiro
na escada, depois
em pedras e, por fim,
em palavras.
Dizer por si, assim,
de modo esquivo,
não que se esquivasse
propriamente,
— porque há certas coisas,
(quase todas, na verdade)
não há muito como
deixá-las fora,
deixá-las fora é,
de qualquer modo,
sempre uma esquivança,
e uma esquivança
não é algo que
está, propriamente,
fora, ao largo; a
esquivança seria
mais exatamente
aquele modo
(esquivo) de pôr
fora o que já é
dentro — era esquivar-
-se das metáforas,
tão cedo viessem elas,
que insistiam em
dizer por si. Assim
tropeçava ela: primeiro
na escada, depois,
de modo esquivo,
em pedras e, por fim,
(não que se esquivasse),
em palavras,
propriamente.
Publicado por Rubens Jardim em 21/07/2013 às 11h38
30/06/2013 22h00
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA (35º Post)
ANGELA MELIM (1952) poeta gaucha, vive no Rio onde é escritora e trabalha como redatora, tradutora e intérprete de conferências. Publicou diversos livros, tendo sido premiada pela Fundação Vitae e UBE – União Brasileira de Escritores. Alguns títulos de sua obra poética: O vidro o nome (1974) Das tripas coração (1978) Vale o escrito (1981) Mais dia menos dia (1996, obra reunida) e Possibilidades (2006). Meu pai nos abandonou. Minha mãe casou e mudou. Vovó morreu. Os irmãos sumiram no mundo ou submundo. Sem explicação Yvonne nunca mais falou comigo e, para Ronaldo, sou fantasma do passado. Vejo meus filhos já voando. Nem um pássaro na mão.
FLORES Colho olhos fixos de novo boca seca aberta - o não completo me suspende entre parênteses invisíveis e impotentes no ar parado - de passeio neste campo imperceptível minado que a pasma semântica do absurdo colore de avesso e espanto, flores que explodem ao contrário.
MANIA DE LIMPEZA Raspa de limão cheira seco: assim a lua limpa alto relevo que a letra afixa no papel novo.
NÃO SINTO Não sinto (muito mais) falta nem saudade.
Estou tomando gosto das coisas. Figuras e linguagem. Uma laranja diminutivo sopinha quente um sorriso uma boa chuveirada.
O verão! Como é colorido. Super.
O Rio de Janeiro. Uma viagem. Contradições. Sinônimos.
Que boa a mão da idade.
IZABELA LEAL (1969) poeta carioca, é graduada em psicologia, doutoranda em literatura portuguesa pela UFRJ e professora. Tem ensaios publicados em revistas de literatura e alguns poemas publicados na internet, em blogues de poesia, na Zunái, na Inimigo Rumor e nas Escritoras Suicidas. MARÇO NO CENTRO era o começo de março no centro seu corpo junto ao meu corpo, uma proximidade assustadora. primeiro um sorvete de creme derretia com o calor e as frases que dizíamos escorriam sobre os livros do andar de baixo. confissões de chocolate. depois pedimos um café e eu olhava espantada uma palavra que se debatia no líquido escuro. pensei em socorrê-la com a colher, mas logo vieram outras palavras e mergulharam no copo d´água. (na mesa a margarida inclinava-se) era tudo tão claro, apenas aquela palavra turvava a nitidez do dia. olhei novamente e ela jazia no fundo da xícara, imóvel.
PAPO NO CAFÉ e foi assim mais uma vez enquanto tomávamos café uma abelha ameaçava nossa fatia de bolo e você falava das teorias da física quântica da força atrativa dos buracos negros da massa comprimida das anães brancas e agora já eram duas abelhas — a primeira afogada num resto de mate — e você falava que a idéia de deus é congênita e falava também da teologia negativa da teologia positiva e da teologia neutra — abanei o bolo e a abelha entrou na cesta de lixo — falava dos discos voadores dos seres interplanetários dos enigmas egípcios incas maias e astecas queria saber a minha opinião eu ruminava um pedaço de bolo e tudo aquilo me deixava tão cansada
IPANEMA EM RESSACA há um clamor marinho no movimento das ondas despedaçadas contra as pedras do arpoador resíduos de uma cólera branca furiosamente em direção ao céu
tuas palavras acima das nossas cabeças negras junto às gaivotas escoavam pelo vão das pupilas e eu desejava um tratado de retórica um livro de oratória um manual de eloqüência ou qualquer fórmula mágica
ouvia-se ainda a veemência do mar e no entanto era preciso riscar um fósforo no silêncio anterior no silêncio ancestral além do batimento de lábios e pálpebras
já era a hora quando o ambulante se aproximava com pequenas flores de plástico balbuciando alguma coisa num idioma incompreensível já era a hora em que as palavras - emaranhado de sons - em que as palavras à deriva se despedaçavam contra as pedras do arpoador
NO FUNDO DA PUPILA o atrito dos olhos aprisiona imagens no fundo da pupila. cativas figuras de sombras e sangue arranham a córnea, seres minúsculos forçam passagem pelos trilhos lacrimais.
um cisco irremovível.
e são comboios de corda por dentro da noite veloz. nervos impulsionam barcos na extensão da pele.
ao redor do quarto a gravidade cega e pulsante. lâmina de guilhotina. não há perigo - somente o terror dos encarcerados - até que a tempestade desabe sobre o corpo. bastam bocas e mãos para cerrar as pálpebras.
ADRIANA LISBOA (1970) poeta carioca, romancista, contista e autora de livros infantis. Morou na França, passou algum tempo no Japão e vive nos Estados Unidos. Entre seus principais livros estão os romances Azul-corvo e Sinfonia em branco. Publicou poemas em algumas antologias. Seus livros foram publicados em doze países. POR UM INSTANTE DE PENUMBRA Há sol demais por aqui. As sombras expatriam-se dentro das coisas, sem uma chance. A luz é cáustica, esta luz de inquérito sob a qual o preso não tem outra alternativa. Você optaria por um mundo em claro-escuro, mas tudo se revela (pior: se demonstra, como num laboratório, como no corpo aberto de uma cobaia) com enorme zelo e não admite perfis, murmúrios, vislumbres. Essa luz medonha que se esfrega na sua cara – o quanto você não daria por um instante de penumbra. Por um segundo de indecisão.
POESIA Pense nela como o dedo cavando a fresta onde há ainda uma pequena chance, algo semelhante à colher numa cela de presídio investindo contra o chão de barro: um túnel, a vaga ideia de liberdade.
BLUE SUNDAY Não me lembro se foi on a blue Sunday, como cantava Jim Morrison em nossos ouvidos. Nem sei quantos atalhos tomamos, depois – o herói de Truffaut é hoje um cara sério, e nós, que o conhecemos da época dos nossos quatre cents coups, das nossas tardes sem nenhuma urgência debruçados sobre o Rio, em meio aos turistas, envelhecemos também. Sei que não disparam os alarmes por nós: não somos nem mesmo vaga ameaça. Mas nesse oco mal vedado que ficou, sigo mendicante, e carrego meias-luas sob os olhos enquanto aguardo os tempos mais brandos anunciados na canção.
ANDRÉIA CARVALHO GAVITA(1973) poeta curitibana, estudou ciências biológicas e produção multimídia. Atualmente trabalha com farmácia hospitalar e web design. Tem poemas publicados na revista eletrônicas Zunái, Germina e Eutomia..Publicou os livros de poemas A Cortesã do Infinito Transparente(2001) e Camafeu Escarlate (2012). Edita o blog o hábito escarlate, http://habitoescarlate.blogspot.com/ CASA DE ORAÇÃO nosso cálice nossa hóstia nosso altar não cabe na gota vermelha furtada da última ceia de salivas derramadas no vazio cravejado dos passos que não ousamos pronunciar andrógino rebelde de nossas portas perdidas, afasta de nós esta lástima de entornar o graal de jejuar o pão de ser o rio sedento de esquecimento na fome secreta das chaves e deixa-nos no templo na transfusão de nós solve et coagula
INDEX LIBRORUM PROHIBITORUM Conhecer-te Foi feito abrir um livro antigo Sabe-se das literaturas seculares Que nos serão reveladas No dia de um trígono celeste pardo E era noite, Quando os olhos são tochas de candelárias
AMADEO reina a mão em minha pele amadeo e leve com ígnea prece a lamúria da injúria-veste em breu ao cremado manto enfloresce lírio negro amadeo a palma do sudário santo em domínio ateu doutrinado orvalho já devolve à mortalha cortejada o toque amado de um deus
ABRE-TE CÉSIO o céu é sempre azul na dormência aquecida da sessão das dez os diamantes estão soterrados muito longe da placenta dos vulcões da parteira terra nos cofres da sapiência eclesiástica ah partitura de repetidas eugenias somos espécimes preciosos em teus museus bem acondicionados na tenda dos milagres do circo de nero respirando o bolor dos livros sagrados a pele esverdeada das condecorações ah suástica ah ansata ah rosa obscenamente atarracada na cruz nos deixem de vez na insígnia vazia do ícone maior de uma bíblia de safira ainda não escrita abre-te césio teus olhos nirvana sobre nós não nos deixe estáticos em frente à TV como se não pudesse nos ver Publicado por Rubens Jardim em 30/06/2013 às 22h00
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